Preço do barril dá sinal de recuperação

Após atingir o fundo do poço em abril, a demanda por petróleo deu sinais de recuperação em maio e deve continuar a subir mês a mês daqui para frente. Os patamares de consumo, no entanto, tendem a se manter abaixo dos níveis pré-crise ainda por um tempo e impedir uma retomada mais sustentável da cotação do barril. 

Estudo da consultoria Accenture destaca que a crise atual reflete uma combinação inédita de fatores – choques simultâneos pelos lados da procura e oferta – e que o volume consumido diariamente ficará entre oito milhões e 18 milhões de barris abaixo de 2019. Na prática, isso significaria um corte de até um quinto na demanda mundial, frente ao ano passado. 

A expectativa é que esse encolhimento do consumo limite a recuperação dos preços, apesar da alta acumulada de 67,4% do valor do barril do tipo Brent (primeiro contrato) desde o início de maio. Em meio a sinais de flexibilização das medidas de isolamento social ao redor do mundo, a commodity recuperou parte da desvalorização dos últimos meses e voltou a superar a casa dos US$ 40 o barril, depois de três meses. 

Na sexta-feira, o contrato para agosto fechou com alta de 5,7%, cotado a US$ 42,3 o barril, em meio a notícias de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia concordaram em prorrogar os cortes vigentes de produção. 

Na avaliação da Bain & Company, a atual crise do setor deve estabelecer um novo patamar de preços, mais baixos, em relação aos patamares pré-crise. O sócio da consultoria, José de Sá, explica que choques do petróleo ocasionados por questões geopolíticas (como a Guerra do Golfo de 1991 e o ataque terrorista aos EUA, em 2001) ou por recessões econômicas (como a crise asiática de 1998 e a dos subprimes, de 2008) costumam recuperar os patamares de preços anteriores. O choque atual, no entanto, segundo ele, se assemelha mais às crises de 1986 e 2015. 

Ambos os casos, lembra o consultor, provocaram mudanças estruturais na indústria. Foi assim quando a Arábia Saudita, em 1986, abandonou o papel de “swing producer” – o produtor responsável por amortecer desequilíbrios entre oferta e demanda. E foi assim também quando a Opep, em 2015, decidiu não equilibrar a nova oferta vinda da produção do shale nos Estados Unidos, provocando a queda dos preços do petróleo. 

Esse tipo de crise costuma, na análise da Bain & Company, gerar quedas profundas nos preços, seguidas pela fixação de um novo equilíbrio de mercado ao fim do choque de preços. “Essa atual crise se parece assim [uma crise estrutural]. Podemos não retornar aos preços originais do petróleo que tínhamos antes da crise”, afirma Sá. 

A Accenture destaca que a demanda global por petróleo deve cair em 2020, pela primeira vez, desde 2009, quando a economia mundial ainda sofria os impactos da crise financeira originada a partir do mercado imobiliário americano. O consumo, no ano passado, foi de 100,74 milhões de barris por dia, em média, o que equivale a mais 0,8% em relação a 2018. 

Nas últimas quatro décadas, a indústria de óleo e gás foi atingida por mais de uma dúzia de choques, tanto pelo lado da oferta como pelo da demanda. A diferença é que desta vez – segundo a Accenture – os efeitos negativos da covid-19 sobre a demanda por petróleo devem coincidir com um incremento na oferta pela Opep+ (a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados) e, marginalmente, pela América do Norte. O excesso de oferta no mundo vai ficar entre 4 milhões e 8,8 milhões de barris de petróleo por dia, conforme indica o estudo assinado por Muqsit Ashraf, Manas Satapathy e Vivek Chidambaram. 

“Tudo indica que o pior [da crise] já passou”, diz Edson Bouer, diretor executivo da área de Energia da Accenture. “Mas seria demais afirmar isso peremptoriamente”, acrescenta. No contexto atual, as principais variáveis são a curva de expansão da covid-19 e as negociações envolvendo a Arábia Saudita. 

A Rystad Energy acredita que a demanda por petróleo atingiu o seu fundo do poço em abril, mas que deve subir mês a mês daqui para frente, embora os patamares de consumo tendam a se manter abaixo dos níveis pré-crise ainda por um tempo. 

A previsão da consultoria é que a demanda pela commodity cairá 11,5% em 2020, ante volume do ano passado, o equivalente a um corte de 11,4 milhões de barris ao dia no mercado, para 88,1 milhões de barris. Para 2021, a projeção é que o consumo fique em torno de 96,3 milhões de barris ao dia, o que representaria uma alta de 9,3% frente a 2020, mas ainda 3,2% abaixo dos patamares de 2019, nas contas da consultoria. 

A Rystad estima que a demanda caiu 20,5% em maio, ante igual mês do ano passado. Para junho, a previsão é que a queda seja menor, de 14,5%, na comparação anual. 

Como resultado da crise atual, Bouer – da Accenture – acredita que as companhias de óleo e gás terão de privilegiar projetos capazes de entregar o máximo de rentabilidade e liquidez, de forma a evitar o estrangulamento do seu fluxo de caixa. 

Apesar dos prognósticos desfavoráveis para o ano, a exportação petróleo pela Petrobras bateu recorde em abril. Impusionadas pela demanda da China e dos Estados Unidos, as vendas externas da companhia somaram 30,4 milhões de barris no mês. O total equivale a aproximadamente um milhão de barris exportados por dia. O recorde anterior havia sido estabelecido em dezembro, quando foi atingida a marca de 771 mil barris por dia. 

A alta produtividade dos campos petrolíferos situados na região do pré-sal – principalmente os de Lula e Búzios – se refletiu positivamente no desempenho do Estado do Rio de Janeiro, destaca Joilson de Assis Cabral, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Regional e Desenvolvimento, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). 

Em abril, a produção fluminense de óleo e gás – medida em barris de óleo equivalente (BOE) por dia – aumentou 4,79% em relação ao mês imediatamente anterior. Já em nível nacional, a produção permaneceu estável em abril. Barril de óleo equivalente é uma unidade usada para converter um volume de gás natural em um volume de óleo. 

No acumulado de janeiro a abril, a produção de óleo e gás no Estado do Rio somou 11,47 milhões de BOE por dia, o que representa um incremento de 26,81% frente aos quatro primeiros meses de 2019. No plano nacional, a expansão no período foi mais modesta: 16,80%. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/06/08/preco-do-barril-da-sinal-de-recuperacao.ghtml

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