Europeus anunciam cem tanques à Ucrânia, e Rússia fala em escalada imprevisível

Alemanha, Holanda e Dinamarca anunciaram nesta terça-feira (7) que enviarão ao menos mais cem tanques Leopard-1 para a Ucrânia nos próximos meses, em mais uma tentativa de conter avanços russos no leste do país no mês em que a guerra completa um ano.

Os modelos Leopard-1 são mais antigos que os 14 tanques Leopard-2 anunciados pela Alemanha no último dia 25 e necessitam de reparos e preparo para serem usados em campo pelo Exército ucraniano.

“É um tanque já testado”, afirmou a ministra da Defesa da Holanda, Kajsa Ollongren. “Eles estão sendo preparados e serão úteis para os ucranianos, além de serem melhores que alguns tanques russos.”

Há duas semanas, além dos tanques Leopard-2 alemães e da autorização de Berlim para que outros países reexportem os blindados, os EUA também afirmaram que enviariam 31 tanques modelo M1 Abrams. Demanda recorrente de Kiev, que pedia ao menos 300 tanques, os veículos podem reverter a maré do conflito, recentemente mais propensa ao lado russo.

O número anteriormente anunciado não teria impacto tão significativo, segundo especialistas, que apontam a cifra de 100 a 300 blindados Leopard-2 bem equipados e manejados como necessária para uma mudança concreta. O recém-anunciado envio dos Leopard-1, mais antigos, também abre dúvidas, portanto, sobre a efetividade da ajuda.

O trio de países responsável pela iniciativa também disse que vai conceder à Ucrânia treinamento, suporte logístico, peças e munição para operação das máquinas. O modelo, por ser antigo —tem canhão de calibre 105 mm, ante 120 mm do Leopard-2— e operado por apenas alguns países, exige compra de projéteis para uso em um prazo mais exíguo, dilema que de certo modo envolve o Brasil.

Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) negou pedido da Alemanha para fornecimento da munição necessária a Kiev. O Brasil é um dos poucos países que ainda opera modelos Leopard-1, além de Chile, Grécia e Turquia —os dois últimos são membros da Otan, a aliança militar ocidental.

requisição negada pelo petista foi feita antes de Berlim destinar os Leopard-2 aos ucranianos e mostrou que ao menos a hipótese de envio dos tanques mais antigos já era feita pelos alemães, que passaram o primeiro ano de conflito hesitantes em se envolver tão explicitamente na guerra em comparação a outros membros da Otan e da União Europeia.

Ainda não há informações sobre a data em que os Leopard-1 anunciados nesta terça serão entregues nem sobre como será feito o acordo com as empresas alemãs produtoras dos blindados. Também não se sabe o número exato de tanques que será disponibilizado e como será a divisão de custos entre países e fabricantes.

Mais cedo nesta terça, a fabricante alemã de tanques Rheinmetall indicou que entre 20 e 25 blindados seriam enviados ainda neste ano, e os 88 Leopard-1 restantes que a empresa possui, no ano que vem.

“Temos o número de tanques, mas eles precisam ser remodelados para batalha e equipados, então não sabemos exatamente ainda quantos serão enviados, mas é um número grande para repelir a invasão russa nesta primavera”, afirmou o ministro das Finanças alemão, Robert Habeck, após reunião com o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

Também nesta terça, a Rússia disse que suas incursões no leste do país, particularmente nas áreas das cidades de Bakhmut e Vuhledar, no Donbass, avançam “com êxito”. O ministro russo da Defesa, Serguei Choigu, advertiu os aliados de Kiev de que o aumento da ajuda ocidental pode levar a um nível “imprevisível” de escalada do conflito.

O fornecimento dos blindados marcou uma mudança de rumo dos aliados ocidentais da Ucrânia, que até então haviam se comprometido apenas com equipamentos como armas antitanque portáteis Javelin e sistemas de defesa antiaéreo Patriot, no caso dos americanos.

Antes disso, Washington argumentava que seria contraproducente enviar os veículos Abrams aos ucranianos porque são blindados que exigem treinamento complexo e consomem muito combustível.

O anúncio dos Leopard-1 ocorreu no mesmo dia em que o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, fez uma visita surpresa à capital do país invadido, onde se encontrou com o presidente Volodimir Zelenski e seu homólogo ucraniano, Oleksii Reznikov.

Reznikov publicou uma foto com Pistorius segurando a réplica de um tanque e escreveu que os modelos Leopard-2 anunciados anteriormente pelos alemães já chegaram a Kiev. No domingo (5), a Ucrânia anunciou que iria mudar o titular da Defesa, trocando Reznikov por Kirirlo Budanov, chefe da inteligência militar, embora não tenha informado quando isso ocorreria e para qual cargo o atual ministro iria.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/02/europeus-anunciam-cem-tanques-a-ucrania-e-russia-fala-em-escalada-imprevisivel.shtml

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