Sob pressão, Japão aceita negociar acordo comercial com os EUA

EUA e Japão concordaram em abrir negociações comerciais, após pressão crescente do presidente Donald Trump pela redução do déficit comercial americano com o Japão, que foi tema de sua campanha presidencial.
Falando na ONU ao lado do premiê japonês, Shinzo Abe, Trump disse que as negociações comerciais entre as duas potências econômicas vão gerar “uma coisa muito empolgante”. “Isso só pode ser melhor para os Estados Unidos”, disse Trump. “Vai ser melhor, na verdade, para ambos os países.”
Em nota, EUA e Japão disseram que “abrirão negociações, após a conclusão dos trâmites internos necessários, para um acordo EUA-Japão de comércio de produtos, bem como em outras áreas fundamentais, como serviços, capazes de produzir avanços em breve”.
A nota acrescentava que ambos os países “fortalecerão a cooperação para proteger mais empresas e trabalhadores americanos e japoneses de políticas e práticas não pautadas pelo mercado implementadas por terceiros países”, numa provável referência à China.
O Japão vinha se relutando em iniciar negociação comercial formal com os EUA e continua frustrado por Trump ter retirado os EUA do acordo Parceria Transpacífico (TPP) no ano passado. Mas Tóquio teme possível tarifa americana sobre automóveis – a mesma ameaça que Trump fez recentemente à União Europeia para convencer os europeus a negociar.
Na campanha presidencial de 2016, Trump criticou reiteradamente o Japão, além da China, por seu superávit comercial com os EUA. Mas ele adotou uma postura inesperadamente branda com o Japão no seu primeiro ano de governo. Isso ocorreu em parte devido ao sólido relacionamento cultivado por Abe com Trump, além do foco do governo Trump em outras questões comerciais, como a tentativa de renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês).
Alguns meses atrás, Robert Lighthizer, o representante comercial dos EUA, disse a Toshimitsu Motegi, ministro japonês da Economia e Comércio, que estava mais concentrado na China e que não estava preocupado em buscar um acordo comercial com o Japão. Mas advertiu que Trump ainda queria tratar da questão do Japão.
Falando à imprensa após o encontro ontem de Trump com Abe, Lighthizer disse não saber ao certo por que o Japão tinha mudado de posição sobre as negociações. “Quanto ao motivo pelo qual eles mudaram sua estratégia, não sei. Foi uma medida inteligente.”
A iniciativa de abrir negociações comerciais com o Japão ocorre num momento em que o governo Trump intensifica sua guerra comercial a China que, para preocupação cada vez maior dos executivos-chefes de empresas dos EUA, poderá começar a prejudicar os consumidores americanos. Os EUA impuseram nesta semana tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos importados da China.
Lighthizer disse que não houve “quaisquer fatos novos” em termos do conflito comercial EUA-China, mas que o governo
Trump está concentradamente atento. “Vamos ver como isso se desdobra com o passar do tempo”, afirmou.
Os EUA concluíram recentemente um acordo com o México e tentam forçar o Canadá a negociar de forma que equivaleria a rever o Nafta. EUA e Canadá não conseguiram ainda chegar a um acordo e enfrentam um cronograma apertado devido a vários prazos dos respectivos Congressos. “Esperamos chegar a um acordo com o Canadá. Estamos ficando sem tempo”, disse Lighhizer.

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