A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, foi forçada a admitir ontem que, seja qual for a forma do Brexit, o país ficará em situação pior e que o acordo que ela negociou com a União Europeia servirá apenas para amenizar os danos econômicos do processo de divórcio com a UE.
Economistas do governo britânico calcularam que a economia do Reino Unido estará 3,9% pior num período de 15 anos do que se o país tivesse permanecido na UE, isso na improvável eventualidade da aprovação pelo Parlamento no mês que vem do acordo negociado por May.
Eles concluíram que praticamente não há nenhuma vantagem para o Reino Unido em ter uma política comercial independente – uma das maiores “vitórias” do Brexit segundo os conservadores eurocéticos – e que os migrantes da UE ajudaram na prosperidade do povo britânico – ou seja, não há ganho evidente em barrar essa migração de outros países europeus.
Outra constatação é que as finanças públicas também seriam significativamente melhores se o Reino Unido permanecesse na UE.
Essas conclusões dificultaram a intenção da premiê de usar os cálculos do governo para destacar a visão oficial de que seu acordo negociado com a UE para o Brexit é muito melhor economicamente do que simplesmente sair bruscamente do bloco sem nenhum acerto ou transição.
O Banco da Inglaterra (BoE, o banco central britânico) foi compelido na tarde de ontem a fazer uma descrição assustadora do “pior cenário” representado pela saída da UE sem nenhum acordo.
O presidente do BOE, Mark Carney, disse que o acordo negociado por May deixará economia britânica até 3,75% “menor do que seria o caso se ela tivesse continuado crescendo no ritmo anterior ao plebiscito de maio de 2016”, que decidiu pela saída do país do bloco europeu.
A análise do BoE constatou que sair da UE sem nenhum acordo levaria a economia britânica a registrar a maior contração desde a Segunda Guerra Mundial, com uma queda de até 10,5% num período de cinco anos – maior que a da crise financeira a partir de 2008, na qual o PIB britânico encolheu 6,25%. Os preços das moradias poderiam cair 30%, segundo o Banco da Inglaterra.
“É algo incomum o Banco da Inglaterra denegrir a libra, e isso mostra a incapacidade do governo de entender o seu papel”, disse Jacob Rees-Mogg, líder da ala mais linha-dura do Partido Conservador na defesa do Brexit. “Ele não está nem aí para criar pânico.”
Embora as avaliações do plano negociado por May tenham sido bem menos lúgubres, elas ainda estimam que a economia do Reino Unido estaria 3,9% pior com base nesse cenário, o mais próximo do acordo de May, que limita a migração europeia e impõe algumas barreiras comerciais.
Segundo autoridades um princípio básico é que barreiras comerciais maiores com a UE depois do Brexit resultarão em custos econômicos maiores.
Em pronunciamento aos parlamentares, May admitiu que seu acordo trará alguns problemas em comparação à atual posição do Reino Unido, mas ela defende sua posição de que essa é a melhor maneira de seguir em frente.
“O que a análise mostra é que esse acordo que negociamos é o melhor para os nossos empregos e nossa economia e atende aos resultados do plebiscito”, disse ela.
A essas perspectivas econômicas fracas acrescenta-se o ambiente político pesado. Philip Hammond, o ministro das Finanças do Reino Unido, reconheceu publicamente que o acordo de May poderá ser derrotada na votação de 11 de dezembro no Parlamento britânico e que outras opções poderão ter de ser consideradas.
“Acho que a primeira-ministra vai querer se sentar com o gabinete e avaliar isso”, disse ele ao ser questionado se a premiê terá de renunciar se perder essa votação sobre o seu acordo com a UE para o Brexit. “Ela terá de considerar o que aconteceu no Parlamento. Teremos avaliar o que foi a votação no Parlamento, quem votou como, se outras ideias estavam surgindo.”
Amber Rudd, ministra do Trabalho e da Previdência, veiculou a ideia de uma “guinada para a Noruega” se o acordo proposto por May for rejeitado. Isso significa copiar a relação da Noruega com a UE, o que significaria um Brexit mais brando, que incluiria a participação no mercado único europeu e provavelmente a associação à união alfandegária da UE. Esse plano poderia ganhar o apoio interpartidário dos parlamentares favoráveis à UE.
A avaliação econômica mostrou que não haveria custo econômico em um acordo como o da Noruega, que inclua uma união alfandegária. A Noruega não faz parte da UE, mas participa do mercado único europeu.
Entretanto, os parlamentares pró-UE se mostram cada vez mais confiantes de que May poderá acabar sendo forçada a realizar um segundo plebiscito sobre o Brexit se o Parlamento não for capaz de apoiar nenhuma forma de saída. Isso significaria que o país poderia desistir de deixar a UE.
John McDonnell, o encarregado de finanças do Partido Trabalhista (de oposição), prevê que outro plebiscito será “inevitável” se o acordo de May for rejeitado no Parlamento e que é impossível forçar uma eleição geral. Um porta-voz do partido insistiu posteriormente que “várias opções de caminho poderão ser consideradas”.
Tony Blair, ex-premiê trabalhista, disse em um seminário sobre o Brexit promovido pelo “Financial Times”: “Haverá um impasse. No fim, a única maneira de resolver isso será realizar outra votação”.