Desaceleração continua na China

A produção industrial cresceu 4,4% em agosto, no menor crescimento mensal desde 2002. Esse e outros dados sugerem que esforço do governo para sustentar a economia não está bastando
A desaceleração da China está se agravando no momento em que crescem os riscos à economia mundial, aumentando a pressão para que Pequim adote mais medidas para apoiar o crescimento.
A produção industrial chinesa subiu 4,4% em agosto (em relação a agosto de 2018). Foi a menor expansão mensal desde 2002. Já as vendas no varejo ficaram abaixo das expectativas. Os investimentos em ativos fixos caíram para 5,5% nos primeiros oito meses do ano, com os investimentos do setor privado ficando atrás dos investimentos estatais pelo sexto mês.
Os dados fortalecem o argumento de que o esforço do governo para frear a desaceleração da economia não está sendo suficientes. O país enfrenta uma pressão doméstica, uma guerra comercial com os EUA e agora uma alta inesperada dos preços do petróleo.
A desaceleração da produção industrial foi quase que generalizada, com o processamento de alimentos e a fabricação de equipamentos em geral permanecendo inalterados em relação ao ano passado. A produção de automóveis cresceu após cair por quatro meses seguidos. O crescimento das vendas de bens de consumo desacelerou para 7,2%, o menor nível desde abril, mas houve um aumento das vendas de alimentos. A taxa de desemprego caiu para 5,2%, contra 5,3% em julho, mesmo com a desaceleração da economia.
A alta recorde do preço do petróleo após os ataques a instalações petrolíferas da Arábia Saudita no fim de semana não poderia ter vindo em pior hora para a China e a economia mundial, à beira de uma queda profunda. A Arábia Saudita é a maior fonte individual de importações de petróleo da China. O país asiático responde por 70% da demanda total.
Após a divulgação dos dados pela Agência Nacional de Estatísticas da China, ontem, o Citigroup rebaixou a perspectiva de crescimento – de 6,3% para 6,2% neste ano e de 6% para 5,8% em 2020.
“Não esperamos mais uma recuperação do crescimento no quarto trimestre, com a nova previsão estacionada em 6,1%”, escreveu Yu Xiangrong, economista do Citigroup em Hong Kong. “Em especial, estamos agora com uma visão mais cautelosa sobre a recuperação dos investimentos em infraestrutura e vendas no varejo.”
Está ficando mais difícil um crescimento de 6% no terceiro trimestre, e ele deverá perder mais força em relação ao segundo trimestre, disseram economistas da China International Capital Corp liderados por Eva Yi.
O ritmo da desaceleração está mais rápido que o esperado e o impacto da guerra comercial sobre os fabricantes chineses tem sido relativamente grande, disse Peiqian Liu, economista da NatWest Markts de Cingapura.
Negociadores da China e dos EUA pretendem realizar duas rodadas de negociações nas próximas semanas. Os dois lados vêm tentando demonstrar boa vontade, e autoridades americanas consideram a assinatura de acordo para adiar a imposição de novas tarifas à China, segundo fontes.
Mas isso pode não ser suficiente. “Um alívio no front comercial não será uma cura para o problema do crescimento da economia chinesa”, disse Frederic Neumann, do HSBC Holdings de Hong Kong. “Há um risco crescente de que manter as rédeas apertadas demais possa reduzir ainda mais o crescimento.”

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/09/17/desaceleracao-continua-na-china.ghtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação