As cerimônias organizadas por Emmanuel Macron para o 100.º aniversário do fim da 1.ª Guerra foram maravilhosas, comoventes e fervorosas. Todos os 80 chefes de Estado e de governo falaram de seu horror da guerra, das carnificinas e do amor que tinham uns pelos outros. Todos – ou quase todos – defenderam a amizade entre os povos.
Nas multidões dos Champs-Elysées, nos rostos dos mais emocionados, havia lágrimas. Todos nós nos amávamos, os checos e os irlandeses, os italianos e os poloneses, era como um milagre.
Essa efervescência durou apenas o tempo das cerimônias. Antes mesmo de aterrissar em Paris, o “líder do mundo ocidental”, Donald Trump, enviou a seu “amigo” Macron um feroz tuíte para “castigá-lo” por ter desejado a criação de uma defesa da Europa, destinada a se proteger da Rússia, ou da China ou mesmo, nunca saberemos, até dos EUA (é verdade que a formulação de Macron não foi uma obra-prima de delicadeza).
Um pouco mais tarde, Trump estava amuado, preferindo recolher-se, solitário, aos túmulos dos soldados americanos que haviam caído na França no fim da guerra. Evidentemente, havíamos compreendido alguns meses atrás que os EUA de Trump retornaram a uma tradição com a qual romperam desde 1945.
Mas com essas cerimônias do centenário, ficou em destaque essa ruptura entre Trump e a Europa, e especialmente entre Trump e as instituições “supranacionais” e “multilaterais” da Europa (UE). Devemos admitir que ela é eficaz, nítida, incisiva. E surge a questão: Como pode a Europa “estar à altura” diante desses três monstros que são a imensa China, a imensa Rússia, a imensa América?
A resposta é simples: fortalecendo a União Europeia, massageando-a, coroando-a com uma diplomacia comum, um Exército, etc. E desde sua eleição, há um ano e meio, aqui está a ideia de Macron: a Europa é mais rica que os EUA, etc. Por isso temos de reformar a União Europeia, fortalecê-la, equipá-la com novas funções, de uma diplomacia comum. Podemos, então, dispensar o apadrinhamento dos EUA.
Essa visão de Macron é séria, promissora. O inconveniente é que está obsoleta. Foi atraente dois anos atrás, quando Macron entrou na arena política, mas hoje é irrealista e como dizem alguns, até mesmo utópica, já que a União Europeia “não é mais o que foi”: cansada, sem energia com muitos de seus “membros” querendo fortalecer o tema da “nação” em vez de mesclar a nação em uma estrutura federativa.
Entre as nações de peso que poderiam apoiar, até certo ponto, apenas os devaneios de Macron, existe só um grande país, é a Alemanha de Angela Merkel. Mas ao pobre Macron “falta a sorte”. Merkel está agora em um trono sendo devorado pelos vermes. Macron, portanto, encontra-se sozinho. Mas o francês tem essa virtude (ou esse defeito): ele persiste.
Assim, mesmo que a Europa demore a obedecê-lo, persegue sua meta inalterada, a de dotar a Europa de tal poder que possa competir ombro a ombro com outras grandes nações: China, Rússia e, como disse Macron, em sua frase desajeitada, “até com os EUA”.
Que alianças poderão recompor a Europa, reuni-la, a ponto de torná-la igual a outros “grandes”? Existe a Itália. Mas a Itália tem um governo “populista-fascista”, francamente hostil à UE. Há a Áustria. “Ah, não mencione isso. A Áustria tem um poder populista, pouco europeu, nem um pouco na verdade”.
Do outro lado da Europa, existe um grande país, a Polônia, tradicional aliado da França. Mas a História, como Macron parece ignorar, é uma forma que se move. Nos dois últimos anos, a Polônia adotou um governo “nacionalista”. Não é de se admirar que entre Varsóvia e Bruxelas circule um frio polar.
Quando visitou Washington, o presidente polonês, Andrzej Duda, foi ainda mais longe: ele ofereceu US$ 2 bilhões a Donald Trump para instalar uma base militar permanente dos EUA em território polonês.
Na União Europeia, esta oferta provocou algumas caretas. Às quais, um diplomata polonês respondeu: “Não compartilhamos a análise francesa e alemã, segundo a qual os EUA abandonaram a Europa. Trump fez muito mais por nós do que nos prometeu Obama”.
Observe-se que Varsóvia não é, de nenhum modo, favorável ao projeto Macron destinado a conferir à União Europeia uma “autonomia estratégica”, uma ideia que é vista na Polônia como antiamericana, em outras palavras, “sacrílega”.
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