Investimentos chineses fogem do Ocidente 

Há alguns anos, o dinheiro chinês marcava presença em todo o mundo rico. Investidores chineses faziam negócios arrasadores e abocanhavam ativos premiados, desde residências de luxo e hotéis cinco-estrelas em Nova York a empresa química suíça e gigante alemã da robótica. Essa era acabou..

O investimento chinês está fugindo do Ocidente. Cada vez mais, empresas chinesas gastam seu dinheiro em fábricas no Sudeste Asiático e em projetos de mineração e energia na Ásia, no Oriente Médio e na América do Sul, movidas pelo desejo de Pequim de consolidar alianças nesses locais e garantir recursos naturais essenciais.

A maior beneficiária é a Indonésia, rica em níquel, segundo estimativa do instituto de pesquisa conservador American Enterprise Institute. O níquel é um componente essencial de baterias usadas para veículos elétricos.

A guinada dos fluxos de investimentos mostra a resposta da China à deterioração das relações com o Ocidente, liderado pelos EUA, e tem fortalecido laços om outras partes do mundo. 

O investimento externo direto da China no restante do mundo caiu em 18% em relação ao ano anterior, segundo cômputo divulgado recentemente. O nível mais recente representa uma retração de 25% em relação ao pico de 2016, em vista da queda vertical das fusões e aquisições externas e do aperto das regras adotado por Pequim para coibir a fuga de capital. 

Apesar do abrandamento das restrições ligadas à covid-19 pelo governo chinês, é pouco provável que a China volte ao seu auge de fusões e aquisições no exterior, em grande medida devido à intensificação das tensões geopolíticas com os EUA e aliados. 

Dentro da China, a desvalorização da moeda, as dificuldades enfrentadas pelo setor privado e o crescente foco de Pequim em expandir sua economia para conseguir autossuficiência também reduzirão seus fluxos externos de investimentos, dizem analistas. 

“O espaço de canalização de investimento da China para economias externas avançadas está encolhendo”, disse Louis Kuijs, da S&P Global Ratings, ao acrescentar que é pouco provável os fluxos de investimentos externos chineses aumentarem nos próximos anos. 

Em vez disso, a China tenderá a realinhar os investimentos em setores como energia renovável e veículos elétricos. Isso significa aumentar os investimentos em mercados emergentes, do Sudeste Asiático ao Oriente Médio e à África, no momento em que proprietários de fábricas chinesas buscam lugares para expandir, enquanto Pequim se concentra em mercados ricos em recursos naturais. 

A montadora chinesa BYD informou que planeja investir mais de US$ 600 milhões em produção automobilística no Brasil. 

“Enquanto Xi Jinping viver não voltaremos a 2016”, disse Derek Scissors, pesquisador-visitante-sênior do American Enterprise Institute, referindo-se ao patamar elevado dos investimentos chineses no exterior. Embora os EUA não tendam a sentir falta do capital chinês, diz, o recuo poderá ser problemático para economias ocidentais de menor porte, como Austrália e Canadá ou Hungria. 

Os investimentos externos diretos estão mais fracos no mundo inteiro, não apenas os originários da China. Por todos os países, o investimento para o exterior caiu 14% em 2022, ante 2021, em um momento em que inflação, temores de recessão e turbulência do mercado põem os investimentos em suspenso, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). 

Mas a queda registrada pela China foi mais pronunciada e se estende por um período maior. Os investimentos externos da China caíram para cerca de US$ 147 bilhões em 2022, um recuo de 18% na comparação com o ano anterior. Eles alcançaram seu pico em US$ 196 bilhões, em 2016. 

Em 2016, preocupações com a saída de capital e o advento do estresse financeiro nos conglomerados chineses levaram Pequim a endurecer os controles. Mais recentemente, os controle se enrijeceram em meio à deterioração das relações com o Ocidente. 

Empresas e entidades estatais chinesas investiram US$ 24,5 bilhões na Ásia, América do Sul e Oriente Médio no ano passado, segundo o American Enterprise Institute, uma alta de 13% em relação a 2021. Entre as operações estavam um investimento de US$ 1,9 bilhão da CNOOC, a gigante petrolífera estatal chinesa, no Brasil e investimentos das montadoras Great Wall Motor e BYD na Tailândia. 

No primeiro semestre, os investimentos realizados por empresas chinesas totalizaram US$ 29,5 bilhões. A Indonésia foi a maior beneficiária e recebeu 17% do total. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/07/24/investimentos-chineses-fogem-do-ocidente.ghtml

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