Quando os eleitores do estado de Hesse, no centro-oeste da Alemanha, forem às urnas neste domingo (27), estarão definindo mais do que o equilíbrio de forças no tabuleiro político local.
Podem consolidar a ascensão na cena nacional do Partido Verde, o porta-estandarte de uma onda ecologista nascente, que se espraia para outros países da Europa, como Holanda, Bélgica e Luxemburgo.
Pesquisas mostram que, em Hesse, os verdes disputam a vice-liderança com o SPD (social-democracia), com chances reais de desbancar esses que são os principais fiadores da CDU (democratas cristãos) de Angela Merkel na coalizão governamental. Ambos estão na casa dos 21% de intenções de voto.
A título de comparação, os sociais-democratas tiveram 31% dos votos em 2013, contra 11% dos ecologistas –a CDU, ainda que na liderança, deve sofrer tombo semelhante ao da sigla aliada.
Se confirmado o desempenho, os verdes alemães terão dado sua segunda demonstração de força em duas semanas. No dia 14 de outubro, na Baviera, angariaram votos suficientes para pular de 17 para 38 cadeiras no Parlamento local e se tornar a segunda força ali, atrás apenas da CSU, “irmã” bávara da legenda comandada por Merkel.
No plano nacional, sondagens também já colocam os Grünen como o segundo partido preferido, desbancando a SPD. O índice de identificação com a agremiação é o maior em sete anos, desde o acidente nuclear em Fukushima (Japão), que obviamente pôs em relevo a plataforma ecologista.
Para além das fronteiras alemãs, há mais notícias positivas para esse campo. Na Bélgica, também em 14 de outubro, o Ecolo levou alguns distritos de Bruxelas, com porcentagens acima dos 30%, inéditas em sua história.
Em Luxemburgo, no mesmo dia, a bancada do Déi Gréng cresceu 50% (passou de 6 para 9 integrantes), maior variação positiva no xadrez legislativo do micropaís. Já na Holanda, o “boom” se deu ainda em 2017, quando os GroenLinks passaram de 4 para 14 assentos na Câmara.
Apesar do ganho de musculatura dos verdes em diferentes latitudes, é preciso ponderar que não se trata de fenômeno comparável em escala ao da ascensão da direita nacionalista e xenófoba na Europa.
O discurso ecologista conquista simpatizantes sobretudo na porção norte do continente, onde a economia vai relativamente bem e, por isso, questões como desemprego e orçamento público mobilizam menos os corações e mentes.
“O eleitorado padrão dos verdes é majoritariamente feminino e composto por pessoas com elevado nível de instrução, salários altos e que moram em perímetros urbanos”, diz o cientista político alemão Gero Neugebauer, pesquisador-sênior da Universidade Livre de Berlim.
Segundo ele, os partidos que integram esse movimento estão se beneficiando de uma gradual mudança de mentalidade sobre a dimensão do problema representado pela mudança climática e do fim do voto monolítico por categoria (tradicionalmente, trabalhadores sindicalizados votavam na social-democracia, cristãos na CDU, e assim por diante).
Mas, sobretudo, aproveitam-se da atual vulnerabilidade dos adversários no setor da centro-esquerda –a começar pelos sociais-democratas (não só os alemães)–, do desencantamento com o establishment partidário.
“Eles se vendem como o estado da arte da política, como detentores de soluções modernas para questões como a integração europeia ou a imigração. Porém, são vagos”, afirma Neugebauer.
“Se variáveis como a guerra comercial deflagrada por Donald Trump ou a tensão com a Rússia começarem a ameaçar a economia europeia, eles podem encontrar dificuldades em responder. São, em suma, partidos para clima bom.”
O francês Daniel Boy, diretor de pesquisa na Sciences Po (Instituto de Estudos Políticos de Paris), é outro a temperar a euforia verde. Na avaliação dele, o teste real para os ecologistas virá em maio de 2019, quando acontecem as eleições para o Parlamento Europeu.
A conscientização sobre a premência da pauta ambiental se disseminou ao longo das últimas décadas por causa de diretrizes continentais, muito mais do que por ações isoladas de governos nacionais, ele lembra. Diante disso, o pleito europeu deveria ser a “hora do show” do bloco verde.
Não foi o que aconteceu, entretanto, em 2014, quando essa aliança amargou o sexto lugar na votação geral (com menos de 7% dos sufrágios) e perdeu cinco cadeiras em relação a cinco anos antes.
“Os verdes padecem de um problema fundamental: a expectativa do eleitorado de que defendam a ecologia e nada mais”, afirma Boy. “Nesse campo, o público confia neles, mas não necessariamente no da política econômica ou no da gestão da educação.”
Segundo o pesquisador, esse ceticismo contrasta com o fato de as agremiações verdes com frequência adotarem discursos hiperabrangentes –na linha “temos uma solução geral, já que, de uma forma ou de outra, tudo passa pela ecologia”. “Acontece que essa mensagem não chega a lugar nenhum, não tem credibilidade”, avalia ele.
17,5%
Foi a votação dos ecologistas alemães na eleição regional da Baviera; o desempenho fez deles a segunda força política do estado
14
Número de assentos obtidos pelos verdes holandeses no pleito nacional de 2017, dez a mais do que cinco anos antes
30%
Foi a marca histórica alcançada pelos ecologistas belgas em alguns distritos da região de Bruxelas