Empresas buscam adiar chegada de mercadoria

Um mês atrás Jeff Schrimmer pagava ágio para agilizar remessas da China. Agora ele está disposto a pagar para desacelerar a entrega. 

Os primeiros meses de 2020 foram agitados para a Windy City Novelties, empresa que ele preside. Os estoques de artigos para festa estavam quase esgotados depois que as fábricas da Ásia foram forçadas a parar suas operações. 

Mas, em março, com a maior parte dos EUA recebendo a ordem de “ficar em casa”, a receita caiu mais de 80% e Schrimmer teve que cortar funcionários. A viagem marítima de 30 dias dos produtos chineses, que antes era demorada demais, agora virou rápida demais. 

“Qualquer atraso da viagem – na China, no mar ou antes que chegar ao porto de Los Angeles – está nos ajudando”, diz Schrimmer, que importa entre 50 e 100 contêineres de produtos todos os trimestres. “Cada dia que eles seguram [os contêineres] é mais um dia ganho para suportar a tempestade.” 

O problema de Schrimmer é sentido nos EUA e Europa em vários itens, como roupas e móveis. 

Até março, muitas empresas ocidentais “tentavam freneticamente importar produtos”, após as fábricas serem temporariamente paralisadas na China. Agora, essas mesmas empresas estão se preparando para uma recessão profunda, afirma Eytan Buchman da Freigthos, que monitora fretes. 

O ato de retardar remessas propositalmente é conhecido como “slow steaming” [redução na velocidade do transporte]. Em abril, mais de cem companhias de navegação disseram que era “urgente” reduzir a velocidade de transporte de mais produtos porque isso economiza dinheiro e leva a “reduções dramáticas” nas emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa. 

Geralmente as empresas que dependem do transporte marítimo, que leva 90% do comércio global, ficam do outro lado desse debate. Mas agora elas estão pedindo que os contêineres se tornem “armazéns flutuantes”, diz Mohammed Esa, que comanda a área de desenvolvimento de negócios globais da Agility, empresa de logística. 

Assim que o carregamento chega, cabe ao importador pagar as taxas de armazenagem e transporte. “Assim, quanto mais tempo ele demorar para chegar, melhor, porque eles não têm para onde serem levados a esta altura”, diz Esa. 

Com a economia mundial já perto de uma recessão, as companhias marítimas estão agora cuidando dessa necessidade peculiar. 

A Maersk e a Mediterranean Shipping Company (MSC), as duas maiores empresas de transporte marítimo do mundo, estão oferecendo opções de “suspensão de trânsito” para dar às empresas a capacidade de armazenar remessas não desejadas em locais mais baratos espalhados pelo mundo. A MSC oferece seis locais que incluem Busan, na Coreia do Sul, Lomé, em Togo, e outro no Panamá. 

Na eventualidade de uma recuperação em forma de “V” da economia, as empresas poderão repor rapidamente seus estoques, mas enquanto isso elas pagariam taxa menor de armazenagem, que subiu devido à falta de mão de obra. 

“Isso também vai liberar espaço nas fábricas e armazéns de origem e evitar excessos de estoque in loco, levando as cargas para mais perto dos mercados de destino e aliviando a risco de congestionamento ou fechamento de portos de descarga”, disse a MSC. 

As varejistas Walmart e Best Buy, e os grupos industriais Newell Brand s e Mattel, deverão ser “os maiores usuários” desses serviços, segundo a Panjiva, unidade de inteligência de cadeia de fornecimento da Standard & Poor’s (S&P). 

Schrimmer diz que normalmente precisa que as encomendas de artigos para festas cheguem o quanto antes, mas agora, depois de 37 anos de carreira, ele se vê na situação inédita de “ter de ir contra tudo o que penso”. “No momento, estou dizendo: ‘Por favor, espere. Aguente’”, diz ele. “Dê-me algumas semanas para eu me recompor.” 

O fato de ele continuar querendo os produtos é uma boa notícia para as fábricas parceiras. Executivos de cadeia de fornecimento dizem que muitas empresas estão simplesmente cancelando pedidos em massa, sempre citando cláusulas de força maior que designam a pandemia como circunstância imprevisível que as impede de cumprir um contrato. 

Segundo a Panjiva, as vendas por via marítima da China para os EUA caíram 59,5% nas primeiras três semanas de março, ante o mesmo período do ano passado. 

 “Ouvi dizer que todas as encomendas estão sendo canceladas, que empresas estão com contêineres nos portos na China e dizendo que não os querem”, diz Jim Newsome, presidente da South Carolina Ports Authority. “Ninguém previa a velocidade com que as economias ocidentais caíram.” 

Traumatizado com o impacto da covid-19, Schrimmer diz jamais ter imaginado que os negócios pudessem parar dessa forma. Sua empresa é diferenciada – vende diretamente para os consumidores em casamentos, festas e bailes. Vende também para grupos varejistas, além de parques temáticos. Em 2019, comprou até uma pequena concorrente. Ele só não estava preparada para um mundo quase sem eventos sociais. “Tudo que fazemos gira em torno de celebrações. Isso está fora de controle.” 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/04/15/empresas-buscam-adiar-chegada-de-mercadoria.ghtml

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