G20: Biden e Xi buscam acalmar tensões da Guerra Fria 2.0

Cercado de expectativas, por se dar em meio a um emaranhado de tensões e com as relações diplomáticas no mais baixo nível em décadas, o primeiro encontro presencial entre Joe Biden e Xi Jinping desde a eleição do democrata terminou com sinais de distensão dos dois lados —ainda que ambos tenham marcado suas diferenças, com Pequim reforçando uma “linha vermelha” sobre Taiwan.

O presidente americano e o líder chinês se reuniram em um hotel em Bali, na Indonésia, onde é realizada a cúpula do G20. Embora eles já tenham estado juntos antes, sobretudo quando Biden era vice de Barack Obama (2009-2017), com ele no poder só houve videoconferências —e algumas das cinco conversas tiveram tom duro.

Antes da reunião a portas fechadas, os dois fizeram questão de posar com sorrisos e um caloroso aperto de mão. “É ótimo vê-lo”, disse o americano.

No cardápio de temas que azedaram a relação nos últimos meses, com direito a picos de tensão recentes para cada um, estavam uma guerra comercial envolvendo disputas tarifárias e semicondutores, atritos regionais em Taiwan e na Coreia do Norte, debates sobre direitos humanos e a posição de ambos na Guerra da Ucrânia.

Na saída das três horas de conversa, porém, Biden tentou dar o tom. “Eu absolutamente acredito que não precisa haver uma nova Guerra Fria”, disse. “Nós vamos competir vigorosamente. Mas não estou buscando conflito, essa competição deve ser levada de forma responsável.”

Com efeito, comunicados posteriores de ambos os lados falaram em manter aberta uma linha de comunicação direta, em um esforço para diminuir as tensões. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, deve ir a Pequim nas próximas semanas, e mecanismos de diálogo em questões envolvendo emergência climáticas e finanças —suspensos após a extemporânea ida da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipé— serão retomados.

Diferentemente dos membros de suas delegações, Biden e Xi não usaram máscara —mesmo com o americano sentindo um leve resfriado, segundo o jornal The Guardian.

Antes da reunião privada, o americano disse que as duas potências têm a responsabilidade de mostrar ao mundo que são capazes de lidar com as próprias diferenças, impedindo que a competição se transforme em conflito. Xi, por sua vez, afirmou que a relação não estava à altura das expectativas e demandava trabalho em conjunto. “O mundo espera que a China e os EUA lidem da maneira certa com essa relação.”

Em outro ponto de convergência, os dois líderes reiteraram que uma guerra nuclear nunca deve ser travada, em referência direta a ameaças recentes de Moscou, concordando que armas do tipo não podem ser usadas na Guerra da Ucrânia.

Xi tem se mostrado um aliado de primeira hora do russo Vladimir Putin, enquanto Biden lidera os esforços de apoio a Kiev —ainda que venha fazendo acenos ao Kremlin, pedindo nos bastidores que Volodimir Zelenski aceite a ideia de uma negociação.

Segundo o regime chinês, Xi disse ao americano que “o estado atual das relações não responde ao interesse fundamental dos dois países e povos e não é o que a comunidade internacional espera”. De acordo com Pequim, o dirigente teria dito que é preciso ter “responsabilidade com a história, com o mundo e com os povos”.

Ainda na versão menos confrontativa, o comunicado da chancelaria de Pequim disse que o sucesso de China e EUA representa oportunidades, não desafios um para o outro. “O mundo é grande o suficiente para os dois países se desenvolverem e prosperarem juntos.”

Apesar do tom amistoso, diferenças foram marcadas. Mesmo porque, tanto Xi quanto Biden chegaram à reunião fortalecidos internamente. O americano acaba de ter uma vitória nas eleições legislativas, mantendo a maioria no Senado, ao contrário das expectativas. Do outro lado, o chinês foi alçado a um inédito terceiro mandato no comando do regime, consolidando-se como figura mais forte no país desde Deng Xiaoping.

De acordo com a chancelaria de Pequim, os dois “trocaram pontos de vista de maneira franca e profunda sobre questões de importância estratégica e os principais temas globais e regionais.”

O governo americano afirma que Biden “levantou preocupações sobre as práticas da China em Xinjiang, Tibete e Hong Kong, e sobre os direitos humanos de forma mais ampla”. Este é um dos pontos mais delicados nas relações —e um dos quais a China é mais firme ao não aceitar qualquer crítica que possa ser vista como interferência estrangeira.

Washington e entidades internacionais acusam o regime de violar direitos da minoria étnica muçulmana uigur na região de Xinjiang, em campos de reeducação e trabalho forçado —a ditadura nega.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/11/biden-e-xi-buscam-acalmar-tensoes-da-guerra-fria-20-em-1o-encontro-presencial.shtml

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