‘Quad’ quer cooperação em terras-raras contra a China

Estados Unidos, Japão e Índia estão prestes a unir forças para criar uma cadeia produtiva de terras-raras para enfrentar o domínio da China no suprimento desses elementos cruciais para fabricantes de produtos como smartphones, motores de alto desempenho e baterias para veículos elétricos. 

A China hoje produz quase 60% das terras-raras do mundo e sua força no mercado traz preocupações quanto ao suprimento. Os países do Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad) pretendem enfrentar esse domínio cooperando com o financiamento de novas tecnologias de produção e projetos de desenvolvimento. Eles também pretendem liderar o caminho na elaboração de uma regulamentação internacional. 

Hoje, os líderes do Quad deverão confirmar a intenção de reduzir a dependência em relação às terras-raras produzidas na China. Em reunião on-line, o premiê do Japão, Yoshihide Suga, o presidente dos EUA, Joe Biden, o premiê da Austrália, Scott Morrison, e o premiê da Índia, Narendra Modi, também deverão compartilhar preocupação com ambições marítimas da China. Além disso, devem chegar a acordo para fornecimento de vacinas contra a covid-19 para países em desenvolvimento. 

Grandes empresas de tecnologia dependem das terras-raras produzidas na China, como o neodímio, essencial para os veículos elétricos, e o lítio, usado em baterias. Os metais também são essenciais para turbinas eólicas e outros equipamentos para a redução das emissões de carbono. 

A segunda maior economia do mundo goza praticamente de um monopólio na separação e purificação das terras-raras, processos que também levantam preocupação quanto ao impacto no solo e outros danos ambientais. 

O país não tem tanto domínio na mineração desses elementos. Os EUA exportam o minério de terras-raras produzido internamente para a China e, então, importam da China 80% de seu suprimento de terras-raras refinadas. 

Segundo o Serviço Geológico dos EUA, em 2020 a China produziu 58% das terras-raras mundiais, abaixo dos 90% observados há quatro anos, uma vez que EUA e Austrália foram gradualmente aumentando sua produção. 

A China considera as terras-raras um recurso estratégico e usa seu quase monopólio como ficha de barganha diplomática. Em 2010, o suprimento de terras-raras chinesas para o Japão foi suspenso depois de Tóquio nacionalizar as ilhas Senkuku. O Japão diz que sua soberania sobre as ilhas no Mar do Leste da China não está em contestação, mas a China, que reivindica as ilhas e as chama de Daoiyu, reagiu com veemência. 

Quando a China interrompeu as remessas de terras-raras, os preços de alguns dos metais aumentaram quase nove vezes. E parece que a China não pretende parar por aí com sua diplomacia das terras-raras. Recentemente, anunciou que estudava limites às exportações. 

Em 24 de fevereiro, Joe Biden, assinou decreto ordenando uma avaliação de 100 dias sobre produtos cruciais em cadeias produtivas, com foco nas de chips de computador, baterias de alta potência e princípios ativos farmacêuticos, além de minerais essenciais e materiais estratégicos. Esta última categoria inclui as terras-raras. 

Os países do Quad primeiro pretendem criar tecnologias para o refino das terras-raras. Os veios desses minerais frequentemente contêm materiais radioativos, o que faz o processo de refino, dominado pela China, gerar grandes volumes de lixo radioativo. 

A China, em parte graças a suas restrições ambientais mais permissivas, conseguiu vantagem de preço no mercado de terras-raras. Como resultado, os países do Quad se empenharão em desenvolver tecnologias de baixo custo para lidar com o processamento dos minérios e o lixo radioativo. 

Os quatro aliados também pretendem organizar um processo para que instituições financeiras ligadas aos governos forneçam empréstimos sindicalizados para atividades de exploração e refino.

O governo do EUA já financia planos para processar minérios australianos no EUA, e o Japão cogita fazer parte dessa operação. 

Por sua vez, a Agência Internacional de Energia (AIE) planeja criar regras que façam a China deixar de impor controles sobre as exportações. A Índia não é integrante da AIE, mas em janeiro, a pedido do Japão, EUA e Austrália, o governo indiano e a instituição assinaram uma Parceira Estratégica, fortalecendo sua colaboração em várias áreas vitais. 

A AIE pedirá que os países europeus se juntem à discussão e planeja criar um arcabouço para que os países-membros apresentem informes sobre seus estoques de terras-raras e endureçam o monitoramento internacional. 

Segundo dados do Serviço Geológico dos EUA, o país foi responsável por 16% da produção mundial de terras-raras em 2020, a Austrália, por 7%, e a Índia, por 1%. 

A Índia tem 6% das reservas mundiais de terras-raras, e o Japão é um dos maiores consumidores do mundo. Se os países do Quad puderem cooperar na cadeia produtiva, da produção ao consumo, sua influência nesse setor crucial ganhará força. 

Os países do Quad têm outros incentivos. A Austrália e a China vêm se digladiando por questões de segurança e comércio exterior, enquanto a Índia e os chineses têm disputas fronteiriças na região do Himalaia. Esses confrontos levaram os quatro parceiros a aprofundar sua cooperação econômica e militar.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/03/12/quad-quer-cooperacao-em-terras-raras-contra-a-china.ghtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação