Em foco, o dilema da publicidade digital

Por Gustavo Brigatto

A publicidade digital tornou-se indissociável da internet ao financiar os inúmeros serviços gratuitos disponíveis na rede. Para muitos usuários, porém, a multiplicação dos anúncios on-line tornou-se tão incômoda que eles tentam, agora, eliminar sua exibição com o uso de ferramentas criadas para esse fim. É, em resumo, uma relação conflituosa – o consumidor sabe que precisa dos anúncios para continuar a receber os serviços de graça. Mas isso não é suficiente para conter sua irritação diante da propaganda que interrompe suas atividades costumeiras na internet.
Difícil de resolver, o dilema vem recebendo mais atenção de marcas, agências publicitárias e empresas de internet. “É do interesse de todo o mercado criar melhores anúncios. Nem tudo é ruim como muita gente pensa. Há muita inovação”, afirma Chuck Curran, representante da Aliança por Melhores Anúncios (CBA, na sigla em inglês). Criada em 2016, a organização tem como objetivo definir boas práticas a serem seguidas pelo mercado.
Encabeçada pelo Google, a iniciativa conta, hoje, com a participação de companhias como Facebook, Microsoft, Outbrain, Taboola, Omnicom e “The Washington Post”, entre outras. O grupo quer combater a disseminação do uso de softwares bloqueadores de anúncios, que restringem o alcance da publicidade na web.
No ano passado, depois de realizar uma pesquisa com mais de 25 mil consumidores, a CBA lançou uma lista com os 12 tipos de anúncios que mais atrapalhariam a navegação na web. Entre os exemplos estão imagens que saltam na tela do celular ou do computador, anúncios que tocam músicas sem autorização ou que bloqueiam a navegação com uma contagem regressiva que não pode ser interrompida.
Os membros da aliança se comprometeram a tirar esses formatos de anúncios do ar. Em fevereiro, o Google anunciou que o navegador Chrome passaria a bloquear automaticamente, nos EUA e na Europa, esse tipo de publicidade.
De acordo com Curran, a medida ajudou a ampliar a percepção sobre o assunto. “A adoção dos padrões está alta. Temos membros de 27 países, inclusive de lugares onde os padrões não se aplicam [como o Brasil]”, diz o especialista. Curran é um dos convidados do Adtech&Data, evento de tecnologia e publicidade que será promovido, hoje, em São Paulo, pelo IAB Brasil, organização de mídia interativa.
Atualmente, as regras só valem para Europa e EUA, mas, segundo Ana Moisés, presidente do IAB, é uma questão de tempo até que sejam seguidas também no Brasil também. “O assunto segue em discussão e a ideia é aprofundar os debates sob a perspectiva local, avaliar a viabilidade de replicar o estudo por aqui. Não podemos nos dar o luxo de esperar”, afirma.

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