A economia dos EUA surpreendeu com uma inesperada aceleração no segundo trimestre, reforçando os argumentos de que o país pode escapar da recessão, apesar das elevações das taxas de juro mais agressivas em uma geração.
O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA cresceu a uma taxa anualizada de 2,4%
no segundo trimestre, bem mais do que a maioria dos economistas previa, estimulado pelos vigorosos gastos do consumidor e por um investimento empresarial robusto. Mesmo assim, as pressões sobre os preços arrefeceram e a inflação subiu no ritmo mais lento em mais de dois anos.
Combinados com outros dados divulgados ontem, que mostraram encomendas de equipamentos para empresas mais fortes do que as esperadas e menos pedidos de auxílio-desemprego, os números do PIB reforçam o argumento de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode domar a inflação sem deixar milhões de pessoas desempregadas.
“Isto é o mais perto que já chegamos de um cenário Goldilocks [Cachinhos Dourados, nem quente demais, nem frio demais] desde o início da pandemia”, disse Diane Swonk, economista-chefe da KPMG em Chicago. “O que o Fed tem de se preocupar é se haverá ou não uma recuperação da inflação mais tarde.”
Mas também podem abrir caminho para outra elevação do juro pelo Fed, que na quarta-feira elevou sua taxa básica para o nível mais alto dos últimos 22 anos.
“Embora os economistas continuem divididos sobre a probabilidade atual de recessão, o relatório de hoje [ontem] aumenta as chances de um pouso suave”, disseram os economistas da Wells Fargo Tim Quinlan e Shannon Seery. “Dito isso, também é provável que ele ajude a manter o Fed sob pressão.”
As taxas de retorno dos bônus do Tesouro subiram após o dado do PIB. Em uma coletiva de imprensa após a última decisão do Fed, seu presidente, Jerome Powell, disse que autoridades monetárias podem optar por outra elevação ou por manter a taxa estável, e isso dependerá dos dados das próximas oito semanas. Ele também afirmou que a equipe do Fed deixou de prever uma recessão. Também alguns economistas privados começaram a reavaliar o momento ou as chances de uma recessão.
O que as autoridades gostariam de ver, porém, é um crescimento abaixo da tendência, e é possível que os dados sobre o PIB sejam fortes demais para serem reconfortantes. Apesar da rápida elevação das taxas de juro desde o início de 2022, consumidores e empresas continuaram a gastar com vigor durante todo este ano.
Os gastos do consumidor — o motor da economia americana — cresceram a um ritmo anualizado de 1,6% depois de terem disparado no início do ano, segundo a estimativa inicial do Departamento de Comércio divulgada ontem. Esse dado superou as previsões e refletiu gastos sólidos em bens e serviços. Por outro lado, os gastos do consumidor com serviços de alimentação e hospedagem foram os que mais subtraíram do PIB desde o segundo trimestre de 2020.
Mais notável foi o gasto das empresas. O investimento em estruturas cresceu a um ritmo vertiginoso, impulsionado pelas iniciativas recentes para estimular a produção fabril nacional. O governo do presidente Joe Biden aprovou uma série de leis que oferecerem financiamento direto e incentivos fiscais para empresas privadas dispostas a investir em áreas como semicondutores e veículos elétricos.
Yelena Shulyatyeva, economista sênior do BNP Paribas nos EUA, disse que para ela “a maior surpresa foi a força do setor empresarial, que parece ser impulsionado pela implementação” de leis como a Chips e a de Redução da Inflação.
As compras de equipamentos para empresas tiveram o ritmo mais rápido de crescimento em mais de um ano, em grande parte por causa dos gastos mais pesados com equipamentos de transporte, como aeronaves e veículos.
Outro relatório, sobre encomendas de fábricas, mostrou compras de equipamentos para empresas mais fortes do que o esperado. As encomendas de todos os tipos de bens duráveis subiram 4,7% em junho, a maior alta em quase três anos, impulsionada pelos pedidos de aviões comerciais.