Organização projeta expansão de 1,5% para a economia britânica em 2019 se houver acordo com a UE
No mesmo dia em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) informou que a economia do Reino Unido deve encolher caso não haja acordo com a União Europeia sobre os termos do “brexit” (saída do bloco continental), a primeira-ministra britânica disse que o acerto delineado pelo seu gabinete é o único possível.
Em seu relatório anual sobre o status da economia britânica, apresentado nesta segunda (17), o FMI projeta para ela um crescimento de 1,5% tanto em 2018 quanto em 2019, caso haja um acordo amplo com o bloco europeu. Mas, segundo a diretora-gerente da instituição, Christine Lagarde, a economia vai encolher caso a saída da UE seja feita sem nenhum acordo.
Se o Reino Unido tivesse escolhido ficar na UE, a evolução neste e no próximo ano seria de 1,75%, segundo o FMI.
“Um desligamento mais duro, sem acordo, vai ter efeito muito pior”, afirmou Lagarde. “Deixe-me ser clara: em comparação com a suavidade do mercado comum que temos atualmente, qualquer configuração do ‘brexit’ terá impacto sobre a economia britânica e, em menor medida, sobre a da União Europeia. Quanto mais restrições comerciais [entre os dois lados] houver, maior será o custo. Isso deveria soar óbvio, mas às vezes parece que não.”
A oficialização do “divórcio” está marcada para daqui a menos de seis meses. Ocorre às 23h do dia 29 de março de 2019. Depois dessa data, a ideia é que haja um período de transição para as novas regras até o fim de dezembro de 2020.
O pomo da discórdia nas negociações entre Theresa May e o bloco europeu (e também internamente, entre a chefe de governo e seus correligionários conservadores) é o nível de adesão do Reino Unido às regras e normas do continente para manter elos comerciais no pós-separação. Do lado britânico, acumulam-se críticas àquilo que é visto como um excesso de concessões à UE.
Também nesta segunda (17), em entrevista à BBC, May sustentou que o plano para o “brexit” apresentado por ela em julho é o único que se mostra viável hoje.
O “plano de Chequers”, como é conhecido (em referência à residência de campo dos chefes de governo britânicos, onde ele foi desenhado), cria uma união aduaneira entre o Reino Unido e a Europa para transações envolvendo produtos agrícolas e bens industriais.
Dois ministros descontentes com os termos propostos no documento, incluindo o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, pediram demissão nos dias subsequentes a sua divulgação.
“Acredito que vamos conseguir um bom acordo”, disse ela. “Submeteremos [as condições] ao Parlamento. A alternativa a isso é não haver acordo nenhum”, afirmou May.
Ela lembrou que a UE oferecera dois caminhos, “ambos inaceitáveis para o Reino Unido”.
“Ou ficávamos no mercado comum e na união aduaneira —ou seja, na prática dentro do bloco—, o que representaria uma traição ao voto do povo britânico, ou teríamos um acordo básico de livre-comércio, mas deixando de fora dele –e, portanto, dentro da União Europeia— a Irlanda do Norte, o que poderia partir o Reino Unido.”
Segundo May, o plano de Chequers veio então “desbloquear as negociações”.
A questão da fronteira entre as Irlandas é um dos itens mais delicados no cabo de guerra entre britânicos e europeus, já que a República da Irlanda, que tem fronteira terrestre com a Irlanda do Norte, integra a UE e não se desligará do bloco.
Se (e em que condições) fazer o controle de pessoas e mercadorias no limite entre elas, prática hoje quase inexistente, tem se mostrado um tema sensível de debate.
Ainda nesta segunda, o jornal inglês “The Times” noticiou que o chefe das negociações do “brexit” pelo lado europeu, Michel Barnier, teria esboçado uma proposta pela qual um monitoramento de mercadorias por códigos de barras diminuiria a necessidade de inspeções na fronteira.