Reconhecido como “país criativo do ano” no Cannes Lions 2025, o Brasil lotou um auditório no painel “Revolução Criativa Brasileira”, realizado nesta segunda-feira (16). O debate fez parte da programação do maior festival de publicidade do mundo, realizado anualmente na Riviera Francesa, e foi promovido pela Globo, parceira oficial do evento.
Conduzido em português com tradução simultânea para o inglês, o painel com executivos brasileiros do mercado publicitário reuniu um público diverso e global, com representantes americanos, dinamarqueses, britânicos e asiáticos, entre outros.
O jornalista William Bonner, âncora e editor-chefe do “Jornal Nacional”, abriu a sessão em tom descontraído, lembrando da juventude e da graduação em Publicidade e Propaganda na USP e o entusiasmo juvenil pela área. “Eu inventava produtos e criava anúncios. O melhor era o texto; a arte era medíocre. Aos 14 anos, eu queria ser colega do Washington Olivetto”, contou. Embora tenha migrado para o jornalismo, disse que a publicidade segue influenciando seu trabalho: “Eu saí da publicidade, mas, para usar o chavão, ela não saiu de mim.”
Ele também ressaltou a importância da colaboração entre veículos e o mercado publicitário. Segundo ele, o chamado “padrão Globo de qualidade”. “, amplamente reconhecido, não se construiu de forma isolada. “Esse padrão, do qual a gente se orgulha imensamente, não é uma construção solitária da Globo. O mercado publicitário também faz parte dele, botando a criatividade para fora, vendendo marcas, financiando algo caro para qualquer pessoa: a democracia.”
A mediação coube a Maju Coutinho, apresentadora do “Fantástico”, , que reforçou o peso da identidade nacional na comunicação. “A Globo sempre acreditou na brasilidade, na criatividade, nessa força do brasileiro que nunca desiste, assim como nossa publicidade, que continua inovando, evoluindo e revolucionando”, afirmou.
Em sua fala, a diretora de criação da Ogilvy para a América Latina e presidente do júri da categoria Outdoor Lions, Keka Morelle, destacou o dever das lideranças de refletir a diversidade do país. “Não tem como falar de Brasil sem falar em diversidade, equidade e inclusão. O resultado é feito por pessoas e pela forma como elas trabalham. Precisamos de equipes que representem as várias realidades do país”, disse. Para ela, cabe aos líderes estimular pensamento crítico e autenticidade num cenário cada vez mais marcado pela inteligência artificial (IA). “A opinião e o ponto de vista valem muito, já que existe uma ferramenta pronta para executar o que você quiser”, completou.
Ao tratar do impacto da IA, o cofundador e presidente de criação da GUT, Anselmo Ramos, disse que a tecnologia não substitui o criativo, mas pode funcionar como parceiro. “Todo criativo é inseguro por natureza. Com o Al isso muda. Você tem um poeta, um escritor, um fotógrafo, um ilustrador, um músico, um editor, sempre do seu lado. Eu acho que a menor dupla do mundo é um brasileiro, com sua diversidade e criatividade, e uma lA [inteligência artificial], disse.
Ele observou que a presença de profissionais do país em cargos de liderança nas principais agências globais passou de exceção a regra. “O segredo já não é segredo. O brasileiro é rápido, trabalhador, tem ginga, gambiarra e otimismo. Todas as agências do mundo querem brasileiros.”
Na visão do copresidente e diretor de criação da Africa Creative, Sergio Gordilho, a IA ampliou o potencial da criação feita no Brasil ao reduzir barreiras históricas de produção. “A função da propaganda é pensar em uma coisa óbvia e entregar de uma forma surpreendente. Esse é o nosso jeito. A gente tinha uma questão de produção muito difícil, muito complicada. E com a tecnologia, acho que a gente tinha um limite, e hoje a gente não tem mais.”
Ao Valor, Bonner resumiu a relevância da homenagem: “O futuro da propaganda brasileira me parece muito promissor. É um evento planetário, e ver tantos estrangeiros interessados no que dissemos, em português, mostra a importância da nossa publicidade e do Grupo Globo no seu centenário. Uma honra e prova de pujança impressionante.” A Globo organizou o painel e outras ações em Cannes, também em comemoração aos 100 anos do Grupo Globo, completados em 2025.
Neste ano, a Globo ampliou sua participação no Cannes Lions com um lounge de 150 m no Country Pavilion, área dedicada à representação brasileira no festival. O espaço apresenta uma galeria em homenagem à publicidade nacional, organizada em parceria com o Espaço de Articulação Coletiva do Ecossistema Publicitário (Abap), além de uma exposição fotográfica sobre o país, área de convivência e terraço para ações de relacionamento.
Logo após o painel, a Globo organizou um evento no Rooftop Terrace, seguido por uma festa nas ruas de Cannes inspirada no Carnaval brasileiro. O desfile contou com o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta no trio elétrico “W do Brasil”, que percorreu o trajeto do Palais até o Hotel Martinez, em parceria com a FilmBrazil (APRO) e a Abap. A ação também foi uma homenagem ao publicitário Washington Olivetto, falecido em outubro de 2024.