EUA fazem ameaça nuclear direta contra a Coreia do Norte

Os Estados Unidos endureceram sua política com a Coreia do Norte, com o presidente Joe Biden ameaçando abertamente o regime de Kim Jong-un com aniquilação em caso de uma guerra nuclear na península dividida desde 1953.

Se o Norte atacar a Coreia do Sul, “será o fim do regime”, afirmou o presidente Joe Biden ao receber, com honras de Estado, o colega sul-coreano Yoon Suk-yeol —que, por sua vez, disse que paz com Pyongyang “requer força espantosa, não boa vontade”.

Com efeito, foi criado um mecanismo para decisões conjuntas em caso de guerra com o Norte. O controle das ogivas, contudo, seguirá sendo exclusivo dos EUA, que prometem não posicioná-las na região, mas que vão empregar caso o Norte use seu arsenal atômico.

O tom beligerante marcou o anúncio da Declaração de Washington, que revisita uma aliança iniciada há 70 anos, com o armistício da guerra na península coreana que opôs o Sul capitalista apoiado pelos EUA ao Norte comunista apoiado por China e União Soviética.

O evento marca uma nova e perigosa era, consonante com o clima beligerante do mundo atual, no qual a Guerra da Ucrânia se mostra a face aguda do confronto geopolítico maior entre EUA e China. No caso coreano, é o fim da tentativa dos EUA de desnuclearizar a península, iniciada com a diplomacia personalista de Donald Trump. De 2017 a 2019, o então presidente americano primeiro pressionou o “homem-foguete” Kim, ameaçando usar “fogo e fúria” contra o ditador, mas depois abriu as portas a ele.

O plano conjunto prevê o estabelecimento de um Grupo de Consulta Nuclear, que irá supervisionar a reação em caso de um confronto com o Norte. “Nossos países concordaram em consultas presidenciais bilaterais imediatas em caso de ataque nuclear da Coreia do Norte, e prometeram responder decisivamente com toda a força da aliança, incluindo as armas nucleares americanas”, disse Yoon.

Segundo o Pentágono informou a repórteres, os EUA não irão estacionar ogivas atômicas no Sul, como ocorria na primeira Guerra Fria, e Seul se comprometerá a não desenvolver armas do tipo.

A medida visa dar um caráter defensivo à iniciativa, embora passos agressivos estejam previstos. O primeiro será tornar a Coreia do Sul um porto frequentes para submarinos de propulsão nuclear lançadores de mísseis balísticos dos EUA, algo que não acontece desde a Guerra Fria.

A ideia é deixar claro a Kim que os americanos irão empregar armas de destruição em massa caso o ditador faça o mesmo. Dissuasão à moda antiga, em resumo: os EUA têm o maior arsenal nuclear do mundo, ao lado da Rússia. Os EUA têm 28 mil soldados na Coreia do Sul.

Desde que Pyongyang acelerou seu regime de testes de mísseis, a rivalidade histórica entre os aliados americanos Coreia do Sul e Japão murchou, com Seul reconhecendo Tóquio como parceira comercial prioritária e com uma série de exercícios militares conjuntos dos países asiáticos com Washington.

Na semana passada, as três nações fizeram um exercício naval de abate de mísseis adversários. A Coreia do Norte chamou a iniciativa de provocação. No Indo-Pacífico, os EUA também têm investido em alianças contra a China como o Quad (com Japão, Índia e Austrália) e o pacto militar Aukus (com Austrália e Reino Unido).

Segundo o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, “[o acordo] irá sublinhar a aliança férrea entre os EUA e a Coreia do Sul, algo que claramente vai além da península em si”. A frase é a senha da inserção da questão no embate global com a China, que é com sua aliada Rússia o principal país a apoiar a Coreia do Norte. É uma aliança instável, dado o caráter mercurial do misto de imperador absolutista e ditador stalinista que é Kim, mas tem sido renovada no contexto da Guerra Fria 2.0.

Os chineses têm aumentado seu investimento em armas nucleares, puxando o aumento do estoque global de ogivas operacionais. Segundo o Pentágono, o plano de Pequim é passar das atuais 410 bombas para 1.500, mesmo nível de armas prontas para uso dos americanos e dos russos.

Kirby afirmou que haverá também uma ampliação na cooperação em outras áreas, como segurança cibernática, mudança climática e tecnologias sensíveis de armamentos.

A Coreia do Sul é ator central no estratégico mercado de semicondutores, em que Washington e Pequim estão em uma disputa acirrada. Empresas sul-coreanas estão entre as que produzem chips avançados, assim como as de Taiwan, a partir de patentes americanas.

A Ucrânia também será discutida, já que Yoon tem demonstrado interesse em fornecer armamentos para Kiev se defender da invasão russa.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/04/eua-e-coreia-do-sul-criam-grupo-para-enfrentar-norte-em-guerra-nuclear.shtml

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