Uma frota de setenta novos ônibus elétricos será introduzida em Oslo até o final do ano, movida por biogás proveniente da reciclagem de restos de comida. Simultaneamente, milhares de novas viagens estão sendo acrescentadas à malha de transporte público já existente, para que a população da cidade use menos automóveis.
Em paralelo, repartições públicas estão desativando seus aquecedores a óleo e moradores vêm sendo estimulados a comprar menos e a emprestar mais, porque “não precisamos ter tudo”, diz Anita Trosdahl.
As iniciativas descritas por Trosdahl, responsável por desenvolver e implementar o programa de um ano inteiro dedicado ao meio ambiente na capital da Noruega, estão em andamento e constavam da proposta que a cidade apresentou à Comissão Europeia para que ganhasse o título de capital verde da Europa de 2019.
O selo é concedido anualmente, desde 2010, a cidades da União Europeia como uma forma de reconhecimento de ações sustentáveis das respectivas prefeituras nos cinco anos anteriores. Também serve para estimular a implantação de uma agenda verde local.
Segundo o site da premiação, a ideia é que outros municípios do bloco se inspirem a seguir o mesmo caminho. Estocolmo (Suécia), Hamburgo (Alemanha), Bristol (Inglaterra) e Nijmegen (Holanda) são algumas das cidades que já ganharam; em 2020, será a vez de Lisboa.
Cidade de 658 mil habitantes na qual as temperaturas médias no inverno ficam em torno dos 7ºC negativos, Oslo foi escolhida com base em 12 indicadores, incluindo qualidade do ar, mitigação de mudanças climáticas, mobilidade urbana sustentável e inovação verde.
Uma das principais iniciativas da prefeitura nos últimos anos foi a implantação do “orçamento de carbono”, em 2016. É uma ferramenta para administrar as emissões de gás carbônico da mesma forma com que se gerencia o orçamento anual da cidade.
Só que o “orçamento”, neste caso, é cada vez mais restritivo. A cidade espera cortar pela metade a emissão de CO2 produzido por carros, residências e empresas até o ano que vem, tendo como comparação valores de 1990: de 1,43 milhão de toneladas anuais para 715 mil.
“Você precisa medir onde vai usar o ‘crédito’ e indicar em quais áreas ele deve ser cortado. Esta é uma ferramenta governamental que me parece possível de ser adotada por qualquer cidade”, argumenta Trosdahl.
Seguindo uma tendência mundial, Oslo vem também desestimulando o uso de automóveis, ao passo em que investe no transporte público. “As pessoas dizem que a frequência [de partidas] de ônibus é o mais importante para convencê-las a deixar o carro em casa. Estamos implementando 4.000 novas viagens semanais, nos ônibus e nos barcos elétricos que levam as pessoas para as ilhas ao redor da cidade”, diz Trosdahl.
A conscientização verde parece estar dando resultados. Em março, o número de veículos elétricos comercializados no país superou a venda dos movidos a gasolina e a diesel pela primeira vez na história, divulgou o órgão de trânsito nacional.
Dos 18.375 carros novos registrados durante o mês, 58,4% eram elétricos. O país pretende parar de vender veículos a gasolina até 2025.
Mas há também ações que não são medidas numericamente e que prometem trazer uma mudança de comportamento nos habitantes da cidade a longo prazo.
Trosdahl conta que bibliotecas municipais têm sediado reuniões para os moradores trocarem objetos diversos que não querem mais, como ferramentas para pequenos consertos e equipamentos para esportes de inverno, a exemplo de esquis, que são passados de uma família para outra. A ideia é evitar o desperdício.
O selo de capital verde foi integralmente bancado pela prefeitura local, que não recebeu nenhum auxílio monetário de Bruxelas. Foram investidos 10 milhões de euros (R$ 43,8 milhões) no projeto.
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/04/oslo-quer-exportar-modelo-ecologico-de-cidade.shtml