O governo Biden não enviará autoridades dos EUA para os Jogos de Inverno de 2022, em Pequim, decidindo em vez disso realizar um boicote diplomático que provocou críticas imediatas da China.
O anúncio de que os americanos não enviarão uma delegação de alto nível do governo aos jogos será feito nesta semana, segundo indicou ontem a Casa Branca.
A decisão foi tomada há várias semanas, mas o anúncio foi adiado para dar tempo para estabilizar as relações tensas entre os dois países após um telefonema no mês passado entre o presidente Joe Biden e seu colega chinês, Xi Jinping, segundo assessores da Casa Branca.
A decisão pelo boicote diplomática visa dar à medida um alcance limitado e, assim, permitir que a participação dos atletas americanos não seja afetada.
Mas a decisão dos EUA deverá influenciar outros governos, especialmente de aliados, a fazer o mesmo. Austrália, Holanda e outros países já vêm considerando
fazer isso. O boicote da parte de governos ocidentais importantes, caso se materialize, impedirá Pequim de usar os Jogos de Inverno para mostrar à população chinesa que o evento – e por extensão a China – tem um amplo apoio internacional.
Relatos de que o anúncio dos EUA é algo iminente levaram à condenação de Pequim, que acusou Washington de arrogância. “Isso macula gravemente o espírito da Carta Olímpica”, afirmou ontem Zhao Lijian, porta-voz do Ministério do Exterior da China. “É uma provocação política nua e crua e, mais do que isso, uma grave ofensa a 1,4 bilhão de chineses.”
Zhao alertou que “se os EUA insistirem em seguir esse caminho, a China terá de dar respostas”. Mas ele não detalhou o que a China poderá fazer e pediu a Washington que evitasse politizar os jogos, ao mesmo tempo que sugeriu que Pequim ainda não havia estendido um convite às autoridades americanas.
Um boicote diplomático poderá complicar um esforço que Biden e Xi discutiram por telefone para encontrar áreas de cooperação, como a contenção das mudanças climáticas, que poderão ajudar a estabilizar a relação que sofreu significativa deterioração na última década. China e EUA, as maiores economias do mundo, estão envolvidas numa competição que envolve o comércio, o poder militar e a influência global.
As tensões em torno dos jogos aumentaram ainda após a tenista chinesa Peng Shuai ter acusado um alto funcionário aposentado do governo de agressão sexual por meio de uma rede social. A Associação Feminina de Tênis (WTA) não conseguiu entrar em contato com Peng por telefone e anunciou a suspensão de eventos na China em razão das preocupações com ela e outras tenistas. O Comitê Olímpico Internacional (COI) realizou duas chamadas de vídeo com Peng, mas não quis dizer se discutiu a alegação com a tenista.
Biden disse no mês passado que o governo americano estava considerando um boicote aos Jogos de Inverno, que começam em fevereiro. Seu governo está sob pressão de grupos defensores dos direitos humanos para que boicote os jogos, citando a detenção em massa de uigures, um grupo minoritário muçulmano na China, além de seus esforços para reprimir a oposição política e sufocar as críticas e protestos em Hong Kong.
A presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, já havia pedido um boicote diplomático aos jogos e vários parlamentares republicanos apoiaram tal medida.
O boicote diplomático tem como objetivo enviar uma mensagem de desaprovação sem afetar a participação dos atletas. O Comitê Olímpico e Paralímpico dos EUA já pediu várias vezes que os boicotes totais sejam deixados como uma relíquia dos anos 80, quando os EUA boicotaram a Olimpíada de Moscou, prejudicando centenas de atletas que haviam se preparado para participar da competição.
O Comitê Olímpico dos EUA reiterou essa posição ontem. O órgão pediu que governos de todas as partes do mundo se engajem diretamente na cobrança à China sobre direitos humanos e outras questões e agradeceu ao governo Biden por seu apoio.
“Sentiremos a falta da presença da delegação presidencial neste inverno, mas sabemos que eles estarão torcendo por nós de casa”, disse o comitê em um comunicado.
