O menosprezo com que o Oscar tratou a mais recente tentativa da Netflix de se tornar o primeiro serviço de streaming a ganhar o prêmio máximo da Academia deve doer ainda mais após a Apple ter arrebanhado o troféu.
O “Ataque dos Cães” era o favorito para vencer o histórico Oscar de melhor filme até apenas a semana passada, quando o “No Ritmo do Coração”, da Apple – um filme sobre as ambições musicais da filha de adultos surdos -, pareceu vir do nada para assumir a dianteira.
Como Chris Grimes, jornalista do “FT” em Los Angeles, escreveu: “A vitória da Apple, a empresa mais valiosa do mundo, será vista como profundamente simbólica em Hollywood”.
A Apple comprou o filme “No Ritmo do Coração” no festival de cinema Sundance, no ano passado, por US$ 25 milhões. De acordo com algumas estimativas, gastou quase o mesmo valor no marketing do filme durante a temporada de premiações deste ano, segundo Matthew Belloni, da empresa de mídia por assinatura Puck, que observou em sua prévia do Oscar: “A Netflix e a Amazon, após mais de uma década de conteúdo original, e de cinco anos em que injetaram, agressivamente, centenas de milhões de dólares em campanhas exuberantes, terão sido ultrapassadas por sua concorrente tecnológica mais rica.”
“No Ritmo do Coração” levou três prêmios da Academia no total, entre os quais o de melhor ator coadjuvante e o de melhor roteiro adaptado, coroando as vitórias anteriores nos prêmios SAG, PGA, Bafta, Critics Choice e Film Independent Spirit.
Abbey White, da revista “Hollywood Reporter”, ficou surpresa com a velocidade pela qual a Apple arrebatou o reconhecimento máximo do setor: “Acho que nem eu nem nenhuma outra pessoa poderia ter imaginado, quando estava na plateia da sede da Apple em Cupertino para a divulgação dos planos de conteúdo original da Apple, em 25 de março de 2019, que a Apple conquistaria o Oscar de melhor filme em apenas três anos.”
A Apple afirma que suas séries e filmes de TV conquistaram agora 240 vitórias em premiações e 953 indicações, entre as quais várias para sua comédia de futebol americano “Ted Lasso”.
Apesar de todos esses prêmios, não se sabe quantos iPhones acessam “No Ritmo do Coração” ou “Ted Lasso”. A Apple não divulgou dados de assinantes da TV+.
Mas a questão não é simplesmente a audiência: dificilmente poderia haver um filme mais identificado com a imagem que uma empresa deseja associar com seus produtos do que esse drama familiar alto- astral com uma mensagem inclusiva.
A única decepção da Apple deve ser o fato de seus minutos de glória terem sido ofuscados por uma ocorrência bem menos edificante entre Will Smith e Chris Rock.
