BC da Suíça põe fim à era das taxas de juros negativas na Europa

Depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter colocado fim ao juro negativo no último dia 14 de setembro, ontem foi a vez de o Banco Nacional da Suíça (SNB) encerrar tal movimento. A autoridade monetária, comandada por Thomas Jordan, elevou a sua taxa de referência acima de zero pela primeira vez desde 2015, atingindo o patamar de 0,50%. Com o movimento de ontem, a cultura da taxa negativa na Europa chega ao fim, em meio a um período de inflação forte e consistente na região.

“Ainda que a inflação na Suíça esteja bem abaixo da observada nos países vizinhos, a elevação dos preços está acima da meta do banco central do país, e isso justifica o aumento dos juros, os levando para território positivo”, disse Charlotte de Montpellier, economista sênior do banco holandês ING. 

A adoção do juros negativos na história dos bancos centrais começou no início da última década, em meio à inflação muito baixa nos países. Temendo efeitos deflacionários dos preços, o BCE decidiu reduzir suas taxas em 2011. Isso, porém, afetou países vizinhos, com outras moedas. Assim, a primeira experiência de juro negativo foi registrada em julho de 2012 pelo banco central da Dinamarca, quando a autoridade monetária do país escandinavo resolveu colocar sua taxa de depósito em -0,2%. Como mostra documento divulgado à época, a medida foi mais uma forma de parear a coroa com o euro do que evitar deflação. 

“A taxa de juro negativa dos certificados de depósito foi fixada unicamente tendo em consideração a manutenção da política de taxa de câmbio fixa da Dinamarca. A política de câmbio fixo implica que a política monetária seja definida com o objetivo de estabilizar a coroa em relação ao euro”, afirmou à época o Banco Nacional da Dinamarca.

O juro de depósito ficou negativo por quase dois anos na Dinamarca, até que em abril de 2014 voltou ao território positivo. O movimento, no entanto, não durou muito, e foi revertido para negativo novamente em setembro do mesmo ano, permanecendo assim por oito anos.

Há duas semanas, o Banco Nacional da Dinamarca anunciou o fim da era de juro negativo no país. Mais uma vez, a preocupação maior do BC dinamarquês foi garantir a paridade cambial da coroa com o euro.

“O aumento da taxa de juros se deve ao fato de o BCE ter aumentado suas taxas em 0,75 ponto percentual”, afirmou a autoridade monetária da Dinamarca. “Assim, o spread da taxa de juros da política monetária é mantido inalterado.” A justificativa da paridade não quer dizer, porém, que a inflação da Dinamarca esteja baixa. De acordo com os dados de agosto, o CPI acumulado em 12 meses registrou avanço de 8,9%, na maior alta desde fevereiro de 1983.

Ainda que a Dinamarca acompanhe o BCE, a adoção da taxa negativa pelo banco central da zona do euro só veio em junho de 2014. À época, a autoridade derrubou a -0,10% sua taxa de depósito, que foi ano após ano ficando ainda mais negativa, até atingir -0,5% em 2019.  Com a inflação no acumulado de 12 meses batendo recorde em 2022 (com o CPI chegando a 9,1% em agosto), o BCE decidiu abandonar o juro negativo neste ano, levando a taxa de depósito para o espaço neutro no fim de julho e trazendo para terreno positivo na semana passada.

Já em relação aos bancos centrais da Suécia e da Suíça, ambos adotaram a taxa negativa de juros no início de 2015. No caso do primeiro, a medida foi abandonada já no início de 2020, ainda antes da pandemia, quando a taxa foi para território neutro. O juro passou para terreno positivo em maio deste ano. No caso da Suíça, com a decisão de ontem, o juro não chegou a ficar neutro, saindo de -0,25% para 0,50%.

Mesmo que pareça um aumento forte, de 0,75 ponto, para uma economia que não está com a inflação tão elevada, a economista do ING lembra que o BC da Suíça tem um cronograma diferente do que há nos Estados Unidos ou na zona do euro. “O Banco Nacional da Suíça se reúne só uma vez por trimestre. Isso quer dizer que o próximo encontro ocorrerá apenas em dezembro. Enquanto isso, o BCE e o Federal Reserve devem se encontrar mais uma vez antes do fim do ano”, afirmou.

O Banco Nacional da Suíça não descarta novos aumentos nas taxas de juros para atingir a estabilidade de preços, apontaram os economistas do Wells Fargo Jessica Guo e Nick Bennenbroek, em relatório. “Além disso, o banco central continua a monitorar de perto a taxa de câmbio do franco, dado que a força da moeda tem sido um fator para ajudar a atenuar as pressões inflacionárias.”

Se a cultura do juro negativo chegou ao fim na Europa, na Ásia o movimento ainda segue intacto. Também ontem, o banco central do Japão (BoJ, na sigla em inglês) decidiu manter as taxas de juros de curto prazo em -0,1%. A decisão confirmou mais uma vez a divergência de política monetária entre o país asiático e outras grandes economias, o que aumentou a pressão do dólar sobre o iene, que já se encontra em patamar bastante desvalorizado em relação ao dólar.

Após o anúncio do BoJ, a divisa japonesa caiu para o patamar mais baixo em 24 anos. O movimento, no entanto, foi revertido, ainda que

de forma artificial. Isso porque autoridades japonesas intervieram no mercado de câmbio para evitar maior desvalorização. Foi a primeira interferência desde 1998.

https://valor.globo.com/financas/noticia/2022/09/23/bc-da-suica-poe-fim-a-era-das-taxas-de-juros-negativas-na-europa.ghtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação