Amazon quer que Alexa faça mais do que tocar música

A Amazon se vangloria de que a Alexa, sua assistente pessoal acionada por um sistema de inteligência artificial, tem mais de 50 mil habilidades. O problema é que a maioria das pessoas ainda a usa para acender a luz, tocar músicas ou cronometrar o cozimento do macarrão.
A gigante do varejo online, que disputa com o Google pela supremacia no ramo de assistentes de voz, está acelerando seus esforços para tornar Alexa mais útil —esforços que vão de melhorar sua capacidade de conversação a oferecer incentivos financeiros a desenvolvedores para que criem apps de voz compatíveis.
No mês passado, a empresa autorizou os desenvolvedores de aplicativos para a Alexa a vender habilidades a usuários, como conteúdo especial em um serviço de mídia ou poderes especiais em um jogo.
“O fenômeno é exatamente o que vimos com a App Store do iPhone”, disse Ahmed Bouzid, antigo vice-presidente de produtos da Alexa e presidente-executivo da Witlingo, que desenvolve ferramentas que ajudam a criar e lançar aplicativos de voz para as plataformas Alexa e Google. 
“É economia pura e motivação para desenvolver habilidades pelas quais as pessoas se disponham a pagar mais.”
A Amazon vendeu 47 milhões de aparelhos da linha Echo desde o lançamento do primeiro modelo no final de 2014, o que lhe dá uma fatia de 51% no mercado de alto-falantes inteligentes, de acordo com a Loup Ventures.
Os preços dos aparelhos variam de US$ 40 (R$ 147,59) para o Echo Dot, um dispositivo com o tamanho de um disco de hóquei, a US$ 230 (R$ 848,63) para a mais recente versão dotada de tela. 
No mês passado, a empresa lançou 15 modelos na linha Echo, entre os quais um amplificador e um forno de micro-ondas capaz de se comunicar com a Alexa.
Alguns compradores do Echo, como Suzanne Plunkett, 59, de Chicago, sentem que não estão recebendo o valor que esperavam. 
Ela disse que desde que ganhou o Echo como presente de Natal, em 2016, só o usou algumas vezes, “e duas delas só para pedir que ele contasse uma piada”. 
Um motivo para que ela não tenha dedicado o tempo necessário a aprender como o aparelho funciona é que ela já tem outras maneiras de ver as horas e acender a luz. “Para mim, parecia só uma engenhoca sem muita função.”
Parte da resposta da Amazon a avaliações como essa é reforçar a capacidade da Alexa para conduzir conversas semelhantes às humanas. Agora, o sistema responde a uma série de comandos, todos dentro de um mesmo tópico, ou oferece sugestões, como a de que alguém talvez queira apagar as luzes antes de dormir.

Rohit Prasad, vice-presidente de ciência da Alexa, disse que a Amazon abriu milhares de “skills” a buscas. Quando um usuário pergunta como tirar uma mancha de uma camisa, a Alexa forma uma lista de “skills” (habilidades) a oferecer, determina qual deles tem a melhor resposta, e apresenta essa resposta —no caso, um app da revista Good Housekeeping que oferece dicas e instruções sobre como tirar manchas.
“Acho que estamos chegando ao ponto em que os consumidores começam a dizer que a Alexa é capaz de fazer muito mais coisas do que eles imaginam”, disse Tom Taylor, vice-presidente sênior da Amazon Alexa.
As assinaturas e outras compras oferecidas como parte dos “skills” que a Amazon agora disponibiliza custam tipicamente de US$ 0,99 (R$ 3,65) a US$ 1,99 (R$ 7,34), com descontos para os membros do programa Amazon Prime.
A decisão de liberar sua venda surgiu que a Amazon anunciou, no ano passado, que pretendia recompensar os desenvolvedores por meio de pagamentos associados a números de download e uso. 
Os incentivos têm o objetivo de convencer empresas e pessoas como Gal Shenar, desenvolvedor de software radicado em Boston, a desenvolver “skills” mais fortes para a Alexa, para melhorar a qualidade de sua loja.Shenar criou um jogo para usuários da Alexa chamado “Escape the Room”.
Os usuários recebem uma situação imaginária, como um carro submerso em água, e usam comandos verbais para averiguar a área que os cerca, encontrar ferramentas e tentar escapar. Ele adicionou ao jogo dicas que podem ser compradas —e os usuários, que já atingem a marca das centenas de milhares —estão começando a comprar. 
“Embora muitos dos potenciais lucros sejam facilmente acessíveis” na App Store da Apple, “no caso da Alexa isso ainda não é possível”, disse Shenar.
Monetizar aspectos da criação de “skills” para a Alexa “fará muita diferença na maneira pela qual empresas abordarão a criação de ‘skills’ para a plataforma”, ele prevê.
Michelle Audish, 20, até recentemente só usava o Echo de sua família para ouvir música ou acender e apagar luzes, mas recentemente perguntou a Alexa sobre uma caixa gigantesca que tinha visto no Los Angeles Grove, um shopping center perto de sua casa. A caixa era um anúncio para o filme “Jurassic World”.
Em seguida, a Alexa lhe ofereceu a oportunidade de jogar um jogo de aventura com um tema associado ao filme, e ela pagou US$ 1,99  (R$ 7,34) para jogar por cerca de uma hora, respondendo “sim” ou “não” a perguntas e tentando salvar dinossauros.
“Jamais tinha jogado alguma coisa no Echo”, ela disse, acrescentando ter gostado da experiência. “Eu nem sabia que era possível jogar no Echo.”

https://www1.folha.uol.com.br/tec/2018/10/amazon-quer-que-alexa-faca-mais-do-que-tocar-musica.shtml

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