A União Europeia (EU) precisa adotar uma política de crescimento econômico para tempos de guerra, para contornar o risco de estagflação, disse ontem o comissário de Economia da UE, Paolo Gentiloni, na véspera da cúpula de líderes dos 27 países do bloco.
Para Gentiloni, os líderes europeus precisam utilizar os instrumentos comuns do bloco para dar uma primeira resposta. Ou seja, é preciso assegurar flexibilidade tanto em matéria de ajuda do Estado ou nas regras orçamentárias – para que os governos possam gastar mais sem sofrerem reprimendas por parte da UE.
Ele nota que a Comissão Europeia, o braço executivo da UE, previa um crescimento de 4% na Europa em 2022. Agora, será mais fraca, com a guerra. Ao mesmo tempo, a inflação está em forte alta, com o choque de preços do petróleo, do gás e do trigo, por exemplo.
Desde o começo do ano, o preço do gás deu um salto de 140%, e o do petróleo, de 51%. Cereais e componentes que eram fabricados na Ucrânia estão em falta e, como diz o comissário, a ruptura nas cadeias de abastecimento se multiplicam.
O plano de recuperação europeu de € 750 bilhões, aprovado na esteira da pandemia de covid-19, focou amplamente na transição energética para combate às mudanças climáticas. Para o comissário, o choque da guerra não implica necessariamente sacrificar as ambições climáticas, e sim elevar objetivos de energias renováveis.
Esse plano está sendo em parte financiado por uma inédita emissão de dívida conjunta da UE. É possível que o novo pacote de gastos que está sendo discutido, para a economia de guerra, também seja financiado por emissão de dívida conjunta.
O CPB, Escritório de Analises Economicas holandês, prevê que, com a inflação bem maior neste ano, o poder de compra da população na Holanda terá contração de 2,7% em média. Durante a pandemia de covid-19, a inflação caiu e os salários subiram no país, e a alta de poder de compra foi de 2,5% em 2020 e 0,1% em 2021. Já neste ano, a inflação subiu desde o começo, até como antecipação da crescente tensão geopolítica.
A consultoria GfK calculou em novembro do ano passado que no total os europeus tinham € 10,2 trilhões em 2021 para gastar em alimentos, alojamento, serviços, energia, aposentadoria privada, seguros, férias, consumo. Isso correspondia a poder de compra per capita de € 15 mil, ou alta de 1,9% em relação ao ano anterior.
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2022/03/10/ue-prepara-pacote-para-economia-de-guerra.ghtml