A economia europeia vem deslizando rumo a um cenário de nova recessão, e analistas ressaltam que o aumento nos casos de coronavírus e as novas restrições deverão interromper a recente recuperação da atividade.
Na última semana, os governos da Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha e Holanda anunciaram medidas para conter a segunda onda da covid-19 e outros países deverão fazer o mesmo.
No domingo, a Bélgica anunciou fechamento de bares e cafés por quatro semanas, e a Suíça ampliou a obrigação do uso de máscara. A França decretou toque de recolher à noite em Paris e outras cidades. Na Itália, o premiê Giuseppe Conte assinou decreto ontem que dá aos prefeitos poder de restringir a circulação em praças a partir das 21h. Bares devem fechar às 18h, e eventos esportivos amadores e feiras ficam suspensos.
As medidas seguem-se ao grande aumento no número de casos, com vários países europeus tendo recordes nas infecções diárias ao longo do fim de semana.
“Não consigo crer na rapidez com que a segunda onda chegou”, disse a economista sênior Katharina Utermöhl, da Allianz. “Estamos vendo o crescimento entrando no terreno negativo em vários países no quarto trimestre. Outra recessão é, com certeza, possível.”
Embora números estimados para o terceiro trimestre, que saem no fim do mês, apontem para crescimento recorde no PIB da região, cada vez mais economistas estão revisando as projeções do quarto trimestre para território negativo.
Essas previsões de que a economia da região do euro voltará a ter recessão, ainda que mais leve que a do início do ano, são má notícia para o Banco Central Europeu (BCE), que em setembro previa expansão superior a 3% para o quarto trimestre. Outra recessão colocaria em jogo a projeção do BCE de que a economia da região voltaria a seu tamanho pré-pandemia em 2022.
“Muitos países passam por uma segunda onda. Isso significa que agora a recuperação parece mais distante do que esperávamos”, disse na semana passada Klaas Knot, presidente do banco central da Holanda e membro do conselho do BCE. “E o impacto econômico está se aprofundando.”
A maioria dos analistas prevê que o BCE reagirá à debilidade da economia, que recentemente entrou em deflação, adicionando mais € 500 bilhões a seu programa emergencial de compra de bônus.
Outro sinal de que mais afrouxamento monetário pode estar por vir veio de Robert Holzmann, chefe do banco central da Áustria e membro do conselho do BCE. “Mais medidas de contenção duráveis, extensas ou estritas provavelmente exigirão mais ajustes fiscais e monetários no curto prazo”.
O plano de um fundo de recuperação de € 750 bilhões ainda está sendo debatido, portanto, é improvável que comece a distribuir dinheiro no prazo de um ano.
Governos ainda têm a esperança de evitar lockdowns rigorosos que causaram a maior recessão do pós-guerra no segundo trimestre. Mas com os níveis de infecção atingindo recordes, podem não restar muitas outras opções.
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/10/19/europa-tem-risco-de-nova-recessao-com-2a-onda.ghtml