Geração Z marca virada digital em investimentos

Se você tem mais de 30 anos e se sente um pouco jurássico ao ver o seu amigo de trabalho, muito mais jovem, usando a tecnologia como se tivesse nascido com um tablet na mão, acalme-se, você não está sozinho. Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em parceria com o Datafolha, sobre o Raio X do Investidor Brasileiro mostra que a Geração Z (entre 16 e 25 anos) marca a virada definitiva das pessoas para os canais digitais financeiros.

Para se ter ideia, 40% dos entrevistados dentro desse intervalo de idade usam canais digitais (como aplicativos de bancos e corretoras, sites de notícias, fóruns on-line e blogs) para buscar informações sobre investimentos. Esse percentual vai caindo à medida que a idade aumenta. Entre os Millenials (entre 26 e 40 anos), essa fatia já fica em 32% e entre a Geração X (entre 41 e 60 anos) é menor ainda, 22%. 

“Esses números mostram que os bancos têm um desafio e tanto pela frente para atender esse novo público que é muito mais plugado e atualizado”, diz Marcelo Billi, superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da Anbima. 

Mas se engana quem acha que a entrada dos mais jovens no mundo financeiro e bancário será o fim dos assessores e dos consultores financeiros. “Assim como as outras pessoas, eles precisam de alguém que os aconselhe sobre o que é melhor fazer com o dinheiro. Pesquisas nossas já constataram que, quanto mais acesso à informação as pessoas têm, mais confusas ficam, portanto, mais precisam de um profissional que diga por onde ir”, afirma. 

Billi observa que os gerentes mais assertivos em suas recomendações são os que mais vendem produtos. “Assim como um médico ou um mecânico de carro, investimento é algo bastante técnico para o público em geral e o que a pessoa espera é ter um consultor que entenda muito mais do assunto do que ele e o ajude a tomar a melhor decisão.” 

Se os mais jovens se sentem seguros o suficiente para resolver a vida financeira nos canais digitais, eles mantêm ao mesmo tempo um pé no conservadorismo ao investir. A pesquisa mostra que 14% (o maior percentual) da Geração Z ainda aplica no mais tradicional dos investimentos: a boa e velha poupança. Há também uma parcela de 5% que diz aplicar em criptomoedas. Na visão de Billi, as moedas virtuais passam hoje por um fenômeno de manada, quando os investidores se sentem compelidos a embarcar de cabeça num determinado ativo ao ver que outras pessoas estão fazendo o mesmo. 

Mesmo com os investidores ainda procurando a poupança, há um claro movimento de saída de recursos para outros ativos. Segundo Billi, pela primeira vez, em 2020, a soma de todas as outras aplicações (renda fixa, renda variável, moedas etc) foi maior que o fluxo para a caderneta. “Este é um sinal de que, enfim, o brasileiro está entendendo mais sobre investimentos e que há muitas opções com retornos maiores que os da poupança e com um nível de risco razoavelmente baixo”, diz.

Outro sinal de amadurecimento, na visão dele, foi o comportamento dos investidores durante a pandemia, que não saíram correndo para sacar o dinheiro da bolsa e colocar na primeira renda fixa que aparecesse na frente, como já aconteceu em outras crises. 

Uma segunda lição da pandemia é que as pessoas precisam fazer a sua reserva de emergência em momentos tranquilos, para usá- la em mares revoltos como foram os últimos dois anos. “Quem teve condições de investir mas nunca fez isso e começou 2020 ‘zerado’, se arrependeu amargamente de não ter pensado nisso antes”, afirma. 

Porém, também se engana quem acha que guardar dinheiro embaixo do colchão era coisa de gerações passadas. O Raio X do Investidor Brasileiro mostra que 4% dos investidores da Geração Z ouvidos pela pesquisa deixam o dinheiro em casa. Pode parecer pouco, mas é maior do que a fatia dos que aplicam, por exemplo, em fundos ou em ações (ambos com 3%) e em títulos públicos ou privados (ambos com 2%). 

Para Billi, o dinheiro sob o colchão pode ser resultado de dois fatores. O primeiro é a falta de acesso que ainda existe aos produtos de investimentos. O outro é a desconfiança que se tem de algo que não se entende. Na visão do superintendente da Anbima, ainda há muito que se evoluir no didatismo do setor de investimentos no Brasil. “Estamos num profundo movimento de simplificação nas ofertas de produtos, mas ainda há um longo caminho a percorrer até que todos entendam os ativos e, assim, tenham segurança de escolher o melhor para o seu patrimônio.” 

A pesquisa mostra ainda que os bancos tradicionais são a principal referência para a maioria dos investidores, não importando a sua faixa etária. Essas instituições são citadas por 45% dos entrevistados, em média, enquanto os bancos digitais são mencionados, em média, por apenas 10% das pessoas ouvidas. 

https://valor.globo.com/financas/noticia/2022/06/08/geracao-z-marca-virada-digital-em-investimentos.ghtml

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