Ata do Fed mostra conforto com economia e nível dos juros

Autoridades do Federal Reserve (Fed) sinalizaram crescente otimismo com a economia dos EUA no mês passado, antes que a epidemia de coronavírus na China começasse a obscurecer as perspectivas de crescimento global mais firme em 2020. Na reunião de 28 e 29 de janeiro eles “viam a distribuição de riscos às perspectivas de atividade econômica como mais favorável do que na reunião anterior, embora vários riscos negativos permanecessem proeminentes”, segundo a ata do BC divulgada ontem. 

Assim que os EUA e a China assinaram um acordo que aliviou as tensões comerciais no mês passado, o coronavírus no gigante asiático reacendeu dúvidas sobre as perspectivas da economia global neste ano. A ata refere-se oito vezes à epidemia do coronavírus. As autoridades concordaram que os riscos potenciais do vírus “justificam a observação de perto”, segundo a ata. 

O Fed reduziu sua taxa de referência em três reuniões consecutivas no ano passado, para o intervalo atual entre 1,5% e 1,75% anuais, depois de julgar que qualquer interrupção nos gastos das empresas devido às incertezas comerciais ameaçava piorar a desaceleração do crescimento global. As autoridades mantiveram a taxa estável em suas duas últimas reuniões, em dezembro e janeiro, e não indicaram urgência em reverter os cortes. 

A incerteza comercial no ano passado complicou a abordagem das autoridades do Fed para estabelecer as taxas de juros, porque elas tentam prever o caminho mais provável para a economia, minimizando o potencial de cometer erros que são difíceis de corrigir. O coronavírus é outra questão importante para o Fed, porque a variedade de resultados potenciais para a economia global parece ampla. Uma possibilidade é um surto modesto que, como o Sars em 2003, seria contido em semanas e não deixaria uma marca duradoura nos investimentos e gastos globais. 

Mas a situação pode ser pior se os esforços para conter a epidemia infligirem um alto custo à economia chinesa e às cadeias de suprimentos globais no momento em que outras economias avançadas, como Alemanha e Japão, desaceleraram. O presidente do Fed, Jerome Powell, disse aos parlamentares na semana passada que o banco central vai querer ver evidências de que as rupturas decorrentes da China, a segunda maior economia do mundo, são persistentes e materiais para a economia dos EUA antes de considerar a possibilidade de voltar a cortar os juros. 

Os mercados futuros de juros sinalizam que os investidores esperam, cada vez mais, que o Fed reduza sua taxa ainda neste ano. As autoridades do Fed disseram que é muito cedo para determinar se isso vai ocorrer. “Se a situação piorar significativamente e começarmos a ter um impacto relevante na economia dos EUA, teremos que pensar em acomodações. Mas não acho que estamos nesse momento”, disse o presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, durante uma sessão de perguntas e respostas na semana passada. “Só precisamos deixar isso acontecer.” 

A ata diz que a maioria das autoridades no mês passado estava mais confiante de que, com o crescimento econômico sólido e a contratação contínua no mercado de trabalho, a inflação retornaria gradualmente à meta de 2% do Fed, depois que o indicador de inflação preferencial do banco central (o PCE) se aproximar de 1,6% no ano passado. Mas alguns membros disseram que estavam menos confiantes nessa perspectiva porque a inflação desafiava consistentemente as previsões de um retorno ao nível de 2%. 

Como parte de uma revisão estrutural de um ano de sua meta de inflação, as autoridades debateram propostas para adotar uma faixa de inflação em torno de sua meta de 2%. Uma dessas variantes discutidas no mês passado sinalizaria um desejo de buscar inflação no extremo mais alto da faixa para compensar perdas anteriores abaixo de 2%. 

Mas a ata mostrou que a maioria das autoridades expressou preocupação de que a introdução dessa faixa após anos de inflação abaixo da meta possa ser mal interpretada pelo público, de modo que o Fed se sinta confortável com a inflação abaixo de 2%. 

Separadamente, o gerente das operações de mercado aberto do Fed esboçou uma proposta para eliminar gradualmente os empréstimos de duas semanas lastreados em títulos do governo, chamados acordos de recompra ou “repo”, após abril. A essa altura, as autoridades esperam que o Fed tenha reconstruído suficientemente os saldos de reservas no sistema bancário para US$ 1,5 trilhão. Em meados de setembro, os mercados monetários negociaram títulos brevemente fora da faixa alvo do Fed, depois que as reservas caíram abaixo de US$ 1,4 trilhão. Posteriormente, o BC anunciou planos de reabastecer reservas no sistema bancário, realizando empréstimos de recompra e comprando títulos do Tesouro. 

https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/02/20/ata-do-fed-mostra-conforto-com-economia-e-nivel-dos-juros.ghtml

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