Imigrantes lideram iniciativas de inovação na agenda verde de Biden

Joe Biden fez da agenda verde o pilar de suas políticas doméstica e externa. Com o mote de reconstruir a infraestrutura americana de maneira sustentável, o presidente dos EUA pretende impulsionar a criação de empregos e, ao mesmo tempo, fazer frente à China. Para tirar essa promessa do papel, o governo americano e o setor privado contam com a inovação em economia verde de projetos fundados e liderados por imigrantes. 

Ao menos oito empresas que receberam financiamento da Breakthrough Energy Ventures, organização de Bill Gates para financiar projetos de transição para energia limpa nos EUA, são lideradas por imigrantes. O governo americano reconhece o papel que essas empresas têm para possibilitar que os EUA assumam a liderança geopolítica no debate climático e produzam tecnologia capaz de disputar com a China o protagonismo na agenda verde. 

Ao desenhar a estratégia política por trás da pauta ambiental, em um discurso na Baía de Chesapeake, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, apostou em uma companhia liderada por um brasileiro para renovar a forma de produção de aço no país. “Uma startup de Massachusetts chamada Boston Metal (…) foi pioneira em um novo processo que pode produzir aço e outros metais de forma mais eficiente e com custos mais baixos, ao mesmo tempo que produz menos poluição”, disse Blinken. 

“O presidente da empresa, um imigrante brasileiro, viu um mercado inexplorado no qual a Boston Metal está fazendo parceria com a indústria para substituir formas mais antigas e sujas de fazer aço. A empresa está criando empregos de qualidade e com bons salários nos Estados Unidos”, disse Blinken, para afirmar que os EUA irão ajudar produtores a dar um salto para a tecnologia limpa.

O Senado dos EUA avançou neste fim de semana o projeto de infraestrutura de US$ 1 trilhão proposto por Biden – uma prioridade do presidente. Aprovado, o pacote representará um expressivo gasto público em infraestrutura essencial dos EUA e incentivo ao financiamento privado nos próximos anos. Além da renovação de pontes, estradas e prédios, o projeto mira em uma transição para infraestrutura menos agressiva ao meio ambiente com, por exemplo, criação de estações para carregar carros elétricos.

“Por enquanto, conseguimos financiamento completamente privado”, afirma Tadeu Carneiro, o brasileiro que preside a Boston Metal. “Mas é óbvio que esse enfoque que o novo governo tem dado pode ajudar”, afirma. Com quase US$ 100 milhões de investimento captado, a empresa aposta na produção de aço sem emissão de CO2, com uso de eletricidade. “Se a eletricidade for limpa, toda a cadeia da fabricação do aço é limpa. Dá para fazer o aço realmente verde”, afirma Carneiro, que assumiu a chefia da empresa a convite de colegas que já desenvolviam essa tecnologia no MIT, onde é professor convidado.

A previsão é demonstrar a fabricação de aço em uma planta piloto até o fim de 2022 para começar a comercialização a partir de 2025.

Estrelas no projeto de Biden para modernizar os EUA, os carros elétricos também podem ser mais verdes se o “aço verde” der certo, diz Carneiro. “Não tem sentido fazer carro elétrico e usar aço sujo para produzi-lo. A demanda já existe, já está aí”, diz.

Fundada pelo indiano Deepinder Singh, a 75F é uma das empresas que recebeu aporte do grupo de Gates e tem um negócio diretamente ligado a um dos pontos do plano de infraestrutura de Biden: a modernização de prédios comerciais para aumentar a eficiência energética das construções. No seu plano de infraestrutura, o democrata promete reformar mais de 2 milhões de prédios residenciais e comerciais, escolas, creches e prédios federais.

Com sede em Minnesota, a empresa tenta estabelecer controles inteligentes para, por exemplo, manter uso inteligente do ar condicionado. Segundo relatórios das agências da ONU, 460 bilhões de toneladas em emissões de carbono podem ser anuladas por sistemas de refrigeração econômicos.

“O papel do setor privado é alavancar a inovação para preencher as lacunas no caminho para a infraestrutura sustentável nos EUA”, afirma Deepinder Singh, da 75F. Os edifícios comerciais inteligentes, diz ele, podem reduzir significativamente as emissões de carbono. “Mas a maioria das soluções disponíveis são muito complexas ou a custo proibitivo para edifícios médios e pequenos, que são o tipo de edifício que é o mais comum nos EUA”, afirma, ao explicar que a empresa busca um sistema mais acessível para aumentar a escala dessa tecnologia.

Os EUA são o país com maior número de imigrantes no mundo: mais de 40 milhões de habitantes nasceram em outros países. A presença de empresas de imigrantes na economia americana não é uma prerrogativa da agenda sustentável: em 2019, 45% das empresas listadas entre as 500 destacadas pela revista Fortune nos EUA haviam sido fundadas por imigrantes ou filhos de imigrantes. “No caso da descarbonização, não falta dinheiro. É uma questão de atrair talento. Quanto mais talento um país tiver, mais conseguirá fazer”, diz Carneiro.

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