Amazon fecha serviço de telemedicina

Financial Times; A Amazon fechará seu serviço de telemedicina, a Amazon Care, pondo fim ao ambicioso plano de lançar essa plataforma própria para atender a “milhões” de pacientes pelos Estados Unidos, que fazia parte do objetivo, há muito declarado, de revolucionar o setor de saúde no país.

Em mensagem enviada ao pessoal da Amazon Care na quarta-feira, Neil Lindsay, chefe da Amazon Health Services, disse que o serviço de telemedicina – que prometia médicos, enfermeiros e outros especialistas em saúde à disposição “sob demanda” dos clientes, 24 horas por dia – não era a “solução de longo prazo” certa para as empresas externas às quais pretendia vender o serviço. 

“Esta decisão não foi tomada sem reflexão e só se tornou clara após muitos meses de cuidadosa consideração”, escreveu Lindsay no memorando, ao qual o “Financial Times” teve acesso. 

“Embora nossos membros inscritos tenham adorado muitos aspectos da Amazon Care, [o serviço oferecido] não é completo o suficiente para os grandes clientes pessoa jurídica que estávamos almejando.” 

Analistas disseram que o fechamento da Amazon Care, programado para o fim do ano, não deve ser interpretado como um recuo em seus esforços para se firmar no setor de saúde dos EUA, que movimenta receitas de US$ 4 trilhões. “Isso não é, de forma alguma, um sinal de fracasso”, disse Natalie Schibell, da firma de análises de mercado Forrester Research. “É uma jogada estratégica.” 

A decisão da Amazon se dá após a empresa ter acertado a aquisição da One Medical, uma grande rede de prestadores de atendimento básico de saúde, por US$ 3,9 bilhões – seu maior negócio até hoje no setor. 

A aquisição, se aprovada pelas autoridades reguladoras, daria à Amazon grande parte do acesso aos funcionários de empresas que tentava conseguir com a Amazon Care, segundo Christina Farr, especialista em investimentos em tecnologia de serviços de saúde na Omers Ventures, o que torna a plataforma interna redundante. 

Entre as empresas que oferecem o One Medical a seus funcionários está o Google, por exemplo. Com um quadro de funcionários de mais 1,5 milhão de pessoas, mais de 200 milhões de assinantes “Prime” pelo mundo e enorme infraestrutura de logística e computação na nuvem, a posição da Amazon há muito é considerada ideal para concorrer contra alguns dos líderes do setor de saúde – cujos preços das ações recuam, ainda que brevemente, sempre que a empresa anuncia algum negócio na área. 

As ambições da Amazon na área da saúde vêm sendo trabalhadas há anos e devem se intensificar sob o comando de Andy Jassy, que substituiu Jeff Bezos como executivo-chefe em 2021. 

A Amazon também está entre os ofertantes interessados em comprar Signify Health, uma provedora de assistência médica domiciliar, que estuda várias propostas. A decisão de tentar a aquisição, que seria a quarta grande transação da Amazon na área de saúde nos últimos anos, mostra a determinação da empresa em testar a disposição das autoridades antitruste em conter sua estratégia de fusões e aquisições. A Amazon e a Signify Health não quiseram comentar as informações. 

“Eles aceitaram o desafio de [Lina] Khan para ver se não é um blefe”, disse um investidor veterano, que acompanha a disputa pela Signify Health, referindo-se à presidente da Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) uma voz crítica ao poder de mercado da Amazon. 

Outro advogado disse que a Amazon está mostrando sua disposição para ir à Justiça contra os reguladores, se necessário. 

“O negócio de saúde da Amazon é pequeno em relação a outros nos EUA”, disse um advogado especialista em concorrência, que pediu para não ser identificado por motivos de confidencialidade perante o cliente. “No momento, qualquer aquisição que não seja de um megaparticipante no setor não será bloqueada.” 

Uma fonte que já trabalhou com a Amazon disse que a empresa está preparada para lidar com a reação política e da mídia e que confia em uma aprovação dos reguladores caso ela avance na compra da Signify. 

“Eles não têm problemas em ir aos tribunais”, disse a fonte. “Eles sabem que podem vencer, então não estão deixando a retórica antitruste na capital [Washington] demovê-los de considerar a compra de um ativo.” 

Um porta-voz da FTC não quis comentar as aquisições da Amazon na área de saúde, mas citou as declarações de Khan em um fórum neste ano, no qual ela disse que a “vida e morte” do setor de saúde é “uma das [questões] mais críticas” que precisam ser examinadas por sua agência. 

A tentativa de aquisição da prestadora de serviços de saúde domiciliar LHC Group, por US$ 5 bilhões, pela UnitedHealth, uma grande seguradora de saúde, foi adiada para que a FTC procure mais informações sobre a transação. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/08/25/ft-amazon-fecha-servio-de-telemedicina-e-reorienta-de-ambies-no-setor.ghtml

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