Expansão de marketplaces altera dinâmica de vendas

Os números chamam a atenção e a tendência é que se tornem ainda mais atrativos. De acordo com o relatório Webshoppers 42, realizado pela Ebit/Nielsen, os varejistas de marketplaces movimentaram R$ 30 bilhões no primeiro semestre, o equivalente a 78% do faturamento do e-commerce no Brasil, com expansão de 56% em relação ao mesmo período do ano passado. 

Se por um lado as vendas cresceram, por outro, a necessidade de manter uma estrutura logística robusta se tornou ainda mais evidente. Dominar a distribuição significa oferecer ao consumidor uma boa experiência de compra e, consequentemente, assegurar o aumento das transações on-line. 

“Nunca foi tão necessário manter o controle desse processo, seja com estruturas próprias ou em parcerias bem alicerçadas com terceiros”, afirma Ana Blanco, vice- presidente de operação da DHL Supply Chain, líder mundial em armazenagem e distribuição. 

Segundo Ana Blanco, a maior participação dos marketplaces criou um novo cenário no país, com uma parcela das infraestruturas de transporte e armazenamento migrando do B2B para o B2C e modelos híbridos. 

O movimento exige expertise nas duas áreas, ampliando as oportunidades para os operadores logísticos e exigindo por parte das grandes plataformas a expansão das próprias soluções. 

Atento à transformação, o Mercado Livre destinou boa parte dos cerca de R$ 4 bilhões previstos para investimentos no Brasil este ano ao Mercado Envios. O braço logístico do grupo opera 96% de todas as vendas do marketplace, sendo 51% delas por uma malha logística própria. 

No segundo trimestre de 2020, foram entregues 157,5 milhões de itens, 124,2% a mais que no mesmo período de 2019. “Logística é investimento de longo prazo, o que fizemos este ano foi antecipar algumas iniciativas”, afirma Leandro Bassoi, vice- presidente do Mercado Envios. 

Entre março e setembro, a companhia agregou 6.270 colaboradores terceirizados em suas operações de logística; além disso, investiu em uma nova frota de caminhões para abastecer sua malha própria de centros de distribuição – até o fim do ano serão 150 carretas, com capacidade para 5 mil pacotes, fazendo esse trabalho -; e inaugurou um centro de distribuição fulfillment – no qual o Mercado Livre responde por toda a operação, desde o estoque até a entrega – em Lauro de Freitas, no interior da Bahia, o primeiro no Nordeste e o único com operação 100% própria. 

“Trata-se de um centro de distribuição estratégico porque nos permitirá dar um salto de qualidade grande na experiência do cliente naquela região, com entregas mais rápidas, a preços mais baixos”, afirma Bassoi. A nova operação foi crucial para que o percentual de entregas fulfillment (a partir de um centro de armazenamento, embalagem e distribuição) em 24 horas saltasse de 55% em 2019 para 75% no segundo trimestre deste ano. 

Com a participação das vendas do marketplace no faturamento da companhia saltando de 28,9% em 2017 para 61,2% no segundo trimestre de 2020, a B2W (Americanas.com, Shoptime e Submarino) também investiu pesado na infraestrutura logística. Abriu quatro novos centros de distribuição este ano, dois deles no 

Nordeste, totalizando 21 operações, em dez Estados. Paralelamente, transformou todas as suas 1.700 lojas físicas da Americanas em minicentros de distribuição, assim como os mais de 3.000 pontos de venda dos varejistas parceiros. 

“Com isso, conseguimos fazer entregas a partir das lojas em até três horas”, diz Raoni Lapagesse, diretor da B2W Digital. “Também aumentamos a oferta de lockers para retirada dos produtos em locais como lojas de conveniência, shoppings e até condomínios, totalizando 60 operações.” Segundo o executivo, 95% dos 70 mil vendedores da plataforma já utilizam soluções logísticas da B2W. 

Transformar as lojas físicas em minicentros logísticos vem se mostrando uma estratégia comum entre os grandes varejistas. “Além de reduzir custos na última milha, integra o ponto de venda físico à plataforma on-line, garantindo maior robustez à estrutura logística”, diz Sergio Leme, Vp de operações da Via Varejo, dona das Casas Bahia e Ponto Frio. “No início do ano, contávamos com 60 lojas funcionando nesse modelo, agora são 380.” 

Para dar conta dos 70 mil pedidos registrados pelo marketplace no primeiro trimestre, duas vezes mais do que no mesmo período do ano passado, a companhia acelerou a compra da startup Asap Log – especializada em soluções de logística urbana e conexão de transportadoras em etapas de longa distância – que estava no radar desde 2019. “Além de trazer mais de 100 mil entregadores cadastrados, a startup nos ajudou na aceleração tecnológica e no apoio à entrega de itens menores, que não era nossa especialidade”, ressalta Leme. 

Quem também foi às compras foi o Magazine Luiza. Este mês, anunciou a aquisição da GFL Logística, plataformas de logística para comércio eletrônico, presente em 600 municípios, com 13 áreas de cross docking e 850 motoristas independentes. “Ganhamos eficiência na última etapa, reforçando nossa estratégia de entregar cada vez mais rápido a custo menor”, diz Mariana Castriota, gerente do marketplace Magalu. A chegada da GFL permitiu que a LogBee, braço logístico da companhia para a “last mile”, ampliasse seu alcance em 50%. 

Com a estimativa de que a penetração do e-commerce nas vendas do varejo no país permaneça na casa dos 10%, a expectativa é que o apetite tanto dos operadores 

logísticos quanto dos marketplaces no que diz respeito à ampliação da estrutura logística seja ainda mais voraz. 

https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2020/10/29/expansao-de-marketplaces-altera-dinamica-de-vendas.ghtml

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