Nobel da Paz vai para ativistas da Belarus, Ucrânia e Rússia

Prêmio Nobel da Paz de 2022 foi concedido para Ales Bialiatski, um ativista de direitos humanos preso em Belarus, ao grupo de campanha russo Memorial e ao Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, em um prêmio que remonta as inspirações políticas da Guerra Fria, quando dissidentes soviéticos foram reconhecidos. O comitê nega que o prêmio deste ano seja contra Vladimir Putin e sua guerra na Ucrânia, mas reconhece que a decisão ressalta a promoção de valores “que não são de agressão e de guerra”.

Após algumas decisões polêmicas nos últimos anos – como a premiação ao americano Barack Obama e ao primeiro-ministro da EtiópiaAbiy Ahmed – o comitê vinha se abstendo de comentar questões políticas. Desta vez, defendeu a democracia e a “coexistência pacífica nos países vizinhos: BelarusRússia Ucrânia”. Segundo os organizadores, os vencedores “representam a sociedade civil em seus países de origem”.

A premiação deste ano ocorre com a guerra da Ucrânia à porta se arrastando por mais de sete meses e laureia três indivíduos e entidades da região em conflito. Um ato que relembra os tempos da Guerra Fria, quando ativistas como Andrei Sakharov e Alexander Solzhenitsin ganharam o Nobel de Paz e Literatura, respectivamente.

O primeiro foi um físico nuclear e ativista por reformas civis na União Soviética, e dá nome a um prêmio europeu para a liberdade de pensamento que em 2021 laureou o opositor de Putin, Alexei Navalni. Sakharov, inclusive é um dos fundadores de uma das organizações premiadas este ano. O outro foi um preso político soviético que revelou em suas obras a atrocidades dos campos de trabalhos forçados. Ao fim da Guerra Fria, o próprio Mikhail Gorbachev foi premiado com o Nobel da Paz.

Os premiados de 2022

Um dos vencedores, Ales Bialiatski, é um dos principais nomes da oposição ao atual ditador de Belarus, Alexander Lukashenko, aliado de Vladimir Putin. Bialiatski foi preso em 2020 pelo regime de Lukashenko e continua atrás das grades. Ele esteve na vanguarda do movimento pró-democracia em Minsk, ainda nos anos 1980, e “dedicou sua vida à promoção da democracia e do desenvolvimento pacífico de seu país natal”.

Após o anúncio, os organizadores do Nobel pediram que as autoridades do país soltem o ativista. “Nossa mensagem é fazer um apelo para que as autoridades soltem Bialiatski. Nossa esperança é que isso aconteça e que ele venha a Oslo para receber o prêmio que lhe foi concedido”, disse Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê, antes de admitir que seu pedido dificilmente será ouvido. “Mas há milhares de presos políticos em Belarus e temo que meu desejo não seja muito realista.”

Já o Memorial russo, com mais de três décadas de atuação, é o mais antigo grupo de direitos humanos do país. Ele foi fundado por dissidentes soviéticos —incluindo Andrei Sakharov— que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Josef Stálin.

Em novembro de 2021, a Justiça da Rússia pediu a dissolução do Memorial, acusando o grupo de ter infringido “de maneira sistemática” obrigações de sua condição de “agente estrangeiro”. Moscou também argumentou que estava aplicando leis para impedir o extremismo e proteger o país de influências externas. No mês seguinte, a Suprema Corte do país determinou a dissolução do Memorial, marcando o final de um ano de intensa repressão a críticos e opositores do governo de Vladimir Putin.

Por fim, o Centro de Liberdades Civis da Ucrânia é uma organização internacional de defesa dos direitos humanos fundada em 2007 em Kiev, Ucrânia, e liderada pela advogada ucraniana Oleksandra Matviichuk.

O Centro teve papel importante na documentação de prisões políticas e desaparecimentos nos últimos anos na Ucrânia, principalmente depois das manifestações de 2013 e 2014 contra o presidente Viktor Yanukovitch. O grupo apresentou ao Tribunal Penal Internacional certidões sobre crimes contra a humanidade cometidos pelo regime de Yanukovitch durante a onda de protestos que ficou conhecida como Euromaidan.

O grupo também teve participação no monitoramento da movimentação russa na Crimeia e Donbas, e ganhou relevância com sua atuação depois da invasão russa. Entre outras coisas, o Centro monitora desaparecimentos forçados que alega serem promovidos por forças militares russas em território ucraniano.

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