O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA encolheu no primeiro trimestre do ano. O que aconteceu com a economia é outra história. O Departamento de Comércio informou ontem que o PIB sofreu uma contração de 1,4% no primeiro trimestre com relação ao último trimestre do ano passado (taxa anualizada e ajustada sazonalmente), o que marca sua primeira queda desde o segundo trimestre de 2020, quando a pandemia detonou a economia.
Mas o relatório do Departamento de Comércio também mostrou que a demanda privada na verdade se fortaleceu, e os gastos de consumidores, empresas e outros compradores privados americanos cresceram a uma taxa anualizada de 3,7% no primeiro trimestre, em comparação com 2,6% no quarto trimestre.
“Com forte crescimento dos gastos do consumidor, investimento empresarial e emprego no primeiro trimestre, a economia dos EUA não estava em recessão no início do ano”, disse Bill Adams, economista-chefe do Comerica Bank. “O crescimento deve ser retomado no segundo trimestre, à medida que o déficit comercial e os estoques deixem de pesar contra a economia.”
O presidente dos EUA, Joe Biden, atribuiu a contração a “fatores técnicos”, dizendo em comunicado que o emprego, os gastos do consumidor e o investimento permanecem fortes.
Um aumento no déficit comercial – ou seja, parte da demanda dos EUA foi atendida pela produção de outros países – tirou 3,2 pontos porcentuais do crescimento do PIB. Só que esse aumento foi causado em parte pelos efeitos disruptivos da pandemia sobre o comércio internacional: muitas cargas que deveriam ter chegado aos EUA no fim de 2021 só o fizeram no começo do ano.
No primeiro trimestre, os portos de Los Angeles e Long Beach receberam 31% mais contêineres carregados do que no mesmo período de 2019, enquanto no quarto trimestre receberam 3% menos do que três anos antes.
Outro fator que pesou sobre o PIB foi que, em termos sazonalmente ajustados, as empresas não acumularam estoques em um ritmo tão intenso quanto no quarto trimestre. Isso significou que menos produção foi destinada à reposição de estoques, o que tirou mais 0,8 ponto porcentual do PIB. Seja como for, a verdade é que a escassez deixou os estoques lamentavelmente baixos e, se tiverem a oportunidade, as empresas continuarão a reabastecer seus armazéns ao longo do ano. Isso deve favorecer o PIB nos próximos trimestres.
Enquanto isso, os gastos dos consumidores cresceram a uma taxa anualizada de 2,7% no primeiro trimestre. Isso se deve integralmente a um aumento de 4,7% nos gastos com serviços – uma indicação de como os americanos passaram a redirecionar seus gastos para outras coisas que não mercadorias à medida que diminuem os temores relacionados à pandemia.
Os gastos das empresas com equipamentos essenciais e similares foram significativos, e o investimento não residencial cresceu a uma taxa anualizada de 9,2%.
Por enquanto, o cenário parece indicar um crescimento robusto da economia americana nos próximos trimestres. O mercado de trabalho está forte e as famílias estão com folga em seus orçamentos, o que deve manter os gastos num ritmo superior ao da inflação.