A China começou discretamente a isentar alguns produtos dos Estados Unidos de tarifas que provavelmente abrangem cerca de US$ 40 bilhões em importações, no que parece ser um esforço para amenizar o impacto da guerra comercial em sua própria economia.
Uma lista de produtos isentos dos EUA, abrangendo 131 itens, como produtos farmacêuticos e químicos industriais, circulou entre comerciantes e empresas na semana passada. Alguns desses produtos foram relatados anteriormente pela Bloomberg News.
Não se sabe ao certo de onde veio a lista e ela não foi confirmada oficialmente, mas pelo menos meia dúzia de empresas na China conseguiram trazer produtos da lista sem pagar tarifas, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto, que pediram para não serem identificadas por estarem discutindo informações confidenciais.
Os 131 itens valem cerca de US$ 40 bilhões, ou cerca de 24% das importações chinesas dos EUA em 2024, segundo cálculos da Bloomberg baseados em dados da alfândega da China.
A decisão ecoa as medidas tomadas pelo governo Trump para isentar smartphones e outros produtos eletrônicos de suas próprias tarifas “recíprocas”, incluindo as taxas de 145% cobradas da China. Essas isenções dos EUA se aplicam a cerca de US$ 102 bilhões, ou aproximadamente 22% das importações americanas da China no ano passado, de acordo com estimativas de Gerard DiPippo, diretor associado do RAND China Research Center.
A noção de que as isenções da China refletem em grande parte as isenções dos EUA sugere que se trata mais de um movimento estratégico para se equiparar às ações de Washington do que puramente um gesto de boa vontade. Isso também aponta para a prioridade de Pequim de proteger sua própria economia das consequências da guerra comercial.
“A China provavelmente está tentando mitigar os danos à sua economia, evitando um colapso nas principais importações”, disse DiPippo. “As isenções não devem ser interpretadas como um sinal para os EUA, pois a China tem sido discreta em relação às suas isenções, trabalhando por meio de canais comerciais e evitando declarações públicas.”
Há sinais preliminares de que o impasse comercial entre os EUA e a China pode estar mudando. O Ministério do Comércio da China disse nesta sexta-feira, 2, que está avaliando a possibilidade de negociações comerciais com os EUA, o que deu um impulso aos mercados acionários.
“Os EUA enviaram recentemente mensagens à China por meio de partes relevantes, na esperança de iniciar conversações com a China”, disse o ministério em um comunicado divulgado durante um feriado no continente. “A China está atualmente avaliando isso.”
As autoridades chinesas começaram a pedir às empresas estrangeiras, já na segunda semana de abril, que indicassem as importações dos EUA que são essenciais para suas operações e que não podem ser facilmente substituídas, disseram as pessoas. Desde então, alguns desses itens receberam isenções das tarifas de 125% impostas pela China sobre os produtos norte-americanos.
A lista de isenções é considerada dinâmica e será continuamente ajustada segundo as necessidades da China, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. Mais produtos podem ser adicionados, enquanto alguns podem ser removidos se a China conseguir encontrar substitutos, disse uma dessas pessoas.
A Administração Geral de Alfândega da China não respondeu a um pedido de comentário enviado por fax durante um feriado chinês.
A Bloomberg informou na semana passada que o governo chinês está considerando a possibilidade de suspender os impostos sobre determinados dispositivos médicos e produtos químicos industriais, como o etano. As autoridades também estão discutindo a isenção da tarifa sobre o leasing de aeronaves.
Embora os EUA importem muito mais da China do que o contrário, as isenções destacam as áreas em que Pequim ainda depende de produtos americanos. Por exemplo, a China é o maior fabricante de plásticos do mundo, mas algumas de suas fábricas dependem de etano — uma matéria-prima importada principalmente dos EUA.
A China já concedeu isenções a dois produtores nacionais de plástico que dependem muito do etano dos EUA, segundo a empresa de análise Vortexa
A guerra comercial atingiu duramente as duas economias. A atividade fabril da China sofreu sua maior contração desde dezembro de 2023, um sinal inicial da pressão das tarifas. Grandes bancos, incluindo o UBS e o Goldman Sachs, reduziram suas previsões para o crescimento da China no ano inteiro para cerca de 4% ou menos — bem abaixo da meta oficial de Pequim de cerca de 5%.
Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, em Xangai, disse que, embora não pudesse confirmar as isenções, elas não seriam surpreendentes. “As tarifas são uma espécie de autoflagelo”, disse ele. “E queremos controlar os danos o máximo que pudermos.”
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