A empresa de inteligência artificial DeepMind, com sede no Reino Unido e controlada pela Alphabet, informou ontem ser capaz de prever a estrutura das proteínas, um avanço revolucionário que poderá acelerar drasticamente a descoberta de novos medicamentos.
Os cientistas levaram décadas tentando descobrir como as proteínas, que começam como cadeias de compostos químicos, se enovelam em formas tridimensionais, que passam a definir seu comportamento.
Identificar a forma de uma única proteína sequer pode levar anos, mas a DeepMind disse que seu sistema AlphaFold conseguiu fornecer resultados precisos, com margem de erro da largura de um átomo, em poucos dias.
“Esse avanço é o nosso primeiro grande salto, para enfrentar um grande desafio de longa data da ciência”, disse Demis Hassabis, fundador e executivo-chefe da DeepMind, acrescentando que prevê que a descoberta terá “um grande impacto sobre a nossa capacidade de entender as doenças e a biologia da vida”.
A DeepMind foi adquirida pelo Google em 2014, por 400 milhões de libras esterlinas.
Uma compreensão das proteínas e de seu comportamento pode contribuir para os trabalhos dos pesquisadores sobre quase todas as doenças, inclusive sobre a covid- 19.
“Mesmo minúsculas reorganizações dessas moléculas vitais podem ter efeitos catastróficos sobre a nossa saúde, portanto uma das maneiras mais eficientes de entender a doença e encontrar novas terapias é estudar as proteínas envolvidas”, disse John Moult, o organizador de uma competição mundial para solucionar o enovelamento de proteínas.
Existem também usos práticos para o programa da DeepMind em outros campos da ciência, como a descoberta de enzimas capazes de decompor dejetos.
O AlphaFold foi instruído sobre 170.000 estruturas conhecidas ao longo de algumas semanas. “Ver a DeepMind produzir uma solução para isso, tendo trabalhado pessoalmente nesse problema por tanto tempo e após tantas paradas e recomeços com dúvidas sobre se algum dia chegaríamos lá, é um momento muito especial”, disse Moult.
“Será empolgante ver as muitas maneiras pelas quais isso vai mudar estruturalmente a pesquisa biológica”, disse o professor Venki Ramkrishnan, laureado com o prêmio Nobel e presidente da Royal Society, ao qualificar a descoberta de “avanço impressionante”.