Os EUA anunciaram nesta quarta (14) o envio de caças de quinta geração F-22 Raptor para bases no Oriente Médio devido “ao comportamento crescentemente inseguro e não profissional de aviões russos na região”.
O comunicado do Centcom (Comando Central das Forças Armadas dos EUA) é raro. Caças e bombardeiros respondem a ameaças em todo o mundo, mas em geral sem aviso prévio: é um ato de publicidade da insatisfação com Moscou em meio às tensões entre as duas maiores potências nucleares do mundo.
O pano de fundo, claro, é a Guerra da Ucrânia, que opõe as forças invasoras de Vladimir Putin às de Kiev, bancadas militarmente pelos EUA e seus aliados. Mas o fato de o cenário deste novo embate ser o Oriente Médio traz novas nuances à crise.
O comunicado é propositadamente vago. Não diz quantos F-22 foram deslocados, apenas que vieram da base americana de Langley, que opera cerca de 40 desses modelos, os mais poderosos do mundo. É presumível que eles estão na base de Al Udeid, no Qatar, que desde 2009 serve de centro de comando avançado da força conjunta, que tem sede na Flórida.
Mas nem isso é dito, e há outras bases na região usadas pelas forças americanas. O Centcom abarca 21 países sob sua área operacional, do Egito até o Cazaquistão. Os olhos para potenciais atritos estão, portanto, na Síria.
Em 2015, Putin interveio em favor da ditadura de Bashar al-Assad, que conseguiu se manter no poder no país em guerra civil desde 2012. Tem uma base aérea e outra naval no país árabe, projetando força na região. Em novembro, segundo o Pentágono, tentou abater um drone americano na região.
Os EUA não se envolveram totalmente no conflito, apoiando grupos anti-Assad e principalmente atacando bases do grupo terrorista Estado Islâmico na Síria. Para tanto, ainda mantêm cerca de mil soldados no país, que da virada do ano para cá passaram a ser alvos constantes de ataques de milícias ligadas ao Irã.
Teerã é adversária de Washington na região, além de ser aliada da Rússia. Ligando os pontos, a ação americana pode ser um recado direto a essa aliança e aos danos que os ataques iranianos têm causado aos americanos.
Mas não é só. Em março, a rede saudita Al Arabyia veiculou entrevista com o general do Centcom, na qual o militar dizia que os russos haviam violado 25 vezes o espaço aéreo de bases americanas na região, sem dizer quais eram.
Também em março, russos e americanos se estranharam de forma séria sobre o mar Negro, que não faz parte da jurisdição do Centcom. Um caça Su-27 russo acossou e acabou por atingir a hélice de um drone americano MQ-9 Reaper que fazia uma missão de espionagem sobre a região, próxima da Ucrânia conflagrada e da Rússia.
O drone acabou caindo. Houve acusações mútuas, mas o protocolo para evitar escaladas indesejadas prevaleceu, e ambas as partes deixaram o caso de lado. Agora, a demonstração de força dos EUA ao deslocar seu principal caça mostra outra determinação.
As acusações de pouco profissionalismo nas interceptações russas, assim como as de seus aliados chineses, são constantes entre forças ocidentais. Um caça russo quase derrubou um avião-espião britânico sobre o mar Negro no ano passado, e com bastante frequência há encontros perigosos do tipo na região do Báltico, do Ártico e do Pacífico.
No Oriente Médio, contudo, é novidade. A ação americana ocorre também enquanto Kiev lança sua contraofensiva para tentar retomar algo dos 20% de área que os russos ocupam, com bastante dificuldades até aqui.
“A violação regular das medidas acordadas de desconflito do espaço aéreo aumenta o risco de escalada ou erro de cálculo”, afirmou na nota o comandante do Centcom, general Michael Kurilla, repetindo o mantra de que está “comprometido a melhorar a segurança e a estabilidade da região”.
Os F-22 estão em operação desde 2005 e foram os primeiros caças da chamada quinta geração, que incorporam capacidades furtivas ao radar, de voo supersônico sustentado e alta fusão de dados, entre outras características. Quase 200 foram construídos. Têm hoje companhia do mais moderno, mas menos poderoso em termos de missão F-35 americano, e dos rivais J-20 chinês e Su-57 russo, dos quais há poucos dados públicos.