Facebook é acusado de ignorar exigências de anunciantes

O Facebook “não atendeu” a maioria das exigências de seus anunciantes sobre a moderação de conteúdo, apesar do boicote de julho. A afirmação foi feita ontem por um de seus organizadores, enquanto grupos de defesa dos direitos civis avaliam seu próximo passo e algumas grandes marcas se recusam a retomar os gastos com propaganda na plataforma. 

Jonathan Greenblatt, presidente-executivo da Anti-Defamation League, disse que a ação contra a maior plataforma de rede social do mundo por anunciantes dos Estados Unidos “não foi realmente uma campanha aberta. Foi uma advertência”. Os grupos estão agora “analisando novas possíveis medidas com novos… envolvidos”, acrescentou ele. 

“As coisas continuam em andamento”, disse ele, porque o Facebook “não atendeu a grande maioria” de suas exigências. Uma campanha semelhante, a “Stophateforprofit”, por exemplo, foi lançada na Europa no fim de semana. 

Mais de 1.100 companhias se comprometeram em parar de anunciar no Facebook em julho, em protesto contra o que foi percebido como uma falha no enfrentamento do racismo e do discurso do ódio em sua plataforma, depois do assassinato do cidadão negro George Floyd. 

Os 100 maiores anunciantes do Facebook gastaram pelo menos US$ 308 milhões em julho, comparado a quase US$ 390 milhões no mesmo período do ano passado, segundo dados da Pathmatics, depois que vários anunciantes reduziram seus gastos. 

Muitos deles estão retornando em agosto – cerca de 95% do total, segundo uma estimativa de um executivo de uma grande agência de propaganda. Estes incluem muitos comerciantes menores que são mais dependentes da plataforma, além de grupos como Heineken, The North Face e Puma. 

Isso acontece depois que o Facebook fez algumas concessões, como concordar em criar uma equipe para estudar se seus algoritmos levam a um viés racista, além do novo cargo de vice-presidente de direitos civis. O Facebook também concordou em se unir a um esforço para criar no setor uma definição de discurso de ódio e passar por duas auditorias relacionadas ao conteúdo tóxico em sua plataforma. 

“Vimos no começo do mês uma queda percentual de dois dígitos, com alguns gastos retornando à plataforma conforme o decorrer de julho”, disse uma agência que é grande compradora de espaço de mídia. “Em última análise, porém, é difícil isolar os gastos para o boicote em comparação aos efeitos da covid-19 sobre o mercado.” 

Mesmo assim, algumas grandes marcas – como a fabricante de bebidas Diageo, o braço americano da Honda e o grupo de softwares SAP – optaram por permanecer fora do Facebook. Na maioria dos casos, elas mencionaram como motivo a resposta insuficiente a outras exigências da campanha, que incluem o fim da ampliação dos grupos de ódio e o ressarcimento a anunciantes cujos anúncios são colocados próximos de conteúdo de ódio. 

“SAP está totalmente de acordo com a coalizão ‘Stop Hate for Profit’, de que as medidas proclamadas ficam aquém das mudanças de política exigidas para se conseguir uma rejeição verdadeiramente categórica do discurso do ódio e racista na internet”, disse a companhia. 

General Motors, Verizon e Coca-Cola também continuam evitando a plataforma depois de agirem em julho, embora tenham afirmado que não estão alinhadas ao boicote oficial. “Estamos em contato com a equipe do Facebook enquanto eles 

trabalham numa solução que nos deixe confortáveis em colocar nosso conteúdo de volta à plataforma (mas ainda não chegamos lá)”, disse a Verizon. 

A cisão acontece depois que o Facebook previu na semana passada, ao anunciar seus resultados, que o boicote atingirá os resultados do terceiro trimestre. No entanto, o presidente-executivo Mark Zuckerberg sinalizou em uma conferência telefônica com instituições de Wall Street que o impacto será insignificante, afirmando que as pessoas ainda “assumem erradamente que nosso negócio depende de uns poucos grandes anunciantes”, quando na verdade ele tem 9 milhões de anunciantes no mundo. 

Sheryl Sandberg, diretora operacional do Facebook, disse na conferência que a companhia “tem muito mais a fazer” para enfrentar o discurso do ódio e acrescentou: “Estamos trabalhando todos os dias para enfrentar esse desafio, não por causa da pressão dos anunciantes, e sim porque é a coisa certa a fazer.” 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/08/04/facebook-e-acusado-de-ignorar-exigencias-de-anunciantes.ghtml

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