Empresas de NY estão abrindo escritórios onde seus funcionários vivem

The New York Times; Antes da pandemia, o trajeto de Maz Karimian até Manhattan era como o de muitos nova-iorquinos: um deslocamento muitas vezes degradante de 30 minutos entre duas linhas de metrô que costumam estar lotadas ou atrasadas.

No entanto, quando ele voltou ao escritório na semana passada pela primeira vez desde que a pandemia se espalhou pela cidade, seu trajeto parecia tranquilo: um passeio de bicicleta de sua casa em Carroll Gardens até o escritório realocado de sua empresa, a cerca de 10 minutos em Dumbo.

“Adoro o metrô e acho que é um ótimo meio de transporte, mas, sinceramente, se eu puder escolher entre ar fresco e ar compartilhado e em ambiente fechado, escolherei isso aqui todas as vezes”, disse Karimian, diretor de estratégia do USTWO, um estúdio de design digital.

Mais de dois anos após a pandemia provocar um êxodo em massa dos prédios de escritórios da cidade de Nova York, e depois de muitas empresas anunciarem e depois suspenderem os planos de retorno ao escritório, os funcionários finalmente começaram a voltar aos poucos para suas mesas. Mas o trabalho remoto basicamente reformulou a maneira como as pessoas trabalham e diminuiu a predominância do local de trabalho dentro das corporações.

As empresas se adaptaram. As salas de reuniões ganharam uma nova cara. As mesas que antes eram usadas apenas por uma pessoa passaram a estar disponíveis a qualquer um por ordem de chegada. Os gestores adotaram acordos de trabalho flexíveis, permitindo que os funcionários decidam quando querem trabalhar presencialmente.

E algumas estão tomando medidas mais drásticas para tornar o retorno ao local de trabalho interessante: realocando seus escritórios em áreas mais próximas aos locais onde seus funcionários vivem. Na cidade de Nova York, as mudanças refletem um esforço das organizações para reduzir um grande obstáculo para ir trabalhar – o deslocamento – quando elas começam a pedir que os funcionários voltem ao escritório.

Antes da pandemia, os trabalhadores da cidade de Nova York tinham, em média, o trajeto de ida mais longo dos Estados Unidos, aproximadamente 38 minutos.

Cerca de dois terços dos funcionários do USTWO vivem no Brooklyn, então fazia sentido mudar o escritório para Dumbo, na orla, depois de uma década no distrito financeiro de Manhattan, disse Gabriel Marquez, diretor administrativo do estúdio.

O novo espaço tem cerca de mil metros quadrados, um pouco menos que o antigo escritório, e é mais barato por metro quadrado para alugar do que a maioria dos escritórios em Manhattan. Também é mais adequado para quando os funcionários vierem ao escritório, com um terraço ao ar livre no telhado e Wi-Fi para as reuniões, disse ele.

“Não precisávamos da mesma relação com o escritório e ter todo mundo nele cinco dias por semana”, afirmou Márquez, que disse que os funcionários são obrigados a estar no local duas vezes por semana, às terças e quartas-feiras. “Parece que, culturalmente, é um bom ajuste para muitas empresas como a nossa em nossa área.”

Enquanto a cidade de Nova York tenta sair das profundezas dos transtornos econômicos, há sinais recentes de que a cidade está se recuperando, apesar das preocupações com o crime nos metrôs e o aumento dos casos de covid-19. Os turistas estão visitando Nova York em número maior do que no ano passado, a ocupação dos hotéis aumentou e, no início deste mês, o número diário de passageiros do metrô alcançou um recorde para os tempos de pandemia com 3,53 milhões de passageiros.

Embora esses sinais sejam promissores, um elemento vital da economia da cidade continua prejudicado: os prédios de escritórios.

Antes da pandemia, as torres de escritórios sustentavam todo um ecossistema de cafeterias, lojas e restaurantes. Sem aquele mesmo corre-corre de pessoas, milhares de empresas fecharam e placas de “aluga-se” ainda estão penduradas em muitas vitrines.

Mesmo com os apelos há meses do prefeito Eric Adams e da governadora Kathy Hochul para que as empresas exijam o retorno das pessoas ao escritório, até agora, muitas atenderam às demandas de seus funcionários para manter grande parte da flexibilidade de trabalho que passaram a desfrutar durante a pandemia.

Apenas 8% dos funcionários de escritório de Manhattan estavam indo trabalhar presencialmente cinco dias por semana do final de abril ao início de maio, de acordo com uma pesquisa da Partnership for New York City, grupo sem fins lucrativos formado pelos principais CEOs da cidade.

Cerca de 78% dos 160 principais empregadores entrevistados disseram que adotaram sistemas de trabalho híbrido, uma alta de 6% em relação ao período anterior à pandemia. A maioria dos trabalhadores planeja voltar ao escritório apenas alguns dias por semana, disse o grupo.

A mudança radical no uso de prédios de escritórios tem sido uma das situações mais desafiadoras em décadas para o setor imobiliário de Nova York, uma indústria fundamental para a cidade, e aniquilou a vasta oferta de escritórios em Manhattan, lar dos dois maiores bairros comerciais no país, o distrito financeiro e a região de Midtown, onde se concentram atrações famosas.

Cerca de 19% dos escritórios em Manhattan estão vagos, o equivalente a 30 Empire States. Antes da pandemia, esse número era de 12%, de acordo com a Newmark, empresa do setor imobiliário. Os prédios de escritórios estão mais firmes no Brooklyn, onde a taxa de desocupação também é de cerca de 19%, mas não oscilou muito desde antes da pandemia, segundo a Newmark.

Daniel Ismail, analista-chefe de escritórios da Green Street, empresa de pesquisa de imóveis comerciais, previu que o mercado de escritórios em Manhattan pioraria nos próximos anos, conforme as empresas ajustam seus esquemas de trabalho e os contratos de aluguel assinados anos atrás começam a expirar. No geral, as empresas que mantêm escritórios reduziram o tamanho deles, percebendo que não precisam de tanto espaço, enquanto outras se mudaram para prédios mais novos ou reformados com melhores comodidades em áreas com rica oferta de meios de transporte, disse ele.

Mesmo antes da pandemia, era comum que as empresas mudassem os endereços de seus escritórios pela cidade ou abrissem filiais fora de Manhattan. A cidade oferece um incentivo fiscal para empresas que se mudam para um bairro mais distante, com até US$ 3 mil em créditos no imposto de renda anual por funcionário.

Quase 200 empresas receberam o desconto em 2018, totalizando US$ 27 milhões em créditos fiscais, segundo os dados mais recentes disponíveis do Departamento de Finanças da cidade. Mas algumas construtoras de escritórios estão apostando que bairros fora de Manhattan se tornem atraentes por conta própria, atraindo empresas que desejam especificamente evitar a agitação da região de Midtown.

Milhares de metros quadrados de escritórios estão em construção no Brooklyn, incluindo um prédio comercial de 24 andares no centro da região.

A Two Trees Management, incorporadora imobiliária que transformou a área de Dumbo, está tornando a antiga refinaria de açúcar Domino, em Williamsburg, em um prédio de escritórios de 42 mil metros quadrados. Jed Walentas, CEO da empresa, disse ter tanta confiança no projeto que ele estava sendo renovado por especulação, sem fechar com inquilinos de escritórios de antemão.

“Você não pode ignorar a base de talentos que se mudou para o Brooklyn e para o Queens”, disse Walentas. “A ideia de que todos eles vão pegar a linha F ou L de trem ou qualquer outro trem para o centro de Manhattan está equivocada.”

Sem dúvidas, a recente tendência de escritórios nos bairros fora da região central ainda é incipiente, e os caprichos imprevisíveis da pandemia podem mudar seu curso no futuro.

Brian R. Steinwurtzel, co-CEO da GFP Real Estate, cuja empresa possui inúmeras propriedades em Manhattan, disse que o mercado de escritórios no Queens e no Brooklyn pode atrair certos nichos, como empresas biomédicas e de ciências da vida em Long Island City, Queens, onde a GFP tem vários imóveis.

Mas, no geral, Steinwurtzel deu uma avaliação sucinta do mercado fora do centro: “É terrível”.

De qualquer modo, apenas poder ter vistas panorâmicas de Manhattan já é suficiente para algumas empresas.

Quando a empresa de publicidade europeia Social Chain abriu um escritório nos EUA antes da pandemia, o grupo se instalou na área de Flatiron, um epicentro do mundo do marketing que ficou famoso décadas atrás pelas gigantes da publicidade na Madison Avenue.

Mas depois do início da pandemia, a empresa decidiu reavaliar sua localização, o prestígio de estar em Manhattan não tinha o mesmo magnetismo – ou necessidade, disse Stefani Stamatiou, diretora administrativa da Social Chain no país.

Ela visitou escritórios em Manhattan, mas nenhum parecia o ideal. Então ela atravessou o East River até chegar em Williamsburg e encontrou o endereço na 10 Grand St., um imóvel que também era da Two Trees. O lugar preenchia todos os requisitos – vistas livres de Manhattan, uma planta flexível e, o mais importante, um deslocamento mais curto para boa parte dos 42 funcionários da Social Chain.

Entre eles está Stefani, que agora sai de casa em Greenpoint e vai para o trabalho caminhando.

“Existem atividades na rua e restaurantes bem abaixo do prédio, assim como em Manhattan, mas há uma sensação de ar livre”, disse Stefani. “Fazia sentido estar onde os criativos estão, onde as pessoas estão.”

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