ONU enfrenta teste de relevância e competição de Brics e G20

O principal palco político global começa nesta terça (19) marcado mais por suas ausências do que presenças, e para discutir sobretudo o fracasso no alcance de metas estabelecidas por ele próprio oito anos atrás.

O debate de alto nível da Assembleia-Geral das Nações Unidas, como é chamada a semana em que lideranças globais se reúnem na sede da entidade, em Nova York (EUA), acontece neste ano na sequência dos encontros de G7, Brics, G20, Asean e G77, para citar alguns mais relevantes.

Esses fóruns multilaterais não são novos, mas têm ganhado maior peso com a transformação do tabuleiro geopolítico global motivada pelos choques dos últimos anos, como a pandemia, a Guerra da Ucrânia e a ascensão da Ásia.

A principal vantagem é que esses espaços conseguem congregar países com algum terreno em comum, o que permite acordos concretos —limitados, sim, mas mais do que a ONU, com seus 193 membros, tem conseguido entregar.

“Sempre houve ‘forum shopping’. Sempre houve a sensação de que, quando você não consegue o que deseja das Nações Unidas, vai a outro lugar”, diz Joseph Majkut, do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos, com sede em Washington. “O que é diferente agora é que esses núcleos alternativos que estão se desenvolvendo são mais fortes, mais dinâmicos e há mais deles sendo liderados por competidores dos EUA, particularmente a China.”

Sintoma do desinteresse pelo encontro, neste ano apenas um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, a instância mais poderosa do sistema das Nações Unidas, será representado por seu presidente —o americano Joe Biden, anfitrião do evento.

O russo Vladimir Putin não participa há anos, e deve ser representado pelo chanceler Serguei Lavrov. O chinês Xi Jinping, que também costuma mandar seu chefe diplomático, neste ano resolveu enviar um vice-presidente para representá-lo, um cargo praticamente decorativo.

Desde que invadiu a Ucrânia, a Rússia tem se aproximado da China, e o antagonismo entre os dois países com os Estados Unidos e seus aliados, se agravado. No entanto, mesmo potências ocidentais resolveram esnobar o evento neste ano.

O francês Emmanuel Macron alegou um conflito de agendas para não comparecer. Na próxima semana, ele vai receber o rei Charles 3º, o líder do partido trabalhista britânico, Keir Starmer, e o papa Francisco.

O primeiro-ministro do Reino Unido não vai fazer parte da comitiva de sua ilha em terras gaulesas, mas tampouco vai para os Estados Unidos. Esta seria a estreia de Rishi Sunak na ONU, mas ele vai ficar em seu país em meio a crescentes problemas domésticos.

“Acho que todos nós gostaríamos de vê-los aqui, mas isso não vai mudar a intensidade das discussões que teremos”, afirmou a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, ao ser questionada sobre as ausências em evento na última sexta.

Para além dos membros com direito a veto do Conselho de Segurança, o indiano Narendra Modi, que não só participou do encontro do Brics como acabou de receber o G20 em seu país, também não vai a Nova York.

Nesse contexto, as grandes estrelas da ONU neste ano devem ser o presidente americano, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o ucraniano Volodimir Zelenski.

O petista deve repetir em seu discurso a demanda histórica do Itamaraty por uma reforma do sistema de governança internacional que resulte em maior representatividade para o Sul Global —apelo que deve encontrar muito mais apoio do que quando foi feito anteriormente.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/09/onu-enfrenta-teste-de-relevancia-com-evento-esvaziado-e-competicao-de-brics-e-g20.shtml

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