China amplia participação em empresas privadas

A China está comprando participação em empresas privadas em um ritmo recorde, já que a guerra comercial, a desaceleração econômica e o aperto de crédito estão pressionando os empresários.
Esses investimentos marcam um retrocesso após décadas em que as empresas controladas pelo Estado perderam importância, o que fica claro em parâmetros como seu percentual na força de trabalho ou no controle de ativos. Como as estatais chinesas costumam ser menos eficientes e inovadoras que as empresas privadas, a onda de compras poderá levar a um novo recuo do crescimento do país.
As empresas privadas se encontram numa posição mais fraca pois comparativamente elas têm um acesso menor a empréstimos bancários mais baratos e outros tipos de financiamentos. Elas também estão sendo pressionadas pelas medidas de Pequim para reduzir a poluição e o excesso de produção.
Mas, embora o presidente Xi Jinping tenha centralizado o controle mais do que seus antecessores, as aquisições parecem estar sendo motivadas pelo desejo de manter a estabilidade, não sendo uma estratégia deliberada para enfraquecer o setor privado. Em outubro, Xi tentou tranquilizar o empresariado dizendo: “Qualquer palavra ou ato de negar ou enfraquecer a economia privada estão errados”.
No total, os compradores apoiados pelo Estado adquiriram 47 participações em empresas privadas de capital aberto de janeiro até junho, segundo a agência Fitch Ratings. Isso se compara a 52 negócios em todo o ano de 2018.
Os números incluem aquisições por empresas estatais e veículos de investimentos de governos locais, e o tamanho das participações vai de menos de 1% a 100%.
Este ano como um todo deverá estabelecer um recorde, segundo Jing Yang, analista da Fitch em Xangai. “A maioria dessas compras de participações precisa ser entendida do ponto de vista do alívio de estresse financeiro”, diz ela.
Os números da Fitch provavelmente não captam a dimensão total do aumento do envolvimento do Estado na economia. Desde outubro de 2018, autoridades locais e entidades ligadas ao governo criaram um “fundo de alívio” de cerca de US$ 100 bilhões para ajudar empresas privadas, segundo estimativa de janeiro da TF Securities.
Esses recursos são voltados principalmente para investimentos passivos, enquanto que as empresas controladas pelo Estado têm uma probabilidade maior de fazer investimentos ativos quando compram empresas não estatais.
A TF disse que esses recursos podem ser usados em vários tipos de negócio, como compra de ações, concessão de crédito, swaps de dívida por participação e compra de posições em ações de acionistas dadas como garantia em empréstimos. Nem todos esses negócios aparecem nos dados de fusões.
As autoridades estão agindo pois não conseguiram persuadir os bancos a ampliar o crédito a empresas privadas de maior risco, segundo Andrew Collier, diretor-gerente da Orient Capital Research. “Pequim está intervindo porque eles estão preocupados com o forte aumento no desemprego.”

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/10/03/china-amplia-participacao-em-empresas-privadas.ghtml

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