Globo usa IA, mas o protagonismo é da criatividade humana

A Globo está ampliando a captação de conteúdo audiovisual de criadores e produtores individuais independentes no Brasil e já está usando inteligência artificial (IA) em séries e novelas, mas reforça que o protagonismo é da criatividade humana.

Em breve a empresa lança uma plataforma de conteúdo audiovisual de criadores e produtores individuais no país, complementando a plataforma Script, voltada a produtoras brasileiras, informou Amauri Soares, diretor dos Estúdios Globo, TV Globo e Afiliadas, nesta quinta-feira (11). “Vamos expandir essa abertura porque estamos muito interessados em faz

O diretor-presidente da Globo, Paulo Marinho, reforçou o compromisso da empresa em ampliar a produção de conteúdo no país. “Quero reforçar o compromisso da Globo com o mercado brasileiro, o conteúdo nacional e na nossa crença de contar histórias de brasileiros e para brasileiros no mundo”, disse Marinho. 

“A Globo vem, diferentemente do que se tenta propagar, investindo mais em produção e conteúdo ao longo dos últimos anos, em investimento financeiro, em volume de produções próprias e em parceria com o mercado”, completou o executivo. 

Neste ano a empresa vai produzir 33 mil horas de conteúdo, de entretenimento, esporte e jornalismo, sendo 35% da produção em parceria com o mercado, disse Soares. A projeção inclui 450 programas regionais em parceria com produtoras locais, e 180 debates entre os candidatos às eleições municipais em todo o país. “Quando a gente olha para o mercado, a possibilidade de produção é infinita”, notou Soares. 

Um exemplo de novos formatos de colaboração, segundo o diretor dos Estúdios Globo, foi um “pitch” (uma apresentação verbal resumida de projetos) com produtoras de conteúdo para avaliar 30 novos projetos audiovisuais de humor voltados aos canais de TV aberta, paga e vídeo sob demanda. A empresa também criou, recentemente, núcleos de programas de auditório, para avaliar novos formatos, bem como núcleos de filmes e de documentários, em parceria com produtoras independentes. 

A produção nacional gerada internamente pela Globo e por parceiros, representa 75% dos conteúdos exibidos pela plataforma Globoplay, de vídeos sob demanda, disse Manuel Belmar, diretor das áreas de finanças, infraestrutura, jurídico, produtos digitais e canais pagos da Globo. “Particularmente, nasci em um berço de parcerias das mais diversas formas”, comentou o executivo, que assumiu em fevereiro as áreas de produtos digitais e canais pagos da empresa. 

No primeiro trimestre, o consumo de vídeos no Globoplay alcançou 1 bilhão de horas, alta de 50% em relação ao volume registrado em igual período do ano passado. Em todo o ano de 2023, 3 bilhões de horas de conteúdos foram consumidas na plataforma de streaming da Globo. 

A entrada da IA generativa na produção audiovisual também foi discutida durante o evento. Aplicações de IA já vêm sendo adotadas pela Globo para acelerar a inserção de recursos em séries e novelas como a audiodescrição, ferramenta que traduz imagem em palavras e ajuda, por exemplo, pessoas com deficiência visual, e o áudio imersivo, que permite uma experiência sonora tridimensional, com o usuário imerso no som. 

A inovação apresentada pela IA, no entanto, requer responsabilidade, ponderou Manoela Zózimo, coordenadora de pós-produção da Globo, no painel “IA e novas tecnologias”. 

Com a ajuda da IA, a empresa acelerou a inserção do recurso de audiodescrição em 40 episódios de séries exibidas na plataforma de streaming Globoplay. E também aplicou o padrão de som imersivo Atmos nas três principais novelas exibidas atualmente na programação da TV aberta (novelas das 18h, das 19h e das 21h). “Com essa escala, sem a IA, não seria viável”, disse Zózimo. 

O uso da IA generativa em pesquisas avançadas dentro de vídeos, itens de cenografia e campanhas de publicidade foram exemplos práticos mencionados por Fernanda Jolo, líder do time técnico de IA do Google Cloud na América Latina. “Podemos informar ao anunciante em que momento exato foi feita a inserção [de um anúncio] ou quanto o narrador citou a marca durante um jogo”, citou Jolo. 

A inovação acelerada da IA no audiovisual exige cautela, ponderou Zózimo. “Uma coisa é a ferramenta, mas o potencial criativo é nosso”, frisou. “A palavra de ordem é responsabilidade”.

Para quem está imerso no processo criativo como o autor George Moura e o diretor Fabio Mendonça, que também participaram do painel, a IA ainda é um recurso de planejamento, mas não faz parte da criação. “A gente paquerou um pouco a IA para construir o sertão”, contou Moura, autor da nova série “Guerreiros do Sol”, situada no sertão nordestino. A IA foi aplicada nas referências para a composição e a construção dos cenários do sertão, nos estúdios de gravação, mas nas oficinas de preparação dos atores “levamos o elenco ao sertão real”, frisou o autor. 

Mendonça, diretor da produtora O2 e da primeira temporada da série “Cangaço Novo”, exibida na plataforma Prime Video, contou que usa ferramentas de IA para ajudar no planejamento, quando está “trabalhando com a razão”. O diretor previu usos futuros da IA como montar personagens com atores conhecidos. “Posso querer fazer um filme com o Nicholas Cage, comprando a versão de IA do ator.” 

O potencial da IA generativa foi visto na abertura do painel quando a jornalista Aline MIdlej, apresentadora do Jornal das 10, na Globonews, interagiu com Lígia, um avatar realista criado pela equipe de tecnologia da Globo. 

Moura acredita que o uso da IA não deve ser ignorado, mas que não substitui a criatividade humana. “O desespero daquela página em branco a ser preenchida, tem que ser [resolvido] com a sua cabeça, porque se for dada a tarefa a uma máquina, percebo que essa criação será amorfa.” 

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