A inflação deu sinais dos efeitos das tarifas do presidente Donald Trump em julho, com a intensificação das pressões de preços em uma gama mais ampla de bens de consumo e serviços.
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) anualizado permaneceu estável em 2,7% em comparação com o mesmo período do ano passado. Mensalmente, os preços subiram 0,2% em relação a junho. Mas um importante indicador que acompanha a inflação subjacente (que exclui os preços tradicionalmente com flutuações mais acentuadas) acelerou mais rapidamente.
O CPI “core”, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, saltou 0,3% ao longo do mês, ou 3,1% em uma base anual. Esse é o ritmo anual mais rápido em cinco meses. Em junho, esse núcleo da inflação havia subido 0,2% em relação ao mês anterior, ou 2,9% em base anual.
Os dados de julho, divulgados pelo Bureau of Labor Statistics (BLS), fornecem um sinal claro de que as empresas estão mais prontamente repassando os custos relacionados às tarifas para seus clientes após um longo período em que os ganhos de preço foram moderados.
Empresas dos EUA que importam produtos conseguiram em grande parte evitar aumentos de preços, apesar de uma tarifa universal de 10% que está em vigor em todas as importações desde abril, juntamente com alíquotas mais altas sobre aço, alumínio e produtos da China e Canadá. As tarifas “punitivas” de Trump sobre dezenas de países entraram em vigor na quinta-feira, 7, então não estão refletidas nos dados de julho.
As empresas conseguiram evitar repassar aumentos de preços por causa de uma estratégia no início do ano para estocar mercadorias que provavelmente estariam sujeitas às tarifas de Trump. Muitas empresas também procuraram absorver os custos para evitar afastar clientes, alguns dos quais estão cada vez mais sob pressão financeira.
Mas os dados de julho mostraram mais empresas atingindo um ponto de inflexão, com pouca opção a não ser aumentar os preços após o notável aumento de junho. O maior impacto foi concentrado até agora em categorias como móveis, eletrodomésticos e outros artigos domésticos, bem como bens de recreação e calçados.
Os aumentos de preços de carros novos e usados permaneceram relativamente moderados, já que os fabricantes de automóveis protegeram seus clientes das tarifas de Trump, em vez de forçá-los a arcar com a maior parte dos custos mais altos. Mas os economistas temem que esse alívio em breve termine, diminuindo a demanda já em desaceleração.
Os americanos têm se tornado mais seletivos sobre como gastam, ajudando a baixar tarifas aéreas, taxas de hotel e outros custos relacionados a serviços. A contratação em todo o país desacelerou nos últimos meses, mantendo um limite nos ganhos salariais. O relatório de empregos de julho mostrou apenas 73 mil empregos adicionados para o mês, e os ganhos registrados em maio e junho foram revisados para baixo. As empresas ainda não dispensaram trabalhadores em massa, mas os economistas temem que serão forçados a cortar custos à medida que as tarifas continuam a consumir suas margens.
Os dados desta terça-feira serão importantes para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que enfrenta uma situação econômica desafiadora na qual os preços estão subindo enquanto o mercado de trabalho está enfraquecendo. É um pano de fundo difícil, dado o dever do Fed de manter a inflação baixa e estável enquanto também garante que o desemprego não aumente muito. Os diretores do banco central mantiveram as taxas de juros estáveis desde o início do ano, enquanto buscavam mais clareza sobre como as políticas de Trump, incluindo tarifas, impactariam na economia.
Essa abordagem atraiu críticas significativas do presidente, que recorreu a insultos diretos a Jerome Powell, o presidente do Fed, bem como ao poderoso conselho que ele chefia.
Trump anunciou na semana passada que instalaria um diretor temporário para se juntar ao conselho. Uma vaga foi aberta inesperadamente no início do mês, quando Adriana Kugler anunciou que estava saindo antes que seu mandato terminasse, no final de janeiro. Trump indicou um crítico de longa data do Fed, Stephen Miran, que mais recentemente serviu como presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente.
Miran, que ainda deve ser confirmado pelo Senado, se juntará a um grupo de diretores do Fed que começou uma divisão sobre o momento certo para reiniciar cortes na taxa de juros, que foram pausados em dezembro. Dois diretores, anteriormente nomeados por Trump, já pediram ao Fed para cortar as taxas de juros.
E outros parecem estar se juntando a esse campo, seguindo os dados mais recentes que mostraram muito menos crescimento mensal de empregos desde o início do verão (do hemisfério norte) do que inicialmente esperado. Mas sinais de que a inflação está acelerando mais do que já previsto poderiam atrapalhar qualquer plano de baixar as taxas de juros na próxima reunião do Fed, em setembro. No início do verão, Powell admitiu que, não fosse pelas tarifas, o Fed provavelmente já poderia ter reduzido os custos de empréstimo.
O relatório de inflação de julho também é o primeiro grande anúncio de dados econômicos do Bureau of Labor Statistics desde que Trump demitiu sua chefe após o relatório de empregos abaixo do esperado. O presidente alegou, sem evidências, que Erika McEntarfer, que dirigia a agência desde 2024, havia “manipulado” os dados de contratações para prejudicá-lo politicamente. Economistas criticaram essa medida, advertindo que qualquer tentativa de minar o que sempre foram consideradas estatísticas confiáveis e produzidas independentemente pela agência governamental seria economicamente e financeiramente prejudicial.
Na segunda-feira, 11, o presidente anunciou sua decisão de nomear E.J. Antoni, economista da conservadora Heritage Foundation, que criticou o BLS no passado, para liderar a agência
https://www.estadao.com.br/economia/inflacao-eua-julho-sinais-tarifas-trump
