Noruega torna públicas imagens via satélite de florestas

O governo norueguês vai tornar públicas imagens de satélites de alta resolução que permitirão a qualquer pessoa, em qualquer lugar, monitorar o desmatamento em florestas tropicais. A iniciativa inédita será oferecida de graça a 64 países e fornecerá mosaicos mensais de imagens. 

O Ministério do Clima e Meio Ambiente da Noruega divulgou ontem contrato de US$ 43 milhões assinado com a Airbus e a Planet, empresas que produzem imagens de satélite, e a Kongsberg Satellite Services, companhia de capital público e privado da Noruega. O acordo vale por quatro anos. 

A Airbus tem um estoque de imagens de países com florestas que formam uma base histórica. A Planet informa que com mais de 150 satélites em órbita, tem imagens diárias do mundo todo. Os usuários do serviço norueguês poderão ter acesso a um arquivo com material desde 2015. 

A iniciativa dá transparência ao que acontece com o uso da terra, a partir de imagens em alta resolução, no Brasil e em todos os países com florestas tropicais no mundo. 

Segundo especialistas ouvidos pelo Valor trata-se de um movimento em sentido contrário ao da tendência do governo federal de restringir o acesso a estas informações, hoje públicas, em uma dinâmica de enfraquecimento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

“Isso vai revolucionar o monitoramento florestal global”, disse Sveinung Rotevatn, ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega ao divulgar a iniciativa. “Uma melhor compreensão do que está acontecendo nas florestas tropicais aumentará os esforços para proteger esses ecossistemas inestimáveis”, continuou. 

A cobertura de imagens, no caso brasileiro, abrangerá o país todo até Porto Alegre. 

“Pequenas comunidades poderão ser vistas e ouvidas em sua luta com empresas que roubam seu direito aos territórios”, continuou o ministro. “Os supermercados do mundo poderão monitorar as cobranças de seus fornecedores em relação à produção sustentável de soja, óleo de palma e outras matérias-primas”, diz Rotevatn. 

Estas imagens, que costumam ser caras, estarão acessíveis a todos. Povos indígenas poderão monitorar seus territórios. “É um incrível avanço na transparência a estas informações. Para o público em geral, é uma ferramenta sensacional”, diz Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas Alerta, refinado sistema de validação de avisos de desmatamento em todo o Brasil que trabalha com várias instituições. 

“Para o sujeito que quer licenciar um empreendimento no Ibama e deseja saber se a área tem florestas, bastará olhar para a imagem. Se uma área está ou não sendo restaurada em Mariana ou Brumadinho [cidades de Minas Gerais], bastará acompanhar no sistema”, cita Tasso Azevedo. 

Até para os técnicos do Inpe, instituto que é referência mundial, há décadas, no geoprocessamento e análise de imagens de satélite, o serviço mensal gratuito poderá ajudar a validar análises e tirar dúvidas. Trata-se de mais um dado para produzir informações mais acuradas. 

“Estas imagens em alta resolução serão muito úteis para detectar degradação florestal e também os processos de restauração”, diz Raoni Rajão, professor de gestão ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Também serão boas para auxiliar na agricultura de precisão e saber com melhor precisão quando um agricultor precisa usar fertilizantes ou irrigar uma parcela de sua propriedade. 

Segundo ele, o serviço que a Noruega está tornando disponível a todos ajuda no monitoramento do desmatamento também, embora seja muito mais útil à agenda da regeneração e do monitoramento de planos de manejo, por exemplo. “A vantagem de imagens em alta resolução, para um leigo, é tornar o processo de interpretação intuitivo. É possível ver uma casinha ou riozinho na cena”, diz Rajão. 

O governo da Noruega vem ajudando, com recursos financeiros, projetos em dez países com florestas tropicais – como fazia no Brasil, com o Fundo Amazônia. 

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/09/24/noruega-vai-tornar-publicas-imagens-via-satelite-de-florestas.ghtml

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