Gasto chinês com defesa sobe 7,2%

A meta da China de alcançar um crescimento econômico em torno a 5% neste ano deve ser vista com certo ceticismo. As incertezas com a crise do setor imobiliário e os gastos moderados dos consumidores tornam difícil ser otimista.

Ainda assim, uma coisa é certa. É difícil imaginar algo – nem mesmo um déficit orçamentário de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) – que possa impedir Pequim de elevar os gastos militares. São muitos os nomes que podem sair beneficiados com isso.

Apesar da desaceleração da economia, o orçamento na área de defesa de Pequim terá aumento 7,2%, similar ao de 2023, o segundo maior gasto do mundo na área, atrás apenas do americano. O orçamento militar chegará a 1,67 trilhão de yuans (US$ 232 bilhões), mais do que dobrando nos últimos dez anos, sob o comando do líder chinês Xi Jinping.

Em razão de gastos confidenciais que não são incluídos nessa conta, parlamentares e especialistas americanos argumentam que, na realidade, as despesas reais vão bem além dos números oficiais.

O aumento dos gastos militares tem sido acompanhado por um número cada vez maior de disputas regionais. As tensões têm se intensificado no Mar do Sul da China e no Estreito de Taiwan, cuja linha mediana, em outros tempos, era a fronteira não oficial entre Taiwan e China. Em 2023, o número de incursões militares chinesas na zona de defesa aérea de Taiwan, que a China considera seu próprio território, foi recorde.

Isso parece destinado apenas a crescer. Xi tem como meta tornar as Forças Armadas do país uma “força de classe mundial” até 2027. Isso se dá em meio à escalada das tensões geopolíticas com os EUA. O presidente americano, Joe Biden, assinou um projeto de lei de defesa anual de US$ 886 bilhões em 2023, que inclui medidas para conter a atividade militar chinesa na região Indo-Pacífico e ajudar as forças taiwanesas

As empresas chinesas com atividades relacionadas à defesa devem se beneficiar. Os preços de suas ações subiram nos últimos 30 dias, impulsionados pelas expectativas de aumento na demanda. As ações das estatais Avic Xi’an Aircraft Industry Group e da Companhia de Indústria Naval da China valorizaram-se 20%. As ações da maior fabricante de helicópteros da China, a AviChina Indústria & Tecnologia, subiram 13%.

Mesmo após esses ganhos, a cotação dos papéis da fabricante de helicópteros equivale a cerca de sete vezes o lucro por ação futuro, um múltiplo bem inferior ao dos rivais europeus, o que deixa espaço para mais valorização. Nem tudo pode ser comprado no mercado interno chinês.

A crescente demanda por importações de equipamentos como radares e helicópteros deverá levar essas empresas sendo beneficiadas a começar a recorrer a nomes fora da China. Isso inclui fornecedores de defesa internacionais, como a Singapore Technologies Engineering e a francesa Thales. Trata-se de um setor que crescerá, não importa qual for o estado de saúde da economia chinesa.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/03/06/gasto-chines-com-defesa-sobe-72.ghtml

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