Google limitará compartilhamento de dados em dispositivos Android

O Google informou na quarta-feira (16) que está trabalhando em medidas de privacidade destinadas a limitar o compartilhamento de dados em smartphones que executam seu software Android. Mas a empresa prometeu que essas mudanças não serão tão perturbadoras quanto uma medida semelhante tomada pela Apple no ano passado.

As mudanças da Apple em seu software iOS nos iPhones pedem a autorização dos usuários antes de permitir que os anunciantes os rastreiem. Os controles de permissão da Apple –e, em última análise, a decisão dos usuários de bloquear o rastreamento– tiveram um impacto profundo nas empresas de internet que construíram negócios com a chamada publicidade direcionada.

O Google não forneceu um cronograma exato para suas mudanças, mas disse que apoiará as tecnologias existentes durante pelo menos mais dois anos. Este mês, a Meta, empresa fundada como Facebook, disse que as mudanças de privacidade da Apple custariam US$ 10 bilhões este ano em receita de publicidade perdida. A revelação pesou no preço das ações da Meta e gerou preocupações sobre outras empresas que dependem de publicidade digital.

Anthony Chavez, vice-presidente da divisão Android do Google, disse em entrevista antes do anúncio que era muito cedo para avaliar o impacto potencial das mudanças do Google, que visam limitar o compartilhamento de dados entre aplicativos e com terceiros. Mas ele enfatizou que seu objetivo é encontrar uma opção mais privativa para os usuários e, ao mesmo tempo, permitir que os desenvolvedores continuem gerando receita com publicidade.

Como os dois maiores fornecedores de software para smartphones do mundo, Google e Apple têm uma influência significativa sobre o que os aplicativos móveis podem fazer em bilhões de dispositivos. As mudanças para aumentar a privacidade ou fornecer aos usuários maior controle sobre seus dados –uma demanda crescente de clientes, reguladores e políticos– têm um custo para as empresas que coletam dados para vender anúncios personalizados de acordo com os interesses e dados demográficos dos usuários.

As mudanças do Google e da Apple são significativas porque a publicidade digital baseada na coleta de dados dos usuários sustentou a internet nos últimos 20 anos. Mas esse modelo de negócios está enfrentando mais desafios à medida que os usuários ficam mais desconfiados sobre a coleta de dados de longo alcance em meio à desconfiança geral das gigantes tecnológicas.

A diferença de abordagens entre a Apple e o Google também mostra como cada empresa ganha a maior parte de seu dinheiro. A Apple gera a maior parte de sua receita com a venda de dispositivos, enquanto o Google fatura principalmente com a venda de publicidade digital e pode estar mais aberto a considerar as necessidades dos anunciantes.

O Google disse que planeja trazer sua iniciativa de privacidade, Privacy Sandbox, que se limitou principalmente a reduzir o rastreamento no navegador Chrome da empresa, para o Android –o software mais usado no mundo em dispositivos móveis. O Google foi forçado a reformular sua abordagem para eliminar os chamados cookies, ferramentas de rastreamento, no Chrome, enquanto enfrenta a resistência de grupos de privacidade e anunciantes.

O Google disse que está propondo algumas novas abordagens voltadas para a privacidade no Android para permitir que os anunciantes avaliem o desempenho de campanhas publicitárias e exibam anúncios personalizados com base em comportamento anterior ou interesses recentes –além de novas ferramentas para limitar o rastreamento oculto por meio de aplicativos. O Google não deu muitos detalhes sobre como essas novas alternativas funcionarão.

Como parte das mudanças, o Google disse que pretende eliminar o Advertising ID, recurso de rastreamento do Android que ajuda os anunciantes a saber se os usuários clicaram em um anúncio ou compraram um produto, além de acompanhar seus interesses e atividades. O Google disse que já permite que os usuários desativem os anúncios personalizados removendo o identificador de rastreamento.

A empresa disse que planeja eliminar identificadores usados em publicidade no Android para todos –incluindo o Google. Chavez disse que os próprios aplicativos do Google não teriam acesso especial ou privilegiado a dados ou recursos do Android, sem especificar como isso funcionaria. Isso ecoa uma promessa que o Google fez aos órgãos reguladores da Grã-Bretanha de que não daria tratamento preferencial a seus próprios produtos.

A empresa não ofereceu um cronograma definitivo para a eliminação do Advertising ID, mas se comprometeu a manter o sistema existente por dois anos. O Google disse que oferecerá versões prévias de suas novas propostas aos anunciantes, antes de lançar uma versão de teste mais completa este ano.

https://www1.folha.uol.com.br/tec/2022/02/google-limitara-compartilhamento-de-dados-em-dispositivos-android.shtml

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