Muitas pequenas empresas chinesas sofrem com a falta de encomendas e a interrupção das cadeias econômicas, o que as obriga a demitir ou reduzir salários para que continuem em atividade. O governo busca adotar medidas de crédito e incentivo para evitar demissões em massa
Quando o cinegrafista Mark Xia voltou ao trabalho este mês, depois dos feriados, a produtora de vídeo de Xangai onde trabalhava disse-lhe para tirar três meses de licença não remunerada, já que a epidemia do coronavírus provocava prejuízos às empresas.
Agora Xia está à procura de um emprego de meio período, depois que a produtora, de cerca de 100 trabalhadores, rejeitou seu pedido de que pagasse ao menos metade de seu salário mensal durante a suspensão e não lhe deixou opção a não ser se demitir.
“Eu entendo que o caixa da empresa está apertado”, disse Xia, de 25 anos. “Adiamos algumas filmagens em razão da epidemia e isso teve um enorme impacto, essa é a verdade.”
Xia é um dos muitos que perderam o emprego com as restrições rígidas de locomoção e muitas empresas fechadas, com interrupção da demanda e do fornecimento de bens e serviços. Muitas pequenas empresas sofrem com a falta de encomendas, o que as obriga a demitir ou reduzir salários para continuar em atividade.
Mas a epidemia ainda não deu sinais de ter chegado ao pico. Qualquer aumento rápido do desemprego pode representar um grande problema para os dirigentes obcecados pela estabilidade da China, num momento em que o crescimento da segunda maior economia do mundo já despencou para seus menores níveis em quase três décadas.
Segundo uma pesquisa recente das Universidades de Tsinghua e de Pequim, apenas 34% das quase mil pequenas e médias empresas consultadas avaliam que podem sobreviver por um mês com o fluxo de caixa atual. Um terço disse que podia aguentar por dois meses e 18% acreditavam ser capazes de se manter por três meses.
“Pode haver muitas demissões”, disse Wang Jun, economista-chefe do Banco Zhongyuan em Pequim. “Acho que é mais apropriado comparar o impacto atual ao da crise mundial, em vez do da Sars”, acrescentou, referindo-se à epidemia de 2002 e 2003.
Durante a crise financeira mundial de 2008 e 2009, cerca de 20 milhões de trabalhadores migrantes chineses perderam o emprego quando as exportações caíram. Isso levou a um enorme pacote de estímulos de Pequim que rapidamente impulsionou o crescimento, mas sobrecarregou a economia com dívidas. Em 2002 e 2003, ao contrário, a economia chinesa permaneceu firme, apesar da epidemia de sars.
Na semana passada, Pequim determinou aos governos locais que facilitassem o crédito às empresas, flexibilizassem prazos para pagamentos de dívidas e ampliassem a liberação do seguro-desemprego e outros créditos semelhantes.
Segundo economistas, empresas do extenso setor de serviços da China, de restaurantes e hotéis a lojas, cinemas e agências de viagens, foram as mais prejudicadas pela crise. “A situação do emprego está boa no primeiro trimestre, mas se o vírus não for contido até o fim de março, a partir do segundo trimestre veremos uma grande onda de demissões”, disse Dan Wang, analista da Economist Intelligence Unit. Ele prevê que a cifra de demitidos pode chegar a 4,5 milhões.
As empresas privadas respondem por 80% do emprego urbano. Antes do vírus, o desemprego já tinha aumentado – estava em 5,2% em dezembro, acima dos 4,9% de abril de 2018, quando a guerra comercial com os EUA espremeu as empresas.
O crescimento econômico diminuiu para 6% no quarto trimestre e o PIB fechou 2019 em 6,1% – o mais fraco em quase três décadas. Economistas têm reduzido repetidamente suas previsões de crescimento conforme o vírus se espalha.
A casa de investimentos Nomura espera um crescimento de 3% no primeiro trimestre, abaixo dos 3,8% anteriores em razão das das taxas de retorno ao trabalho abaixo das esperadas depois do feriado prolongado do Ano Novo Lunar e da lentidão na retomada dos negócios.