China faz intervenção inédita no mercado de petróleo

A China fez uma intervenção sem precedentes no mercado global de petróleo, ao liberar pela primeira vez petróleo de sua reserva estratégica para venda, com o objetivo explícito de baixar os preços e conter a pressão inflacionária. 

A medida foi anunciada em um momento em que a China vive um aumento dos custos de energia não apenas do petróleo, mas também de carvão e gás natural, e escassez de energia elétrica em algumas províncias, o que obrigou algumas fábricas a cortar sua produção. A inflação também vem sendo uma dor de cabeça política para Pequim. Ontem, o governo informou que a inflação ao produtor subiu 9,5% ao ano em agosto, maior alta em 13 anos. 

Em um comunicado, a Administração Nacional de Alimentos e Reservas Estratégicas anunciou que o país utilizará suas gigantescas reservas de petróleo para “aliviar a pressão do aumento dos preços das matérias-primas”. A agência não deu mais detalhes, mas fontes familiarizadas com o assunto disseram que o comunicado se referia à oferta de milhões de barris feita pelo governo em meados de julho. 

Enquanto outros grandes importadores de petróleo, como os EUA, recorrem periodicamente às suas reservas nacionais durante interrupções no fornecimento ou para atender às necessidades orçamentárias, é a primeira vez que a China anuncia publicamente sua intenção de sacar seus estoques. 

Amrita Sen, da consultoria Energy Aspects, disse que no passado a China vendeu discretamente petróleo de suas reservas, mas agora parece querer usar seus estoques com mais frequência e de forma pública para tentar controlar a inflação. “Isso não é novo, mas o anúncio é novo e acho que é uma tentativa da parte deles de moderar os preços domésticos.” 

“À primeira vista, é um sinal bastante claro da intenção de usar reservas estratégicas para baixar os preços do petróleo para as refinarias do país”, disse Bob McNally, ex- assessor da Casa Branca e hoje na consultoria Rapidan Energy. 

Mas a medida também pode ser vista como uma advertência de Pequim aos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e países aliados – que tem enfrentado críticas por não elevarem a produção para conter a alta dos preços do petróleo enquanto a economia global tenta se recuperar da pandemia de covid-19.

Há um mês, a Casa Branca pediu publicamente aos membros da Opep que elevem a oferta em meio ao aumento dos preços da gasolina nos EUA. Juntas, as ações de Pequim e Washington sugerem que os dois maiores consumidores de energia do mundo consideram um preço entre US$ 70-75 por barril como o limite do aceitável. O furacão Ida também paralisou parte da produção de petróleo dos EUA, o que afetou o abastecimento da chinesa Unipec. 

O anúncio da China pesou nos preços do petróleo. Ontem, o Brent caiu 1,6% e fechou a US$ 71,45. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/09/10/china-faz-intervencao-inedita-no-mercado-de-petroleo.ghtml

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