Empresa familiar lucra mais, mostra estudo do Credit Suisse

Empresas que têm membros da família fundadora na gestão têm apresentado um desempenho financeiro melhor durante a pandemia em relação àquelas em que o dono não faz parte da gestão. Além disso, elas são mais alinhadas com critérios sustentáveis e têm visão de mais longo prazo para o negócio. Essa é a conclusão do levantamento Family 1000, realizado pelo banco suíço Credit Suisse. 

O estudo analisa o comportamento de empresas em que o fundador ou sua família têm ao menos 20% do capital social ou dos direitos de voto, e compara com o de negócios sem dono na gestão, todos com capital aberto. Foram avaliadas companhias em vários países, incluindo o Brasil, e sob três óticas: resultados ao longo dos anos, desempenho na pandemia e alinhamento com princípios sustentáveis. 

Segundo o banco, negócios familiares têm uma estratégia de investimento de prazo mais longo do que os demais. Na prática, isso traz mais estabilidade, além de, em última instância, também proporcionar mais dividendos aos acionistas e consequente potencial de valorização das ações na bolsa. 

Desde 2006, as empresas familiares vêm consistentemente entregando um retorno para os acionistas acima das demais. Segundo o estudo, na média, ações tiveram uma valorização é 3,7 pontos percentuais maior anualmente. É na região da Ásia e Pacífico que o efeito é mais visível: desde 2006, o retorno adicional é de 5 pontos. Por outro lado, a América do Norte é a região com o prêmio mais moderado, de 2,6 pontos acima. 

Para o Credit Suisse existe um “efeito família” que explica o retorno acima da média de mercado nos investimentos em ações. Os negócios familiares também tendem a ter características mais defensivas, que os permite performar bem particularmente durante períodos de estresse no mercado, como o gerado pela pandemia. O retorno dos primeiros seis meses deste ano evidencia isso. Desde o início de 2020 para cá, as empresas de dono tiveram valorização 3 pontos acima das demais. 

Apesar de a maioria das empresas, familiares ou não, afirmar que seus negócios foram impactados pelo vírus, as que não têm donos na gestão são mais pessimistas. “Curiosamente, notamos que empresas familiares têm recorrido menos a demissões de seus funcionários do que as outras (46% versus 55%)”, destaca o estudo. 

Segundo o Credit Suisse, historicamente, em um momento de crise forte, as empresas de dono tendem a se agarrar ao que já conhecem e fazem, enquanto as não familiares são mais inovadoras, buscando novos produtos e soluções diferentes como resposta aos problemas. Ambos os grupos, porém, acreditam que a forma de fazer negócio vai mudar e mais da metade não se vê com o mesmo quadro de funcionários do período pré-crise

E não é apenas na bolsa que essas companhias se destacam. O estudo do Credit Suisse estima que desde 2006 o crescimento da receita das empresas familiares é 2 pontos percentuais maior do que seus pares. E isso vale tanto para as grandes quanto para as pequenas, para o lucro e fluxo de caixa. 

“Quando conversamos com investidores sobre [o interesse por] empresas familiares, nós frequentemente escutamos que um dos motivos é o foco no longo prazo”, diz o banco. “Nossa análise sugere que realmente este é o caso.” 

Os analistas citam ainda que as empresas familiares têm taxas de alavancagem mais baixas que as não familiares, o que sugere que preferem financiar suas atividades mais por meio de recursos próprios. “Observamos também que as empresas familiares tendem a se concentrar mais em pesquisa e desenvolvimento, o que é indiscutivelmente um indicador de longo prazo”, completa. 

Outro destaque do estudo Family 1000 é que essas companhias também se mostraram mais alinhadas com os critérios de responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa, resumidos na sigla em inglês ESG. Ao medir o grau de comprometimento com ESG, o Credit Suisse identificou que empresas familiares, em média, tendem a ter resultados ligeiramente melhores do que empresas não familiares. 

 “O que é interessante em nossa opinião é que o desempenho relativo é um fenômeno mais recente, que tem se fortalecido nos últimos quatro anos. O melhor desempenho geral é principalmente liderado por melhores pontuações ambientais e sociais. Mas, as empresas familiares ficam um pouco para atrás no quesito governança”, diz. 

Em termos regionais, as empresas europeias são as mais engajadas com as causas sustentáveis. Entre as empresas familiares em melhor posição no ranking, estão as brasileiras MRV e SulAmérica. 

https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/09/16/empresa-familiar-lucra-mais-mostra-estudo-do-credit-suisse.ghtml

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