Google responde ao sucesso do ChatGPT e lança o Bard

Nova ferramenta estará disponível nas próximas semanas

Pressionado pelo sucesso do ChatGPT, o Google anunciou nesta segunda-feira, 6, que finalmente vai disponibilizar publicamente o seu chatbot inteligente, batizado de Bard. O serviço será disponibilizado nas próximas semanas, segundo a companhia.

O Bard será alimentado pelo LaMDA (Language Model for Dialogue Applications), chatbot do Google que fez barulho no ano passado quando um engenheiro da companhia afirmou que o sistema tinha desenvolvido consciência, algo refutado tanto pela empresa quanto por especialistas.

Em um post no blog da companhia, Sundar Pichai, CEO do Google, disse: “O Bard busca combinar a amplitude do conhecimento mundial com o poder, a inteligência e a criatividade de nossos grandes modelos de linguagem. É baseado em informações da web para fornecer respostas novas e de alta qualidade”. É uma indicação de que o serviço terá informações atualizadas – o ChatGPT foi treinado com dados até 2021, o que atrapalha na qualidade de suas respostas, principalmente em relação a temas atuais.

Inicialmente, o Google afirma que o Bard terá uma versão mais leve do LaMDA, o que permitirá torná-lo mais acessível a um público maior. Uma das dificuldades do ChatGPT é a alta demanda de recursos computacionais. O serviço atualmente fica inacessível devido à alta demanda.

Busca mais inteligente

Além do Bard, o Google vai incluir a tecnologia do LaMDA em sua ferramenta de buscas – nos últimos meses, o mais tradicional produto da companhia passou a ser ameaçado não apenas pelo ChatGPT, mas também pelo TikTok.

“Quando as pessoas pensam no Google, muitas vezes pensam em nos procurar para obter respostas factuais rápidas, como ‘quantas teclas tem um piano?’ Mas, cada vez mais, as pessoas estão recorrendo ao Google para obter insights e entendimentos mais profundos – como ‘é mais fácil de aprender piano ou violão e quanta prática cada um precisa?’ Aprender sobre um tópico como esse pode exigir mais esforço para descobrir o que você realmente precisa saber, e as pessoas geralmente desejam explorar uma gama diversificada de opiniões ou perspectivas”, diz o post no blog da companhia.

Isso significa que as buscas do Google vão tentar digerir tópicos mais complexos em um formato supostamente mais simples de compreender. A ideia da ferramenta não é apenas listas links, mas oferecer algum tipo de resposta. A mudança de paradigma em como as pessoas fazem buscas (de índice de links para respostas certeiras) acendeu a luz amarela do Google, quando outros concorrentes passaram a oferecer isso.

O Google não deu data, mas diz que a atualização das buscas ocorrerá “em breve”.

O Google também anunciou que vai disponibilizar, a partir do mês que vem, APIs para que empresas possam utilizar o LaMDA e desenvolver aplicativos com IA. A oferta (e cobrança) de APIs para o mundo corporativo deverá ser também uma via de negócios para o ChatGPT.

Pressão na corrida por IA

Embora tenha desenvolvido o Transformers, técnica em inteligência artificial (IA) usada amplamente na indústria (incluindo nos modelos da OpenAI, dona do ChatGPT), o Google saiu atrás do concorrente – a popularidade do ChatGPT furou a bolha e tornou a inteligência artificial gerativa num dos principais assuntos do momento no mundo da tecnologia. O principal temor do Google era o uso irresponsável e eventuais erros de uma ferramenta como o ChatGPT, caso fosse lançada apressadamente.

“O custo seria alto caso algo desse errado”, teria dito Sundar Pichai, de acordo com a rede americana CNBC. O episódio do engenheiro que acreditou na consciência do LaMDA reforçou os temores da gigante. No passado, sistemas de IA disponibilizados abertamente ao público já protagonizaram episódios de racismo e antissemitismo – a questão de viés é um dos grandes desafios para todo o segmento de IA, já que as máquinas são treinadas a partir daquilo que aprendem de humanos.

“O LaMDA nasceu polêmico e isso foi bom, pois expôs a supervalorização de modelos dos modelos de linguagem ampla (LLM). O Google foi responsável por não fazer a abertura anteriormente. As pessoas ficaram maravilhadas, mas há riscos”, Fernando Osório, professor da USP São Carlos. Entre eles estão qualidade de conteúdo, ética e explicabilidade.

“É fundamental trazermos experiências enraizadas nesses modelos para o mundo de forma ousada e responsável. É por isso que estamos comprometidos em desenvolver IA de maneira responsável: em 2018, o Google foi uma das primeiras empresas a publicar um conjunto de princípios de IA. Continuamos a fornecer educação e recursos para nossos pesquisadores, fazemos parceria com governos e organizações externas para desenvolver padrões e práticas recomendadas e trabalhamos com comunidades e especialistas para tornar a IA segura e útil”, disse o Google no blog.

Porém, com o avanço da OpenAI, que será parceira da Microsoft, o Google decidiu aliviar sua cautela – “o Google foi forçado a entrar na corrida”, afirma Osório. Segundo o New York Times, os avanços da OpenAI tiraram da “aposentadoria” Larry Page e Sergey Brin, os dois fundadores do Google. Fora da operação da companhia desde 2019, a dupla estaria acompanhando de perto o desenvolvimento em IA. A reportagem afirma que mais de 20 produtos com a tecnologia devem ser demonstrados.

“A entrada do Google é muito impactante porque ninguém tem os dados que a companhia têm sobre qualquer coisa”, diz Anderson Soares, coordenador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG).

No último balanço da companhia, Pichar disse: “Nossos investimentos em computação profunda nos deixam extremamente bem posicionados em um momento que a IA atinge um ponto de inflexão e estou empolgado com o que estamos prestes a apresentar em buscas”, escreveu. A companhia, que nos últimos seis anos se reposicionou como uma empresa de IA, reforçou o foco no relatório.

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