Conflito Israel-Palestina adiciona novos riscos à economia global

O conflito militar no Oriente Médio pode deixar os bancos centrais diante de novas pressões inflacionárias, assim como um abalo à confiança econômica, em um momento em que manifestavam esperança de conter o aumento dos preços desencadeado pela pandemia e pela invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. 

A chocante violência em Israel, que deixou centenas de mortos com a invasão de combatentes do grupo extremista armado Hamas e a resposta massiva de Israel, acrescentou o risco de um conflito mais generalizado no Oriente Médio ao sentimento de instabilidade mundial provocado pelas ações militares russas há quase 20 meses. 

O tamanho do impacto pode demorar algum tempo para ficar claro e dependerá da duração do conflito, de sua intensidade e se alastrará a outras partes da região. 

“É cedo demais para saber” quais serão as implicações, embora os mercados do petróleo e de ações possam sofrer consequências imediatas, disse Agustin Carstens, diretor-geral do Banco de Compensações Internacionais, numa apresentação à National Association for Business Economics. 

Mas a guerra tem o potencial de, no mínimo, adicionar um conjunto imprevisível de forças a uma economia mundial que já está em desaceleração e aos mercados americanos que ainda estão se acostumando com a probabilidade de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) manter as taxas de juro elevadas por mais tempo do que muitos investidores esperavam. 

“Qualquer fonte de incerteza econômica atrasa a tomada de decisões, aumenta os prêmios de risco e, especialmente no caso daquela região… existe muita apreensão sobre em que patamar o petróleo abrirá”, disse Carl Tannenbaum, economista-chefe do Northern Trust. 

Ele afirmou que “os mercados também vão acompanhar o aspecto dos cenários” e se, depois de décadas de instabilidade no Oriente Médio, este surto de violência evoluirá de maneira diferente. “A questão é: será que este novo conflito é algo que desmantelará o equilíbrio de longo prazo?” 

É muito provável que essa e outras questões sobre o mesmo assunto ocupem um lugar de destaque na agenda dos líderes financeiros mundiais que estarão esta semana no Marrocos para as reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial destinadas a fazer um balanço de uma economia mundial que continua em um profundo estado de incerteza desde a pandemia e o crescimento das tensões comerciais. 

Para os bancos centrais, isso apresenta o dilema de saber o que é mais provável: se levará a novas pressões inflacionárias – a região não apenas abriga grandes produtores de petróleo, como o Irã e a Arábia Saudita, mas também importantes rotas de transporte de carga marítimo através do Golfo de Suez – ou se significará um golpe tão forte para a confiança que a economia acabe por tropeçar. 

Autoridades do Fed citam os preços elevados recentes da energia como um possível risco para suas perspectivas de redução gradual da inflação, e também dizem que acham provável que a economia dos EUA evite uma recessão – se não houver nenhum tipo de choque externo inesperado. 

Com o conflito que está em curso neste momento em uma região produtora de petróleo importante, a reação entre os traders e os principais países, como o Irã e a Arábia Saudita, será acompanhada com muita atenção para saber se acontecerá outro salto nos preços, enquanto as operações nos mercados de bônus e ações dos próximos dias mostrarão como os mercados avaliam quais serão as consequências prováveis. 

“O conflito representa um risco de preços do petróleo mais elevados e de riscos tanto para a inflação como para as perspectivas de crescimento”, disse Karim Basta, economista-chefe da III Capital Management. O Fed terá de decidir se a maior preocupação são os preços mais altos ou o crescimento mais lento, acrescentou. 

As autoridades do Fed já acompanhavam um aumento recente nas taxas de retorno dos bônus do Tesouro dos EUA em busca de sinais de que os investidores pudessem ter forçado as condições financeiras além do necessário para esfriar a inflação e aumentado o risco de uma desaceleração econômica muito brusca. 

Na medida em que a guerra de Israel com o Hamas amplia as preocupações sobre a economia mundial, essa tendência poderá se inverter se o capital correr em direção à segurança relativa dos títulos do Tesouro americano, como acontece com frequência em momentos de possibilidade de crise. 

Em outras circunstâncias a queda das taxas de juro do mercado poderia ser vista como uma possível nova fonte de inflação, ao incentivar consumidores e empresas a contrair empréstimos e a gastar. O contexto atual pode levar a uma conclusão diferente, com ênfase nos riscos percebidos para a economia de uma nova guerra 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/10/08/conflito-israel-palestina-adiciona-novos-riscos-a-economia-global.ghtml

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