Pandemia muda conceitos da economia real, diz BlackRock

Presidente da maior gestora de fundos do mundo acredita que a pandemia vai levar as pessoas a repensar maneira como trabalhamos, compramos, viajamos e nos reunimos 

 “Em 44 anos no mundo das finanças, nunca vivi uma experiência parecida.” Com essas palavras, o presidente do conselho e CEO da BlackRock, Larry Fink, definiu os efeitos do coronavírus em sua carta anual a acionistas. “A pandemia tem impactado os mercados financeiros com rapidez e ferocidade normalmente vistas apenas em uma crise financeira clássica”, disse o executivo-chefe da maior gestora do mundo, com mais de US$ 7 trilhões sob administração. 

Segundo Fink, “em questão de semanas os índices acionários globais caíram das máximas para um ‘bear market’ [mercado em tendência de baixa]”. O CEO da BlackRock lembra ainda que, pela primeira vez desde 1997, ocorreu na bolsa de Nova York acionamentos seguidos do “circuit breaker”, um dispositivo de pausa nas negociações das bolsas para interromper a espiral de volatilidade. “Essas condições foram exacerbadas pelos baixos níveis recordes de liquidez na negociação de Treasuries, que serve como um referencial para precificar risco nos mercados”, diz Fink. 

Conforme o CEO da gestora, além da pressão sobre os mercados financeiros no curto prazo, os impactos da crise vão provocar mudanças em vários conceitos sobre a economia global. Fink cita a “admiração pela estratégia ‘just in time’ de cadeias de fornecedores e nossa dependência das viagens aéreas internacionais”. O executivo acredita que a pandemia vai levar as pessoas a “repensar fundamentalmente a maneira como trabalhamos, compramos, viajamos e nos reunimos”. 

Na carta, Fink considera mudanças ainda mais profundas. “Quando sairmos da crise, o mundo será diferente.” Para o gestor, a psicologia dos investidores vai mudar, os negócios vão mudar e o consumo vai mudar. Fink ressalta sua defesa da importância da visão de longo prazo. “Acredito que o pensamento de longo prazo nunca foi tão essencial como hoje. Companhias e investidores com um forte senso de propósito e uma abordagem de longo prazo estarão aptos a navegar por esta crise e suas consequências.” 

O mundo vai vencer a crise e a economia vai se recuperar, afirma. “E para os investidores que mantêm seus olhos não no chão instável sob seus pés, mas no horizonte à frente, há tremendas oportunidades nos mercados atualmente.” 

Fink aponta os ETFs como uma ferramenta importante para o ajuste dos portfólios. “Na medida em que os mercados experimentaram um estresse significativo devido às preocupações sobre a disseminação do vírus, os volumes de negociação de ETFs atingiram recordes, incluindo US$ 1,4 trilhão apenas nos EUA, ou 37% de toda a atividade do mercado americano de renda variável, comparado a 27% na média de 2019.” 

Fink abordou aspectos da indústria de investimentos. “No futuro, as gestoras terão de ser tão boas no uso da tecnologia quanto uma empresa de tecnologia.” Para ele, o futuro da indústria está no modelo de plataforma. Ele diz enxergar o serviço direto de distribuição de produtos “eliminando as comissões de corretagem nos EUA”. Os modelos de distribuição nos Estados Unidos e Europa têm mudado de remunerações por meio de comissões para modelos de taxa baseada em aconselhamento. “Isso muda fundamentalmente o horizonte de distribuição nos anos a seguir”, diz. 

Para Fink, “isso é bom para as pessoas, porque torna mais fácil para elas investir e se beneficiar com o crescimento do mercado de capitais”. O gestor avalia ser necessária a implementação de tecnologias que ajudem na construção de portfólios e administração do risco em escala. 

https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/03/31/pandemia-muda-conceitos-da-economia-real-diz-blackrock.ghtml

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