A decisão do Irã de enviar drones equipados com armas para ajudar a Rússia na sua guerra contra a Ucrânia ameaça anos de compromisso com o Ocidente e representa uma aposta arriscada do líder supremo Ali Khamenei de desestruturar um sistema internacional que ele vê como unido na oposição a Teerã, disseram analistas.
Apoiar Moscou ameaça aprofundar o isolamento do Irã, num momento em que os governantes iranianos enfrentam agitação interna generalizada e uma economia mutilada pelas sanções impostas pelos EUA devido ao programa nuclear iraniano. A União Europeia (UE) já impôs novas sanções ao Irã em resposta a seu fornecimento de drones à Rússia e à sua repressão
Se a Rússia usar mais armas iranianas na Ucrânia, as perspectivas para a retomada do acordo nuclear de 2015, que oferece a suspensão das sanções a Teerã, ficam ainda mais negativas, dizem autoridades ocidentais.
O governo iraniano nega que tenha fornecido armas à Rússia para uso na Ucrânia e insiste em dizer que não está envolvido no conflito. A Rússia também nega que suas forças estejam usando drones fornecidos pelo Irã no país vizinho.
“Temos [acordo de] cooperação com a Rússia, mas enviar armas e drones para serem usadas contra a Ucrânia não é nossa política”, disse na quinta-feira o ministro do Exterior iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, em telefonema ao comissário de política externa da UE, Josep Borrell
Autoridades ocidentais dizem que drones armados de fabricação iraniana atacaram Kiev na segunda-feira passada, destruindo centrais de geração e distribuição de energia e matando pelo menos oito civis. Uma equipe de iranianos na Crimeia treina pilotos russos e presta manutenção aos drones de fabricação iraniana, segundo autoridades americanas.
Em troca de ajuda na Ucrânia, o Irã pressionou por ter acesso aos armamentos russos. Autoridades e assessores iranianos dizem que a compra da mais recente geração de caças Su-35 russos encabeça sua lista de aquisições militares. Apesar de seu amplo arsenal de drones e mísseis, a velha Força Aérea do Irã, de 1970, não se equipara às dos adversários
Mas a Rússia reluta, há muito, em fornecer armamento pesado devido a preocupações em torno de sanções internacionais, à falta de canais bancários de grande escala e a preocupações em não se indispor com a Arábia Saudita, que Moscou anseia por atrair para uma parceria mais ampla nas áreas comercial e de segurança.