Bibliotecários encontram leitores mais jovens onde eles estão: no TikTok

THE NEW YORK TIMES  A pandemia prejudicou décadas de progresso nas habilidades de leitura das crianças. Então, o que um bibliotecário que espera envolver crianças e adolescentes com livros e leitura pode fazer?

“Encontre-os onde eles estão”, disse Sara Day, uma bibliotecária de atendimento para adolescentes da Biblioteca Pública de Woodland em Woodland, na Califórnia. E esse lugar, ela disse, é o TikTok.

Um número crescente de bibliotecários está se juntando a ela lá. No mês passado, Day e sua colega, Sara Vickers, uma bibliotecária infantil, lideraram dezenas de colegas em uma curta coreografia ao som de Anti-Hero de Taylor Swift, como parte de uma sessão chamada TikTok O ‘Clock! no simpósio de 2022 da Young Adult Library Services Association em Baltimore.

“Parecer autêntico foi um grande desafio no começo”, disse Vickers, 34, ao grupo. Isso até que seus colegas tiveram uma mudança de mentalidade. “Abrace seu lado cringe”, aconselhou Day, 29. Os adolescentes estão sobrecarregados, ela disse. “Vamos colocar um sorriso no rosto deles.”

Questionados se suas bibliotecas estavam no TikTok, cerca de metade da sala levantou a mão. A mensagem para os adolescentes, disse Day, é: “Venha, há um espaço para você”.

No TikTok, os bibliotecários vestem fantasias, dançam músicas que estão viralizando, exibem novos livros e se relacionam com seus colegas de trabalho. E, ao fazê-lo, atraem visitantes e despertam o interesse pela leitura: Margo Moore, 28, uma bibliotecária de atendimento para adolescentes que viajou para o simpósio de Lawrence, Kansas, disse que o interesse em livros apresentados em vídeos populares do TikTok geralmente aumenta no dias e semanas que se seguem.

A Library TikTok é ligada, mas distinta, do BookTok, um canto da plataforma onde os leitores postam sobre seus livros favoritos e que se tornou um impulso nas vendas de livros. Na Library TikTok, há conversas sobre livros, mas os bibliotecários também publicam sobre recursos e eventos, mostrando as bibliotecas como locais acolhedores para diversas comunidades. Não há uma contagem oficial de contas de bibliotecas e bibliotecários no TikTok, mas Katie Elson Anderson, uma bibliotecária de referência da Rutgers University-Camden, compilou uma lista de 85 contas – que ela diz ser provavelmente uma contagem insuficiente.

Fazer um esforço para aparecer no TikTok diz aos jovens que “estamos aqui, ouvimos vocês, sentimos vocês”, disse Celia Greer, 30, coordenadora de adolescentes da Biblioteca Pública de Kankakee em Kankakee, Illinois. A biblioteca postou um vídeo que viralizou no TikTok este ano, ganhando mais de 1 milhão de visualizações – e recebendo um comentário de Kevin Bacon. A biblioteca então postou um segundo vídeo comemorando o comentário de Bacon, que obteve mais de 30.000 visualizações. Agora, a conta é um fenômeno local, ela disse.

“As pessoas sabem quem somos por causa dos TikToks”, disse Greer.

Os bibliotecários disseram que os vídeos do TikTok também fazem bem para a equipe, que costuma enfrentar esgotamento e estresse depois de ter atendido suas comunidades durante a pandemia. À medida que os conflitos sobre a proibição de livros aumentam em todo o país, alguns bibliotecários também foram atacados.

“Só queremos que as pessoas se envolvam com as bibliotecas locais”, disse Emily Jackson, 40, gerente de mídia social da Biblioteca Pública de Dallas. “No ambiente em que estamos, é super importante.”

Em agosto, a conta da Biblioteca Pública de Dallas postou um TikTok sobre títulos que foram banidos ou contestados. No vídeo, Jackson segura uma série de livros enquanto “World’s Smallest Violin” de AJR – uma música popular no TikTok – toca. A postagem alcançou quase 28 mil pessoas.

Vários bibliotecários também disseram que a plataforma pode ser útil para dissipar estereótipos e dar às pessoas uma visão realista de como as bibliotecas e os bibliotecários são em 2022.

“Temos a ideia errônea de que as bibliotecas são antiquadas e não acompanham as tendências tecnológicas”, disse Emily Drabinski, presidente eleita da American Library Association. Mas historicamente, ela disse, os bibliotecários estão frequentemente na vanguarda do envolvimento com as novas tecnologias.

“É nosso trabalho selecionar, adquirir, descrever, tornar acessível e fazer circular o conhecimento preservado”, acrescentou Drabinski. “Esse é todo o projeto. Assim como a tecnologia muda a forma como as coisas circulam, nós mudamos com ela.”

Os bibliotecários também podem usar o TikTok para divulgar informações confiáveis em uma plataforma cheia de conteúdo manipulado. “É um espaço que requer conhecimento crítico das informações”, disse Jessie Loyer, uma bibliotecária acadêmica em Calgary, Alberta, que publica sobre tópicos como soberania digital e repatriação no TikTok na conta @IndigenousLibrarian.

“Os bibliotecários sempre estiveram comprometidos em ajudar as pessoas a descobrir o que é real, o que é relevante”, acrescentou Loyer. Portanto, o TikTok, ela disse, é “um espaço necessário para se estar e uma ferramenta útil”.

Nem todo mundo concorda com a ideia de bibliotecários postarem no TikTok. Alguns diretores e conselhos de bibliotecas consideram algumas contas do TikTok pouco profissionais, disse Vickers. E alguns bibliotecários são ambivalentes em encorajar os jovens a usar a plataforma. Elizabeth Miller, 22, bibliotecária de atendimento aos jovens na Biblioteca Pública de Rehoboth Beach em Rehoboth Beach, Delaware, disse que, embora o TikTok tenha potencial para ajudar as pessoas a fazer amigos e explorar hobbies, o aplicativo nem sempre é um ambiente saudável para adolescentes.

Mas outros, incluindo bibliotecários da Biblioteca Pública de Kankakee, descobrem que o TikTok permite que eles também se envolvam pessoalmente com a comunidade. A biblioteca frequentemente colabora com figuras locais, incluindo o prefeito. “Ele está sempre animado com isso”, disse Greer, que ajuda a fazer os vídeos. A biblioteca tem planos de fazer TikToks com líderes de torcida e com o clube de teatro da escola local no próximo ano.

“Podemos não torná-los leitores neste ano ou no próximo”, disse sua colega Mary Bass, 30, supervisora assistente de atendimentos juvenis que comanda a biblioteca Kankakee. “Mas eles saberão que estamos aqui enquanto crescem.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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